PUBLICIDADE

Política

Líder do PL provoca saída de presidente do Banco do Nordeste

Romildo Carneiro Rolim é exonerado do cargo em meio à disputa política pela área que cuida do microcrédito

30 set 2021 - 16h05
(atualizado às 16h28)
Compartilhar
Exibir comentários

O presidente do Banco do Nordeste (BNB), Romildo Carneiro Rolim, foi exonerado do cargo nesta quinta-feira, 30, pelo Conselho de Administração da instituição, que é ligada ao governo federal. A saída se dá em meio à disputa política pela área que cuida do programa de microcrédito, uma referência dessa modalidade de financiamento em todo o País. A troca de comando ocorre poucos dias depois de o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, aliado de Jair Bolsonaro, ter pedido a demissão de toda a diretoria.

O Conselho de Administração foi convocado a pedido do Palácio do Palácio do Planalto para fazer a mudança. Segundo o Estadão apurou, a Casa Civil, chefiada pelo ministro Ciro Nogueira, negou a recondução do mandato de Rolim. Nogueira é também presidente do Progressistas, maior partido do Centrão. O diretor de negócios, Anderson Possa, será empossado interinamente como presidente interino.

Líder do PL provoca saída de presidente do Banco do Nordeste
Líder do PL provoca saída de presidente do Banco do Nordeste
Foto: Ivan Cruz / Futura Press

Em um vídeo divulgado no início da semana, Costa Neto afirma que Bolsonaro o cobrou por mensagem no WhatsApp ao descobrir que a atual gestão mantinha um contrato de R$ 583 milhões, justamente no setor de atendimento ao microcrédito, com o Instituto Nordeste Cidadania (Inec), uma organização da sociedade civil de interesse público (Oscip). A entidade firmou parceria com o BNB em 2003, no primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva e, para apoiadores do atual governo, abriga petistas e empodera politicamente adversários de Bolsonaro.

Esse foi o argumento principal endossado pelo chefe do PL. No vídeo divulgado nas redes sociais, o presidente do PL, que costuma guardar discrição desde que foi condenado e preso no escândalo do mensalão, falou em tom de moralização e levantou suspeitas sobre o contrato vigente há 18 anos. "Não podemos ter uma ONG contratada num banco da importância do Banco do Nordeste", disse Costa Neto.

Agora aliado de Bolsonaro, o presidente do PL fez parte da base aliada dos governos do PT. Em 2012, foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal por envolvimento no escândalo do mensalão. Apesar de ter saído de cena nos anos seguintes, abrindo mão da presidência do PL, nunca deixou de comandar o partido e seguiu articulando nos bastidores.

Como revelou o Estadão, a disputa política pelo controle do BNB, a um ano das eleições de 2022, oculta um interesse pela carteira de microcrédito avaliada internamente em cerca de R$ 30 bilhões.

Romildo Carneiro Rolim é servidor de carreira que ascendeu à presidência da instituição no governo Michel Temer. Ele já se amparou em diferentes apoios políticos para permanecer na cúpula do banco.

Rolim se opõe à ideia de vender ao mercado privado a carteira de microcrédito no Nordeste, a mais bem sucedida do País com escala e referência nessa modalidade de crédito.

O agora ex-presidente não era a primeira opção de Costa Neto. Em 2020, quando Bolsonaro cedeu o banco ao Centrão, quebrando promessa de campanha, o PL chegou a emplacar na presidência do BNB o nome de Alexandre Borges Cabral. Porém, Cabral foi demitido após o Estadão revelar que era suspeito de "gestão temerária" na Casa da Moeda, segundo o Tribunal de Contas da União. Ele teria deixado um prejuízo de R$ 2,2 bilhões. Rolim teve apoio de integrantes da equipe econômica para retornar, entre eles o do ministro Paulo Guedes.

Fontes do governo informaram que a equipe de Guedes não se opõe à venda da carteira de microcrédito. Um integrantes do Ministério da Economia resumiu a disputa no banco como uma briga "deles com eles mesmos". Ou seja, os donos das indicações políticas para o banco, que é comandado pelo Centrão.

Sem suspeitas fundadas, parlamentares precificaram o suposto elo com o PT como o "bode na sala" para convencer Bolsonaro a promover a troca da diretoria. Isso abriria espaço para instalar no banco uma diretoria politicamente guiada a ser favorável e promover a cisão das operações de fomento do desenvolvimento regional, como administrador do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), do mercado de microfinanças, em que supera os concorrentes públicos e privados. Primeiro, a nova diretoria promoveria uma licitação do microcrédito, que tem potencial eleitoral, e depois permitiria a venda para um banco privado.

Por meio da operação, o BNB atende micro e pequenos empresários que não acessam créditos em quantias baixas em outras instituições financeiras e antes estariam restritas à agiotagem. Políticos da bancada cearense afirmam que o programa "Crediamigo", para áreas urbanas, é o mais lucrativo e que alcança vendedores ambulantes, tapioqueiros e bordadeiras. O valor médio dos empréstimos é de R$ 2,7 mil.

O programa "Agroamigo" tem como público-alvo o segmento rural, focado em agricultores familiares, e o valor médio dos financiamentos fica em R$ 5 mil. Segundo dados do Banco do Nordeste referentes a 2020, a carteira ativa dos programas de microfinanças somava 3,5 milhões de clientes e R$ 15 bilhões contratados.

Veja abaixo o comunicado do banco sobre a troca de comando:

O Banco do Nordeste do Brasil S.A. comunica que o Conselho de Administração, em sua 739ª Reunião, ocorrida nesta data, às 12h, deliberou conforme segue:

1. Destituição do Sr. Romildo Carneiro Rolim como Presidente do Banco do Nordeste do Brasil S.A.

2. Nomeação do Sr. Anderson Aorivan da Cunha Possa, atualmente Diretor de Negócios, como Presidente Interino e Conselheiro de Administração do Banco do Nordeste do Brasil S.A., na forma do art. 25, §1º, IV, do Estatuto Social do Banco. O Sr. Anderson Possa ficará acumulando os dois cargos.

3. Anderson da Cunha Possa é bacharel em Direito, com Pós-Graduação em Processo Civil, Mestrado em Economia e Doutorando em Ciências Contábeis e Administração; Possui vários Cursos e Certificações pela Fundação Dom Cabral - FDC, Fundação Getúlio Vargas - FGV, Universidade de São Paulo - USP, como também por Instituições Internacionais. Ocupou funções na Caixa Econômica Federal desde Consultor, Gerente e Superintendente Nacional em Brasília, e Superintendente de Negócios do Setor Público do Banco de Desenvolvimento de São Paulo.

4. A Diretoria Executiva do Banco do Nordeste passou a ter a seguinte composição: ANDERSON AORIVAN DA CUNHA POSSA, BRUNO RICARDO PENA DE SOUSA, CORNÉLIO FARIAS PIMENTEL, HAILTON JOSÉ FORTES, HAROLDO MAIA JÚNIOR e THIAGO ALVES NOGUEIRA.

5. Registra-se que a Diretoria Executiva, na forma do art. 150, §4º, da Lei 6.404/76, bem como do art. 30, §7º, do Estatuto Social do Banco, permanece na extensão do prazo de gestão referente ao período 2019-2021, até a investidura dos administradores para o novo prazo de gestão (2021-2023).

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade