Tarcísio se equilibra entre tentar reeleição em SP e substituir Bolsonaro a um ano das eleições
Governador de São Paulo é apontado por aliados da direita como nome para representar bolsonarismo com o ex-presidente inelegível
Tarcísio de Freitas enfrenta pressão para disputar a Presidência em 2026 como sucessor do bolsonarismo, mas mantém sinais de que buscará a reeleição como governador de São Paulo, gerando divisões na direita.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), encontra-se em uma encruzilhada política a um ano das eleições de 2026. De um lado, ele tem sinalizado a intenção de buscar a reeleição em São Paulo; de outro, é cada vez mais pressionado por importantes aliados da direita para ser o nome a substituir Jair Bolsonaro (PL) na disputa pela Presidência da República, dada a inelegibilidade do ex-presidente e sua condenação por tentativa de golpe de Estado.
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Essa dualidade tem sido o centro de grandes movimentações nos bastidores, especialmente entre os presidentes de partidos e líderes do Congresso, que veem em Tarcísio o candidato com maior potencial para herdar o espólio eleitoral bolsonarista e unificar o campo da direita.
O Apelo do PL e de Valdemar Costa Neto
Nesse cenário, o PL, sigla de Bolsonaro, tem sido um dos principais vetores da pressão pelo nome de Tarcísio. O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, não esconde o desejo de ter o governador de São Paulo como seu presidenciável, e já o fez publicamente em diversas ocasiões.
Valdemar chegou a declarar que, "se Tarcísio for candidato a presidente no ano que vem, que ele assina com o PL", indicando o movimento partidário que seria esperado caso o governador decida pela corrida nacional. Apesar de Tarcísio estar no Republicanos, o líder do PL já manifestou que o governador seria "bem-vindo" à sigla. No entanto, Valdemar também ressalta que a decisão final caberá a Bolsonaro, a quem ele se refere como a principal liderança da direita.
Republicanos também vê potencial candidatura
Além da forte articulação do PL, a vontade para que Tarcísio dispute a Presidência também ecoa em seu próprio partido, o Republicanos. Em um evento que celebrou os 20 anos da legenda, em agosto, em Brasília, o presidente nacional da sigla, Marcos Pereira, sinalizou publicamente o governador de São Paulo como um potencial candidato.
Em seu discurso, na presença das principais lideranças do partido e do próprio Tarcísio na primeira fila, Marcos Pereira sugeriu que o Republicanos pode ter um nome na corrida nacional. O aceno foi direto ao governador: "Quem sabe se a conjuntura permitir, teremos um candidato a presidente da República. Não é, Tarcísio?". O governador, ao ser exibido no telão, foi ovacionado pela plateia, confirmando o entusiasmo da sigla com a possibilidade de lançá-lo ao Palácio do Planalto em 2026.
Apoio de outros políticos
A base política do governador também já externou que ele seria a melhor escolha pela direita. Em julho, durante a entrega de imóveis do Programa Casa Paulista em Embu das Artes (SP), aliados chamaram Tarcísio de “presidente” em público.
O ex-prefeito do município, Ney Santos (Republicanos), sugeriu que São Paulo é apenas um trampolim para o Palácio do Planalto. “O Estado de São Paulo está pequeno para você. Como te mandei na mensagem esses dias, quem precisa de você agora é o povo brasileiro”, declarou Ney Santos, reforçando: “A voz do povo é a voz de Deus, e Tarcísio será o presidente da República”. O governador riu diante da declaração.
O atual prefeito de Embu das Artes, Hugo Prado (Republicanos), seguiu na mesma linha, manifestando apoio à corrida presidencial: “A vontade do povo embuense e do povo brasileiro é que nós tenhamos um presidente realmente do diálogo”, disse ele, referindo-se ao governador.
E políticos de esquerda também reconheceram Tarcísio como possível candidato da direita. Em março deste ano, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT) afirmou, durante um evento em São Paulo, que Tarcísio é o verdadeiro candidato da direita e já foi "abraçado" pelo mercado. "O candidato da direita chama-se Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. E a elite de São Paulo já o abraçou", disse ele na ocasião.
A oscilação no bolsonarismo
Ao longo de 2025, o governador intensificou uma guinada retórica que surpreendeu aliados e observadores. Conhecido por um perfil moderado, Tarcísio adotou publicamente críticas duras contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o governo Lula, em movimentos interpretados como acenos à base mais radical do bolsonarismo. A estratégia, no entanto, convive com gestos de moderação.
A mudança de tom ficou evidente em dois momentos. Em março, ao lado de Jair Bolsonaro, Tarcísio surpreendeu ministros do STF ao acusar o Judiciário de agir por motivações políticas. No dia 7 de setembro, em ato pró-anistia, reforçou as críticas ao STF, a Lula e à esquerda.
Relembre alguns episódios de oscilação de Tarcísio em relação ao bolsonarismo:
A crise de identidade - bolsonarismo raiz ou não?: Pouco antes de assumir o governo de São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas tentou se distanciar do rótulo de "bolsonarista raiz" em uma entrevista, afirmando que não se envolveria em "guerra ideológica e cultural". Essa declaração provocou uma reação negativa em sua base de apoio mais ideológica. Para acalmar a situação, ele publicou uma mensagem expressando sua "gratidão" a Bolsonaro.
Composição da equipe e acenos opostos: Na formação do seu secretariado, Tarcísio optou por uma mistura de perfis. Ele nomeou o presidente do PSD, Gilberto Kassab, uma figura que não é bem-vista pelo bolsonarismo, como secretário de governo, responsável pela articulação com os municípios. Por outro lado, ele fez um aceno direto à base ideológica ao escolher Guilherme Derrite para a Segurança Pública e Sonaira Fernandes para a pasta da Mulher.
Alinhamento econômico vs. posição pessoal de Bolsonaro: O governador de São Paulo defendeu a aprovação da reforma tributária do governo federal, considerando-a uma medida benéfica para a economia. Contudo, essa posição entrou em choque com Bolsonaro, que fazia campanha abertamente contra o projeto.
Decisões estaduais e críticas da base bolsonarista: Tarcísio enfrentou uma forte oposição e "rebelião" de deputados bolsonaristas na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) após tomar algumas decisões, como a liberação de verbas para a Parada Gay, a autorização de uma feira do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e a inclusão da cannabis medicinal na rede pública de saúde. Em contraste, para apaziguar a base, ele instituiu um programa estadual de escolas cívico-militares.
A dupla face política: O governador apareceu em eventos públicos ao lado de figuras críticas ao bolsonarismo, como o presidente Lula e o ministro do TF Alexandre de Moraes, sendo fotografado sorridente. Ao mesmo tempo, ele marcou presença e discursou em manifestações convocadas por Bolsonaro na Av. Paulista e em Copacabana, além de integrar a comitiva presidencial na posse de Javier Milei na Argentina.
Retratação na Segurança Pública: Na área de segurança, Tarcísio adotou uma postura de "linha dura", chegando a declarar que não se importava com as denúncias sobre os altos índices de letalidade policial. Diante da pressão da opinião pública e do STF, ele reavaliou sua postura, reconhecendo que estava equivocado ao criticar a utilização de câmeras corporais pela Polícia Militar e admitindo a existência de problemas.
Envolvimento total na eleição da capital: O governador decidiu se empenhar integralmente na campanha de Ricardo Nunes (MDB) para a prefeitura de São Paulo, embora Bolsonaro tenha optado por manter distância das campanhas na capital paulista. Com a reeleição de Nunes, Tarcísio recebeu um cumprimento de "líder maior" do prefeito.
Da defesa de Trump a pautas ambientais: Tarcísio demonstrou afinidade com o presidente americano Donald Trump ao usar o boné com a inscrição “Make America Great Again” no dia da posse do norte-americano. No entanto, na mesma semana, ele demonstrou um foco em pautas mais progressistas ao anunciar a criação de um conselho estadual para o combate a mudanças climáticas em São Paulo.
Crítica à PEC da Blindagem: Tarcísio criticou a PEC da Blindagem ao avaliar que a repercussão nacional foi consequência direta da percepção da sociedade de que o texto favoreceria parlamentares em casos de impunidade. "Quando se tem a distorção e a população percebe que está indo por um caminho de privilegiar, de impunidade, a população se revolta. Você não pode se desconectar daquilo que as pessoas pensam. Quando houve essa desconexão, houve protesto", declarou. Por outro lado, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) defendia a PEC e afirmou que a medida "tentava criar mecanismos de proteção contra o regime de exceção implementado por um Judiciário corrupto e aparelhado".
Embate com Eduardo Bolsonaro
Tarcísio, no entanto, não é aceito por toda a família Bolsonaro como possível sucessor do ex-presidente. Neste ano, Eduardo Bolsonaro fez uma série de ataques ao governador. Em um dos primeiros embates, o filho do ex-presidente desaprovou as tentativas do governador paulista de reverter o "tarifaço" de 50% imposto aos produtos nacionais pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Para Eduardo, as ações do governador configuravam "subserviência servil às elites".
Além disso, mensagens analisadas pela Polícia Federal (PF) mostram que Eduardo Bolsonaro deixou claro que não vê o governador de São Paulo como um aliado do pai, mas sim como um problema para os planos de conseguir uma possível anistia. "Só para te deixar ciente: Tarcísio nunca te ajudou em nada no STF. Sempre esteve de braço cruzado vendo vc se fud e se aquecendo para 2026"**, disse o deputado em mensagem ao pai interceptada pela PF.
Em outra ocasião, em declaração em entrevista ao canal Claudio Dantas, no YouTube, Eduardo afirmou que Tarcísio não é o candidato esperado pelos bolsonaristas. Para o filho do ex-presidente, "o perfil do Tarcísio, realmente, não é de combate", uma vez que o governador "tem pessoas, no seu primeiro escalão e secretarias, que são ligadas ao PSOL e ao PT".
A não aceitação de Eduardo ao candidato traz dúvidas se o clã Bolsonaro entraria em um consenso para apoiar Tarcísio como futuro candidato. Enquanto isso, o governador segue dando declarações de que irá disputar a reeleição em SP, mesmo também fazendo movimentações que não descartam uma disputa à Presidência.


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