Trump não determinou bloqueio do GPS no Brasil; medida seria inviável, segundo especialistas
PESQUISADORES ESCLARECEM QUE DEGRADAÇÃO DO SINAL NO BRASIL PODERIA AFETAR REGIÕES VIZINHAS; OUTRAS TÉCNICAS SÃO USADAS EM SITUAÇÕES DE GUERRA
O que estão compartilhando: postagem sugere que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teria determinado o fechamento do espaço aéreo para aeronaves brasileiras e o corte do sistema de GPS no Brasil.
O Estadão Verifica checou e concluiu que: é enganoso. Não houve até o momento determinação de Trump para proibir voos do Brasil aos Estados Unidos ou interromper o sinal de GPS no País. Especialistas explicaram que bloquear o sistema de posicionamento apenas no território brasileiro seria complexo, podendo afetar países vizinhos. Além disso, outras técnicas de perturbação do sinal, feitas em solo ou no espaço aéreo, seriam interpretados como atos de guerra ou terrorismo.
Saiba mais: Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro disseram que, nesta semana, Trump cogita aumentar as sanções contra o Brasil. As informações foram publicadas pela Folha de S. Paulo e pela CNN Brasil.
Segundo as fontes ouvidas pelos jornais, os EUA poderiam aumentar as tarifas para produtos importados de 50% para 100%, implementar a Lei Magnitsky contra autoridades brasileiras e adotar sanções em conjunto com a Otan, além de bloquear o uso do GPS.
Especialistas ouvidos pelo Verifica explicaram que técnicas usadas para interromper ou degradar o sinal em uma região específica não é uma tarefa simples. Veja abaixo como funciona o GPS e as possibilidades para um bloqueio apenas no território brasileiro.
O que é o GPS?
Sigla para Sistema de Posicionamento Global (Global Positioning System, em inglês), o GPS é uma navegação por satélite que fornece informações de localização em qualquer lugar do mundo, 24 horas por dia. O seu funcionamento depende de 24 satélites que estão em órbita ao redor do planeta e transmitem sinais de rádio captados por aparelhos eletrônicos, como smartphones, veículos e outros.
O cálculo para identificar onde um aparelho está na Terra é feito em relação à distância de três satélites GPS. Juntando os dados, as coordenadas (latitude e longitude) e a altitude são determinadas de qualquer ponto na superfície terrestre.
Ele é usado por pessoas comuns em mapas, navegação e serviços, por exemplo o Google Maps, e até mesmo para monitoramento, como nas tornozeleiras eletrônicas. Além disso, também é importante para aviação comercial e particular, transporte terrestre, rodoviário, ferroviário e marítimo ou fins militares.
O GPS é propriedade do governo dos Estados Unidos e foi criado pelo Departamento de Defesa americano no final do século 20. Originalmente, sua função era militar para aumentar a precisão na navegação e direcionamento de armas no contexto da Guerra Fria. Atualmente, o GPS é amplamente usado por países do mundo, porém há nações que possuem sistemas próprios.
Os EUA poderiam bloquear o GPS só no Brasil?
O professor Felipe Geremia Nievinski, do Departamento de Geodésia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que as técnicas para bloquear o sistema são, geralmente, usadas em situações de guerra. "Não vejo esse risco de imediato como consequência do embate comercial, porque não há declaração de guerra entre as duas nações", apontou.
Para impedir o uso GPS no Brasil não seria possível desligar todo o sistema, e sim degradar o sinal apenas no território. De acordo com o pesquisador Petrônio Noronha de Souza, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), "isso significa que a precisão de localização de um objeto na superfície da Terra seria piorada", disse.
Interromper o sistema apenas em uma região específica não é, no entanto, uma tarefa simples, já que o GPS é constituído por dezenas de satélites operando em órbitas distintas. "Países vizinhos teriam seu sinal também comprometido, pela impossibilidade de estabelecer uma fronteira perfeita de comutação do sinal de um modo normal para o degradado, e vice-versa", explicou Souza.
Também há a possibilidade de perturbar os sinais do sistema por meio de transmissões de alta potência na mesma frequência do GPS, usando a técnica de jamming. Neste caso, seria necessário instalar um dispositivo de maneira internacional, em solo ou no espaço aéreo do Brasil.
"Obviamente as autoridades brasileiras não permitiram isso, e se fosse feito de forma clandestina, poderia ser interpretado como um ato de guerra, ou terrorismo", avaliou o pesquisador no INPE. "O sinal também poderia ser produzido a partir de uma nação vizinha, mas isso geraria um grave problema diplomático com elas. Logo, acho pouco provável", acrescentou.
O professor Nievinski aponta que ainda existe uma técnica mais perigosa, chamada spoofing, que consiste em enganar o receptor. Ela imita sinais de satélite verdadeiros e os substitui, indicando uma localização incorreta. "Esse recurso já foi usado pelos iranianos contra os americanos em guerra, por exemplo", disse.
Existem alternativas ao GPS?
Segundo o especialista Nievinski, "as nações hoje em dia são dependentes do GPS, até o próprio Estados Unidos". Ele ressalta que, apesar de existirem alternativas em outros países, os equipamentos comerciais geralmente funcionam com GPS, além de duas ou três alternativas, mas provavelmente enfrentariam problemas.
Existem sistemas como GLONASS da Rússia, o BeiDou da China e o Galileo da União Europeia. Além disso, há o indiano NavIC e o QZSS, no Japão. Recentemente, o governo brasileiro criou um grupo para estudar a possibilidade de desenvolver o sistema brasileiro de posição, navegação e tempo (PNT).
Apesar de existirem opções, o uso deles depende da aptidão dos aparelhos, como celulares, veículos, que estão em solo para receber e processar esses sinais.
"Há sistemas que produzem sinais de localização de forma redundante ao do GPS, ou que permitem localização mais precisa. A navegação aérea, por exemplo, utiliza em regiões de aeroportos para garantir que as aeronaves nunca fiquem sem orientação", explicou Souza.
"No entanto, eles só existem em locais específicos. Não haveria como distribuí-los em todo o território nacional, nem mesmo em umas poucas regiões mais populosas", disse.
Crise entre Brasil e EUA
O governo de Trump revogou os vistos de ministros do STF e de seus familiares na última sexta-feira, 19. A decisão ocorreu horas depois de o ministro Alexandre de Moraes determinar o uso de tornozeleira eletrônica e restrições ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A medida do magistrado é em resposta a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). A Polícia Federal (PF) investiga se houve tentativa, por parte do ex-presidente, de coagir o Supremo com sanções americanas, com o objetivo de reverter o julgamento no qual Bolsonaro é réu por tentativa de golpe de Estado.
Em 9 de julho, o presidente dos Estados Unidos já havia imposto a tarifa de 50% aos produtos importados do Brasil. Trump justificou que a taxação ocorreu devido ao tratamento dado pelas autoridades brasileiras a Bolsonaro, que definiu como "caça às bruxas", e às decisões do STF contra empresas americanas de tecnologia.
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