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Rio: santa salva da enchente é rebatizada por moradores na serra

12 fev 2011 - 12h09
(atualizado às 18h51)
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Luís Bulcão Pinheiro
Direto de Petrópolis

O Centro Educacional Santa Terezinha, em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, é um impávido oásis em meio ao lamaçal. Mesmo tendo sido atingido pela água que cobriu praticamente todo o primeiro andar, a construção permanece sólida e já está pronta para receber 90 crianças para uma colônia de férias que começa nos próximos dias. Não sem antes proteger em uma forte redoma de vidro a imagem de uma santa que, assim como muitos moradores, ficou submersa e não sucumbiu.

Marca de barro indica que a imagem também foi atingida pelas aguas
Marca de barro indica que a imagem também foi atingida pelas aguas
Foto: Luís Bulcão Pinheiro / Especial para Terra

A explicação para a imagem leve, feita de gesso, ter resistido, sem se mover de dentro do oratório onde estava, à mesma lama que arrastou carros, casas, pessoas e árvores é taxativa: milagre. A imagem de Nossa Sra. das Graças foi rebatizada pelos moradores de Nossa Senhora do Vale do Cuiabá, e ficou "para abençoar aqueles que também ficaram", garante a professora Inês Damasceno.

Hoje, o rio Santo Antônio passa raso, estreito e calmo. Nem lembra a violência das águas dos dias 11 e 12 de janeiro quando provocou destruição ao redor. Os moradores do ex-verde, ex-florido, ex-belo Vale do Cuiabá, localidade do distrito de Itaipava, em Petrópolis, ainda estranham o ambiente atual. Postes, móveis, veículos, roupas e a vegetação ainda formam montanhas de entulho. Além de exalar forte cheiro, ainda atrapalham a circulação.

Poucos observam as retroescavadeiras retirarem a lama seca que parece concretada e a jogarem para dentro de caçambas de caminhão, erguendo nuvens gigantescas de poeira. Às vezes sob a supervisão de bombeiros que ainda cuidam para ver se os restos mortais de um daqueles que seguem desaparecidos não aparecem em meio aos escombros.

Há uma semana não se acha corpos no Vale do Cuiabá. Já foram retirados 72. Os dois últimos foram encontrados nas localidades de Madame Machado e Vale da Lua, arrastados por mais de 12 km pelo imprevisível Santo Antônio. Ainda há 26 desaparecidos na lista. Entre eles, o nome completo de Cidinha, Maria Aparecida Vieira dos Reis, 60 anos.

Almir Furtado Reis, 61 anos, engole o choro e a dor de não poder enterrar a esposa. Cidinha estava em casa com ele quando, por volta das duas horas da madrugada do dia 12 de janeiro, a casa começou a inundar. A primeira reação foi tentar tirar os móveis, mas de repente tudo veio abaixo. Ele conseguiu se agarrar em um pedaço de alguma coisa que boiava, depois subir em um muro, e finalmente esperar até amanhecer. Ela não conseguiu.

Chuvas na região serrana

As fortes chuvas que atingiram os municípios da região serrana do Rio nos dias 11 e 12 de janeiro provocaram enchentes e inúmeros deslizamentos de terra. As cidades mais atingidas são Teresópolis, Nova Friburgo, Petrópolis, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), choveu cerca de 300 mm em 24 horas na região.

Veja onde foram registradas as mortes

Fonte: Especial para Terra
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