É falso que FDA tenha publicado texto associando vacinas de mRNA a coágulos que duram 15 anos
AGÊNCIA AMERICANA DE REGULAÇÃO SANITÁRIA NÃO FEZ ALERTA SOBRE IMUNIZANTES
O que estão compartilhando: que a Food and Drug Administration (FDA), agência federal regulatória dos Estados Unidos, teria admitido que pessoas vacinadas com mRNA contra a covid-19 podem ter coágulos sanguíneos até 15 anos após a imunização.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A FDA não publicou um texto ligando vacinas com tecnologia de RNA mensageiro a coágulos que duram até 15 anos. Na realidade, seria impossível fazer essa ligação, já que não existe um histórico de 15 anos de uso de vacina contra a covid-19, como destacou um especialista em Hematologia ouvido pela reportagem.
O autor do post foi procurado, mas não respondeu até a publicação deste texto.
O biomédico Raphael Rangel, especialista em Hematologia, explica que não é realista prever em um estudo científico reações adversas para daqui a 15 anos. Primeiramente, depois de tanto tempo, não faria sentido ligar o efeito colateral à vacinação.
Outro problema apontado pelo especialista é do ponto de vista da regulação. As agências de vigilância sanitária analisam evidências científicas para aprovar as vacinas para uso no público. Como parte do processo de aprovação, os efeitos colaterais encontrados em estudos devem estar listados na bula do imunizante. Não seria possível incluir um efeito que pode acontecer em 15 anos.
"Essa é uma afirmação que não faz sentido", disse Rangel. "Ela busca única e exclusivamente gerar desconfiança no trabalho científico e desencorajar as pessoas a se vacinarem".
Radicais livres não fazem o sangue ficar mais espesso
O autor do vídeo afirma que, ao receber uma vacina da mRNA, o corpo passaria a produzir a proteína Spike, que deixaria o organismo inflamado. Isso faria com que o vacinado gerasse "excesso de radicais livres". Nesta situação, o sangue ficaria mais denso e com tendência a coagular. Mas nada disso é verdade.
A primeira afirmação, sobre a proteína spike, é falsa, como mostrou o Verifica. Na realidade, a proteína spike, que está presente no coronavírus, é eliminada após a vacinação. O que o imunizante com a tecnologia de mRNA faz é ensinar o corpo a produzi-la para que o sistema imunológico saiba como se defender quando entrar em contato com a proteína presente no vírus.
O biomédico Raphael Rangel explica que também é falso afirmar que radicais livres deixam o corpo inflamado. De forma simplificada, os radicais livres são moléculas com um número ímpar de elétrons. Para se tornarem "completas", elas buscam esse elétron que falta em outras células.
Essas células que perdem um elétron passam a se tornar radicais livres, já que deixaram de ter um número par de elétrons. Esse processo pode provocar alterações nas células que perderam elétrons, o que pode influenciar no envelhecimento e em outras doenças, como câncer e Parkinson.
Rangel explica que os radicais livres estão relacionados a problemas de longo prazo.
"Não tem como escapar deles. Só o ato de respirar já produz radicais livres", afirmou. "Ou seja, para ficar livre deles, a pessoa teria que viver dentro de uma bolha sem oxigênio".
De acordo com o biomédico, não se pode dizer que há uma reação entre radicais livres, sangue espesso, coágulos e vacinação.
"O corpo ficar inflamado não deixa o sangue mais espesso. O processo inflamatório [provocado pela vacina] é controlado. E não há nenhuma relação entre vacina e coagulação, a não ser a da AstraZeneca, que é descrita em bula como um processo super raro", aponta o biomédico.
Ele lembra que a vacina AstraZeneca usa a tecnologia de vetor viral e que os médicos costumam indicar justamente o imunizante da Pfizer - de mRNA - para pessoas que tenham problemas de coagulação.
"Normalmente, o que pode causar a coagulação é qualquer distúrbio sanguíneo que pode levar a um trombo. Se o paciente já tem algum problema de trombo ou circulação, os médicos desaconselham a AstraZeneca e aconselham a Pfizer", esclareceu.