Vídeo de indígena pintando rosto de executivos não foi gravado na COP-30
PROTESTO OCORREU EM 2024 DURANTE SEMINÁRIO SOBRE PROJETO DA FERROGRÃO
O que estão compartilhando: que um indígena teria pintado o rosto de estrangeiros durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP-30) e que a imprensa teria ocultado o ocorrido.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. As imagens não foram registradas durante a COP-30. O episódio ocorreu em maio de 2024 em Santarém (PA), durante o Seminário Técnico que discutia a Ferrogrão, projeto de uma ferrovia ligando Sinop (MT) e o Porto de Miritituba, no município de Itaituba (PA). As imagens viralizaram nas redes sociais e o caso foi noticiado pela imprensa.
Saiba mais: A cidade de Belém recebeu, até a última sexta-feira, 21, a COP-30, evento de caráter internacional para discutir mudanças climáticas. Houve mais de um protesto de povos indígenas no evento. Diferentemente do que alegam diversas publicações que viralizaram nas redes sociais, as manifestações foram cobertas pela imprensa.
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Protesto ocorreu em maio de 2024
A cena em que um homem indígena aparece pintando o rosto de outros homens em um evento foi registrada em maio de 2024 em Santarém, no Pará. Na ocasião, a cidade recebia um seminário técnico para discutir o projeto da ferrovia batizada de Ferrogrão, ligando Sinop, no Mato Grosso, ao porto de Miritituba, no Pará.
Para identificar quando e onde o protesto ocorreu, o Verifica buscou pelos termos que aparecem em uma faixa laranja fixada na parede ao fundo: "Pelos povos que residem no Tapajós, Ferrogrão não!". O resultado levou a uma reportagem do G1 Santarém e Região publicada em 8 de maio de 2024, que mostra o mesmo vídeo.
Quem aparece nas imagens pintando o rosto de homens sentados em uma sala é a liderança indígena Naldinho Kumaruara, da aldeia Solimões. Ele usou urucum para pintar os rostos de representantes do governo e de instituições que apoiavam o projeto da Ferrogrão.
As imagens foram feitas por João Guilherme Kumaruara e postadas na conta do Instagram Tapajós de Fato em 7 de maio de 2024:
Indígenas apontam impacto ambiental da ferrovia
Para os indígenas da região, o impacto do empreendimento afeta diretamente comunidades indígenas, na medida em que abre uma área de 900 mil hectares entre o Mato Grosso e o Pará. Já representantes do agronegócio dizem que o projeto é essencial para escoar a produção agrícola.
Segundo dados do projeto disponíveis no site da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o projeto prevê que a ferrovia tenha 933 quilômetros de extensão e investimento previsto de R$ 25,2 bilhões, além de custo operacional de R$ 49,25 bilhões.
Os estudos, contudo, foram suspensos em 2021 por questões ambientais. Agora, o caso está em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Em outubro, a Corte suspendeu o julgamento de uma norma que alterava os limites do Parque Nacional do Jamanxim, uma reserva no Pará, para comportar os trilhos da Ferrogrão. A suspensão ocorreu após um pedido de vista do ministro Flávio Dino.
Quando o julgamento foi suspenso, o placar pela liberação do projeto da ferrovia estava em 2x0, com votos dos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.