É falso que Índia tenha anunciado que vai sair dos Brics
PAÍS ASIÁTICO TENTA FICAR DE FORA DO FOCO TARIFÁRIO DE DONALD TRUMP, MAS NÃO INDICOU DESEJO DE SE AFASTAR DA ESFERA DECISIVA DOS PAÍSES EMERGENTES
O que estão compartilhando: vídeo em que um homem alega que a Índia teria saído do Brics. Ele fala que isso seria uma prova de que o Brasil estaria ficando isolado no cenário internacional, após o presidente Donald Trump taxar os produtos brasileiros. Em situação diferente à do Brasil, alega que a China teria fechado acordo com os Estados Unidos.
O Estadão Verifica checou e concluiu que: é falso. A Índia continua participando das iniciativas do bloco e assumirá a presidência em 2026. Um instituto independente que acompanha as atividades do grupo de países também negou a informação. O Verifica solicitou ao autor do conteúdo a fonte da alegação, mas não obteve resposta.
Saiba mais: Um homem gravou um vídeo dizendo que a Índia saiu do Brics, bloco formado originalmente com o Brasil, Rússia, China e África do Sul e que hoje conta com 11 países-membros e 10 países-parceiros. Sem dizer a fonte da informação, o autor do conteúdo afirma que o rompimento aconteceu após um acordo entre Estados Unidos e o governo chinês. Ele sugere que isso teria relação com a crise entre os presidentes Donald Trump e Lula, que veio à tona após o líder estadunidense anunciar, em 9 de julho, tarifas de 50% sobre produtos importados do Brasil, com início a partir de 1º de agosto. Ele conclui que o Brasil está cada vez mais isolado no cenário internacional. O vídeo acumula mais de 778 mil visualizações no Instagram.
Índia não saiu do Brics
Em mensagem enviada ao Verifica, o Brics negou que o governo indiano abandonou o bloco e classificou o vídeo que viralizou no Instagram como falso.
O Brics reiterou ainda que, segundo o calendário rotativo já acordado pelos Estados-membros, a Índia assumirá a próxima presidência do bloco, em 2026. Desde 1º de janeiro de 2025, o Brasil lidera o grupo. A duração do mandato é de um ano e se encerrará em 31 de dezembro de 2025.
No perfil do Instagram do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, não há qualquer menção a uma suposta saída do Brics. Pelo contrário, em publicação recente, ele relatou que a vinda ao Brasil para participar da cúpula do grupo foi muito produtiva.
Instituto nega informação
Quem também disse que as informações do vídeo não são verdadeiras foi o Instituto de Intercâmbio Cultural e Desenvolvimento Econômico dos Países do BRICS+ (iBRICS+), uma instituição sem fins lucrativos que acompanha as movimentações do bloco.
"Com base em fontes diplomáticas oficiais tanto no Brasil quanto na Índia, não há qualquer indício de que a Índia tenha deixado, ou cogite deixar, o Brics", diz a nota enviada ao Verifica.
O instituto destacou que desde a Cúpula de Joanesburgo, realizada em agosto de 2023, mais de 40 países manifestaram interesse formal em aderir ao Brics+. AO menor 22 "apresentaram pedidos oficiais de ingresso".
Taxações de Donald Trump
O autor do vídeo viral cita a crise entre Lula e Donald Trump, instalada após os Estados Unidos anunciarem tarifas de 50% sobre produtos importados do Brasil. A decisão foi justificada principalmente como resposta ao tratamento dado pelo Brasil ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra empresas americanas de tecnologia. O anúncio do republicano foi feito dois dias após o fim da cúpula dos Brics, realizada no Rio de Janeiro.
O governo federal criou um comitê para discutir com o setor produtivo ações de proteção ao Brasil frente a este novo cenário. Empresários brasileiros devem entrar em contato com seus parceiros americanos para solicitar que eles intercedam pelo País junto a Donald Trump.
A alíquota de 50% aos produtos brasileiros é a mais alta estipulada pelo presidente norte-americano. Os chineses, rivais históricos dos Estados Unidos, receberam taxa de 30%. Inicialmente Trump anunciou uma taxa de 145%, mas voltou atrás.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Mao Ning, criticou a decisão do presidente dos Estados Unidos contra o Brasil.
Com relação aos demais países do Brics, Trump disse, na semana passada, que quem já está no bloco será taxado em breve com uma tarifa de 10%. Matéria publicada pela agência de notícias Bloomberg informa que Modi tem buscado não desafiar o domínio global dos Estados Unidos para tentar escapar das tarifas impostas por Trump.
Brics em expansão
Quando a primeira cúpula foi realizada em 2009, o bloco era formado por Brasil, Rússia, Índia e China (Bric). A África do Sul entrou no ano seguinte, e a sigla ganhou o S de South Africa, virando Brics.
O termo Brics+ se refere à formatação atual do grupo, que, desde 2024, possui 10 membros. São eles:
BrasilRússiaÍndiaChinaÁfrica do SulEgitoEmirados Árabes UnidosEtiópiaIrãIndonésia
A Arábia Saudita foi convidada a integrar o grupo durante a Cúpula de Joanesburgo, em 2023, e consta como membro na Nota Conceitual "Presidência do Brasil - BRICS 2025". No entanto, o Reino ainda não formalizou sua entrada, segundo o Brics Policy Center, um think tank vinculado ao Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (IRI/PUC-Rio).
Além dos países membros, desde o ano passado existe a categoria "País Parceiro do Brics". O Brics Policy Center explica que nessa categoria a participação é limitada e não há direito a voto. Em 2025, nove países obtiveram esse status:
BelarusBolíviaCazaquistãoCubaMalásiaNigériaTailândiaUgandaUzbequistão.
O objetivo do Brics é formar uma coalizão com as principais economias emergentes do mundo para ampliar a cooperação econômica e o desenvolvimento.
A cúpula mais recente do grupo foi realizada no início do mês, na cidade do Rio de Janeiro, e contou com a presença de mais de 30 autoridades mundiais.
O Verifica encontrou em contato com as embaixadas da Índia, China e Estados Unidos. As duas primeiras não responderam. A última preferiu não comentar o teor do vídeo.