PUBLICIDADE

Política

Racha no PSL e caos no MEC marcaram trocas de ministros

Bebianno, Vélez Rodríguez e Santos Cruz foram demitidos de suas pastas por Bolsonaro; saiba as consequências das saídas

7 fev 2020 - 08h00
Compartilhar
Exibir comentários
Gustavo Canuto foi exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro
Gustavo Canuto foi exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro
Foto: Presidência da República / Divulgação

O presidente Jair Bolsonaro exonerou, nesta quinta-feira (6), o então ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto. O ex-secretário especial da Previdência, Rogério Marinho, já foi anunciado como novo titular da pasta. A saída de Canuto é a quinta mudança de ministro da gestão Bolsonaro. No entanto, caso ele não assuma nenhum outro cargo dentro do governo, ele será o quarto demitido pelo presidente, que já deslocou o então ministro Floriano Peixoto da Secretaria-Geral da Presidência da República para a presidência dos Correios.

As três demissões marcaram importantes momentos do primeiro ano do governo. Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência da República), saiu após discutir com o presidente através da imprensa e das redes sociais, Ricardo Vélez Rodriguez (Educação), foi retirado ao não conseguir controlar a pasta, enquanto General Santos Cruz (Secretaria de Governo do Brasil), deixou o cargo por conta do desgaste com a chamada "ala ideológica" do governo.

Relembre agora as demissões e as consequências das saídas para o governo Bolsonaro:

Queda de Bebianno foi prenúncio do racha no PSL

Gustavo Bebianno, que foi exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência. 7/10/2018. REUTERS/Sergio Moraes.
Gustavo Bebianno, que foi exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência. 7/10/2018. REUTERS/Sergio Moraes.
Foto: Reuters

Primeiro ministro a cair no governo Bolsonaro, o então homem de confiança do presidente, Gustavo Bebianno, que era secretário-geral da Presidência da República, caiu enquanto o capitão da reserva estava internado para a retirada de uma bolsa de colostomia no mês de fevereiro. Pressionado pela imprensa por conta de acusações de liderar um esquema de candidaturas-laranja, o então ministro afirmou que não havia crise no governo e que já havia falado com o presidente três vezes naquele dia.

Poucos dias depois, a demissão de Bebianno foi oficializada pelo porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros. O motivo da decisão teria sido de "foro íntimo do presidente". Desde sua saída do governo, Bebianno se tornou crítico do presidente e chegou a afirmar que Bolsonaro "atira em seus aliados pelas costas".

Considerado por muitos o grande responsável por trazer Bolsonaro ao PSL, Babianno é bastante próximo de Luciano Bivar, presidente da sigla. Políticos de carreira, a dupla nem sempre via com bons olhos a truculência do presidente e de alguns aliados próximos, em especial os filhos de Bolsonaro. A queda de Bebianno, ainda nos primeiros meses, acabou sendo o primeiro grande sinal de desgaste entre Bolsonaro e o partido.

O presidente rachou sua base aliada ao meio ao declarar guerra ser flagrado em vídeo criticando Bivar e pedindo para não ter o nome associado ao do parlamentar. Então líder do governo no Congresso, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) foi uma das que acabou rompendo com o governo, perdendo o cargo no processo. 

Após a ebulição da crise, Bolsonaro, acompanhado pelo filho mais velho, Flávio, optou por deixar a legenda para fundar a sua própria sigla, que vai se chamar Aliança pelo Brasil. É esperado que pelo menos 30 parlamentares do PSL e de outros partidos da base aliada acompanhem o presidente. O PSL sozinho emplacou 52 deputados na Câmara Federal nas últimas eleições.

Após a breve passagem de Floriano Peixono no ministério, Jorge Antônio de Oliveira Francisco assumiu a pasta em junho de 2019.

Chamado para ser bombeiro, Weintraub jogou gasolina no MEC

O ministro da Educação, Abraham Weintraub
O ministro da Educação, Abraham Weintraub
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil / Estadão Conteúdo

Seguidor de Olavo de Carvalho, Ricardo Vélez Rodríguez foi uma das escolhas mais polêmicas de Bolsonaro para ocupar um ministério. Algumas decisões como a de permitir que livros didáticos não passassem por revisão e a de encorajar diretores de escolas a enviar vídeos dos alunos cantando o hino nacional dentro das escolas viraram motivo de críticas da oposição, que chegou a convocar o colombiano para uma sabatina no Congresso. No entanto, foi a briga interna dentro da pasta que derrubou o educador.

Após ter escolhas criticadas por Olavo de Carvalho, Vélez voltou atrás e exonerou uma série de servidores, substituindo-os por alunos do filósofo. "Inimigos" do ideólogo dentro do governo, os militares entraram na briga e emplacaram algumas nomeações. Por não conseguir manter o controle do ministério, o colombiano acabou sendo descartado por Bolsonaro, que no mesmo dia anunciou Abraham Weintraub para o cargo.

Após ajudar a escrever a reforma da Previdência, o economista era visto pela base do governo como um bom nome para apaziguar os ânimos na pasta, que até então era considerada internamente como o grande fracasso da gestão. 

Visto como técnico e comedido, Weintraub acabou se mostrando uma figura ainda mais polarizadora que o antecessor. Usuário assídio das redes sociais, o ministro briga e debocha de opositores. Assim como Vélez, também já elogiou o polêmico Olavo de Carvalho e chegou a defender conteúdos com revisionismo histórico. Ele também gerou controvérsia ao dizer que as universidades federais tinham "plantações de maconha" e "laboratórios de droga".

Como administrador, o ministro também tem tido problemas. Problemas na correção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) geraram críticas ao titular da pasta da Educação, que levantou a possibilidade de uma suposta fraude. O ministro é alvo de uma ação de congressistas no Supremo Federal Federal (STF), que pedem o impeachment de Weintraub por suposto crime de irresponsabilidade.

Saída de Santos Cruz escancara desgaste com ala militar

Foto: Aloisio Mauricio/Fotoarena / Estadão Conteúdo

Considerada a ala mais rebelde e, curiosamente, mais progressista do governo Bolsonaro, os militares entraram em rota de colisão com a chamada "ala ideológica", liderada por Olavo de Carvalho e os filhos do presidente, desde o início do governo. Em junho de 2019, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz foi exonerado da Secretaria Geral da Presidência da República. Ele foi o terceiro ministro demitido pelo presidente e, assim como nos casos de Bebianno e Vélez, a saída também teve relação com a ala ideológica.

Crítico ferrenho de Olavo de Carvalho, Santos Cruz trocou farpas com o filósofo através da imprensa e das redes sociais. O militar também se indispôs com Carlos e Eduardo Bolsonaro, filhos do presidente. A exoneração de Santos Cruz nunca teve um motivo oficializado pela base do governo, mas o general já reclamou publicamente do modo como saída foi conduzida.

No mesmo mês da saida do ex-ministro, dois outros militares foram exonerados de agências importantes do governo: Franklimberg Freitas deixou a Funai, enquanto Juarez de Paula Cunha foi demitido dos Correios.

Ainda que não tão veemente quanto Bebianno, Santos Cruz também criticou o governo após deixar o ministério. O militar disse que viu "muitos gastos desnecessários de dinheiro público" e ainda afirmou que o governo Bolsonaro havia se afastado do combate à corrupção. Apesar disso, o general segue elogiando pessoalmente o presidente. 

Luiz Eduardo Ramos foi nomeado como titular da pasta em julho de 2019. Próximo do Congresso, ele um dos homens fortes de Bolsonaro na articulação com o parlamentares.

Fonte: Redação Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade