Vídeo inventa tradução em pronunciamento de Xi Jinping para simular apoio a Lula e Moraes
POSTAGEM MANIPULA GRAVAÇÃO DE MENSAGEM DE ANO NOVO DO LÍDER CHINÊS; VÍDEO ORIGINAL NÃO CONTÉM QUALQUER MENÇÃO AO BRASIL OU A AUTORIDADES BRASILEIRAS
O que estão compartilhando: que o presidente da China, Xi Jinping, teria gravado um pronunciamento em que manifesta solidariedade ao presidente Lula e ao Supremo Tribunal Federal (STF), citando o ministro Alexandre de Moraes nominalmente, contra "as graves e inadmissíveis ameaças do presidente americano (Donald Trump)".
O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é falso. A tradução da fala de Xi Jinping está errada. No vídeo original, o presidente chinês se dirige à nação de seu país em uma mensagem de ano novo, na virada de 2024 para 2025. A gravação é anterior à imposição do governo norte-americano de tarifas às exportações brasileiras e de sanção a autoridades do STF.
Saiba mais: postado há quatro dias no YouTube, o vídeo atingiu cerca de 470 mil visualizações. A imagem mostra Xi Jinping durante um pronunciamento diante das câmeras. Há uma suposta tradução simultânea com voz gerada por inteligência artificial.
De acordo com ela, o líder chinês teria dito: "Gostaria de saudar o povo brasileiro, e em especial o presidente Lula, e manifestar a solidariedade do povo chinês contra as graves e inadmissíveis ameaças do presidente americano contra as autoridades do Supremo Tribunal Federal, na figura do ministro Alexandre de Moraes, e na aplicação de sanções injustas contra a economia do Brasil".
Xi Jinping ainda teria tido que "a China e todos os países do Brics estamos ao lado do Brasil, e iremos às últimas consequências, se preciso for, para proteger os direitos e a soberania do povo brasileiro". No entanto, a tradução é inventada.
Por meio de uma busca reversa de imagens (veja como usar aqui), foi possível localizar o vídeo original: trata-se da mensagem de ano novo divulgada pelo presidente chinês em 31 de dezembro de 2024, que está disponível no perfil do Facebook do Consulado Geral da China em São Paulo.
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Ao comprar a gravação original com a versão manipulada, percebem-se os mesmos elementos: a bandeira chinesa no lado esquerdo da imagem, um quadro que mostra a Muralha da China atrás de Xi Jinping e os detalhes da roupa - um terno azul escuro, camisa branca por baixo e gravata na cor vinho.
Na versão manipulada, ouve-se a voz de Xi Jinping em segundo plano. Por meio de padrões sonoros do idioma chinês, foi possível identificar o mesmo momento do vídeo, tanto na gravação original quanto na versão manipulada, que insere as bandeiras do Brasil e da China no alto da tela. Na comparação abaixo, é possível ver, por exemplo, a mesma fisionomia do líder chinês e o mesmo posicionamento do seu ombro direito à frente da bandeira (sinalizado em verde).
A gravação original antecede a imposição de tarifas de 50% do governo americano às exportações do Brasil, anunciada em 9 de julho. Por tratar-se de uma mensagem de réveillon, na virada de 2024 para 2025, Xi Jinping faz um balanço do ano que passou, e cita avanços na economia, participações da China em eventos bi ou multilaterais e destaque nas Olimpíadas de 2024, entre outros temas, como mostra a tradução em português do pronunciamento. Não há qualquer menção ao Brasil, a Lula ou ao STF.
Não registro de pronunciamento de Xi Jinping em apoio ao Brasil
Apesar de o governo chinês ter manifestado apoio ao Brasil diante das tarifas impostas pelos EUA, não há registro de pronunciamento de Xi Jinping tratando diretamente sobre o tema.
Em 6 de agosto, o governo chinês divulgou uma nota em apoio ao Brasil, após contato telefônico entre o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, e o assessor especial da Presidência da República do Brasil, Celso Amorim.
Diz o comunicado: "a China apoia resolutamente o Brasil na defesa de sua soberania estatal e dignidade nacional, e se opõe à interferência infundada de forças externas nos assuntos internos do Brasil. A China apoia firmemente o Brasil na proteção de seus direitos e interesses de desenvolvimento e na resistência às práticas intimidatórias de tarifas arbitrárias".
Dois dias depois, em reunião virtual do Brics, grupo que reúne 11 países emergentes, Xi Jinping fez críticas à postura de Trump no cenário econômico internacional, mas em tom moderado e de forma indireta, segundo cobertura da BBC Brasil.