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Vereadora é morta a tiros no Rio de Janeiro

15 mar 2018 - 07h39
(atualizado às 07h48)
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Marielle Franco, do PSOL, e motorista são assassinados após saírem de um evento para ativistas negras. Parlamentar era conhecida por lutar contra violência e pelas mulheres. Polícia investiga hipótese de execução.A vereadora pelo Rio de Janeiro Marielle Franco, do PSOL, foi morta a tiros dentro de um carro na noite desta quarta-feira (14/03), no bairro do Estácio, região central da cidade, pouco depois de sair de um evento para mulheres ativistas negras.

Em pleno centro do Rio de Janeiro, criminosos abriram fogo de um veículo emparelhado ao de Marielle
Em pleno centro do Rio de Janeiro, criminosos abriram fogo de um veículo emparelhado ao de Marielle
Foto: DW / Deutsche Welle

O motorista do veículo, Anderson Pedro Gomes, também morreu. A assessora de Marielle, que também estava no veículo, foi atingida por estilhaços.

Leia também: Acabar com o crime no Rio, uma velha promessa

Segundo relatos, os atiradores emparelharam um carro ao lado do de Marielle e abriram fogo. A vereadora foi atingida por ao menos quatro tiros na cabeça, e o motorista recebeu três disparos na lateral das costas.

Os criminosos fugiram sem cometer nenhum roubo. A principal hipótese analisada pelos investigadores da Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro é a de que teria se tratado de uma execução.

Marielle estava sentada no banco traseiro do carro, que tinha filme escuro nos vidros. A polícia acredita que os criminosos seguiram o veículo e sabiam a posição exata dos ocupantes.

A vereadora de 38 anos foi a quinta mais votada nas eleições de 2016. Em sua primeira disputa eleitoral, ela recebeu 46,5 mil votos. Ela era socióloga e mestra em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua dissertação de mestrado abordou o tema "UPP: a redução da favela a três letras".

Na noite desta quarta-feira, antes de ser morta, a vereadora participou do evento "Jovens negras movendo as estruturas", no bairro da Lapa.

Reações da classe política

A morte de Marielle gerou revolta entre políticos de vertentes diferentes. Em nota, a Executiva Nacional do PSOL manifestou pesar pelo assassinato da vereadora e destacou sua atuação política.

"A atuação de Marielle como vereadora e ativista dos direitos humanos orgulha toda a militância do PSOL e será honrada na continuidade de sua luta", diz o texto. O partido também exigiu apuração "imediata e rigorosa" sobre as circunstâncias do crime.

O deputado estadual Marcelo Freixo, colega de partido de Marielle, disse que o crime é "inadmissível" e que "todas as características são de execução". Ele pediu uma apuração rápida do caso e disse que Marielle não havia sido ameaçada.

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, conversou com o interventor federal no Rio e colocou a Polícia Federal à disposição para auxiliar na investigação.

O prefeito Marcelo Crivella lamentou o "brutal assassinato" da vereadora e homenageou sua "honradez, bravura e espírito público".

"Sua trajetória exemplar de superação continuará a brilhar como uma estrela de esperança para todos que, inconformados, lutam por um Rio culto, poderoso, rico, mas, sobretudo, justo e humano", disse Crivella.

O governador Luiz Fernando Pezão destacou o trabalho de Marielle contra a desigualdade social e a violência. Ele disse que acompanha as investigações e aguarda a "punição dos autores desse crime hediondo que tanto nos entristece".

Pelas mulheres e contra a violência

Marielle atuou em organizações da sociedade civil, como o Centro de Ações Solidárias da Maré e a Brasil Foundation. Ela coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado de Marcelo Freixo.

Na Câmara dos Vereadores, Marielle presidia a Comissão de Defesa da Mulher. Ela apresentou um projeto para a criação do Dossiê da Mulher Carioca, que tinha o objetivo de fazer com que a prefeitura contabilizasse dados sobre violência de gênero no Rio.

Ela lutou pelo acesso ao aborto na cidade, nos casos previstos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e pela ampliação do número das chamadas Casas de Parto, locais destinados à realização de partos normais.

Na semana passada, Marielle participou ativamente das celebrações do Dia Internacional da Mulher em caminhadas pela Maré, Santa Cruz e no centro do Rio. Ela chegou a questionar no plenário da Câmara a representatividade feminina no legislativo municipal.

"Se este Parlamento é formado apenas por 10%, 13% de mulheres, nós somos a maioria nas ruas. E sendo a maioria nas ruas, somos a força exigindo a dignidade e o respeito das identidades. Infelizmente, o que está colocado aí nos vitima ainda mais" afirmou Marielle no dia 8 de março.

Há duas semanas, Marielle havia assumido relatoria da Comissão da Câmara de Vereadores do Rio criada para acompanhar a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Ela vinha se posicionando publicamente contra a medida.

Um dia antes de sua morte, a vereadora divulgou uma mensagem no Twitter condenando a violência policial e a ação da Polícia Militar.

No último sábado, também através da rede social, ela chamou o 41º Batalhão da Polícia Militar de "batalhão da morte", em razão de atos de violência ocorridos na favela de Acari. "CHEGA de esculachar a população! CHEGA de matarem nossos jovens", escreveu.

A PMERJ confirmou a operação e argumentou que criminosos atiraram contra os policiais e houve confronto. Durante vasculhamento na comunidade, dois homens foram presos e houve apreensão de um fuzil calibre 7,62 mm e oito rádios comunicadores, segundo nota da corporação.

O corpo de Marielle será velado na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro nesta quinta-feira.

RC/abr/ots

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A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App

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