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Tatiana Farah

Na sabatina de Lula no JN, quem ganhou foi o Alckmin

25 ago 2022 - 21h46
(atualizado às 21h51)
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Luiz Inácio Lula da Silva no Jornal Nacional
Luiz Inácio Lula da Silva no Jornal Nacional
Foto: TV Globo

Nem os petistas devem ter ficado tão felizes com a entrevista de Lula ao Jornal Nacional quanto o ex-governador Geraldo Alckmin. Adversário de Lula na distante eleição de 2006, Alckmin (PSB) hoje é seu candidato a vice e recebe do petista muito mais atenção e respeito do que nos seus últimos anos no PSDB. 

Lula citou espontaneamente diversas vezes o nome de Alckmin. E, quando questionado por Willian Bonner sobre uma suposta revolta de petistas contra a aliança inusitada, Lula saiu-se com essa: 

“Bonner, nós não estamos vivendo no mesmo mundo. Estou até com ciúme do Alckmin. Vc tem que ver que discurso habilidoso.”

O ex-presidente petista tem fama de ser fiel aos aliados, mas tantos elogios ao ex-tucano significam muito mais. Lula queria usar seu tempo no Jornal Nacional para dialogar com a classe média; e a presença de Geraldo Alckmin em sua chapa eleitoral é o caminho para esse diálogo. Logo, o petista que não é bobo nem nada, usou essa estratégia.

Outro ponto que distancia Lula de Bolsonaro é a defesa intransigente da democracia. Ao mostrar que antigos adversários podem se unir sem traumas, Lula comprova o que ele mesmo disse na entrevista a Bonner e Renata Vasconcellos (e que falamos neste espaço na semana passada): não há problema na polarização. Ela é saudável, é salutar. O que faz mal a todos nós é o ódio.

Como não poderia ser diferente, Bonner abriu a entrevista falando da Lava Jato e Lula ganhou algum mérito ali ao separar o Ministério Público, a quem elogia, dos procuradores da Lava Jato, a quem critica com veemência. Não se saiu bem, no entanto, ao ter de responder aos bilhões perdidos com a corrupção na Petrobras. 

O petista usou uma colinha para elencar as ações anticorrupção de seu governo e aparentava estar nervoso no começo da entrevista. Deve ter se surpreendido com a fala de Bonner sobre, hoje, não dever nada à Justiça e ter tido todos os seus processos anulados. No auge da Lava Jato, o PT contabilizou o tempo que o Jornal Nacional dedicou a falar sobre as supostas corrupções de Lula. Foram 13 horas de Jornal Nacional no ano de 2016, o que equivale a 20 sabatinas como as desta semana.

Lula foi bem ao falar que “a corrupção só aparece quando você governa de forma republicana para que as pessoas sejam investigadas”. É um contraponto importante entre sua relação, como presidente, com a Procuradoria Geral da República e com a Polícia Federal.

Ainda conseguiu defender o MST e Paulo Freire e criticar a falta de polarização dos regimes de Cuba e China.

Lula defendeu e criticou Dilma Rousseff e ainda brincou com Bonner ao dizer que, quando ele deixar o JN, saberá o que significa a expressão “rei morto, rei posto”. 

Fonte: Tatiana Farah Tatiana Farah é jornalista de política há mais de 20 anos. É repórter da Agência Brasília Alta Frequência. Foi gerente de comunicação da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Repórter do BuzzFeed News no Brasil de 2016 a 2020.  Responsável por levar os segredos do Wikileaks para O Globo, onde trabalhou por 11 anos. Passou pela Veja, Folha de S. Paulo e outras redações, além de assessorias de imprensa. As opiniões da colunista não representam a visão do Terra. 
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