Após 6 anos, 'aloprados' viram réus por escândalo de dossiê
O juiz Paulo Cézar Alves Sodré, da 7ª Vara Criminal de Mato Grosso, aceitou na última sexta-feira denúncia contra nove pessoas por envolvimento na compra de um falso dossiê contra o tucano José Serra na campanha de 2006 para o governo de São Paulo, episódio que ficou conhecido como "escândalo dos aloprados". Na ocasião, os petistas Valdebran Carlos Padilha da Silva e Gedimar Pereira Passos foram presos em um hotel em São Paulo com R$ 1,168 milhão e US$ 248 mil.
De acordo com a denúncia, o documento foi vendido por Luiz Antônio Trevisan e Darci José Vedoin, proprietários da empresa Planam (acusada de chefiar o superfaturamento da compra de ambulâncias, a "máfia das sanguessugas"). O dossiê prometia revelações sobre o envolvimento de integrantes do PSDB nas fraudes na área da saúde, o que prejudicaria a campanha de Serra ao governo de São Paulo e a de Geraldo Alckmin à Presidência. Paulo Roberto, sobrinho de Trevisan, negociava com Valdebran a venda do material, por R$ 2 milhões. Ele foi detido em Cuiabá (MT), antes do embarque para São Paulo a fim de concretizar o negócio.
"O exame dos depoimentos dos envolvidos no episódio e demais provas evidenciam que os denunciados se associaram de forma estável e permanente e elaboraram uma série de atos preparatórios para a compra do dossiê, os quais configuram crimes. Isso permitiria a membros do Partido dos Trabalhadores a exploração político-eleitoral do dossiê nas eleições de 2006, o qual, supostamente, exporia o envolvimento de políticos do PSDB no esquema das ambulâncias", diz a denúncia, assinada pelos procuradores da República Douglas Santos Araújo, Ludmila Bortoleto Monteiro e Marcellus Barbosa Lima.
Articulações para a compra dos dados
De acordo com a denúncia, os Vedoin convidaram Valdebran para ir à Polinter, onde estavam presos por envolvimento nas fraudes da saúde. No encontro, eles ofereceram ao militante as informações que seriam de interesse do PT e especularam sobre a existência do dinheiro, com membros do partido, para a compra dos documentos.
Conforme os procuradores, o assunto foi delegado ao então chefe do setor de inteligência da campanha do PT, Jorge Lorenzetti, que encarregou Gedimar Passos e Expedido Afonso Veloso de analisar os documentos em Cuiabá. Segundo a denúncia, Lorenzetti foi o principal responsável por angariar recursos para os Vedoin em troca de informações. Outro membro do PT, Osvaldo Martines Bargas, também participou de negociações em Cuiabá.
Ainda segundo a denúncia, também participou do esquema Hamilton Broglia Feitosa de Lacerda, que era coordenador da campanha do candidato petista ao governo paulista, Aloizio Mercadante. Ele foi filmado no hotel Ibis com malas e, segundo a investigação, entregou o dinheiro a Gedimar.
A origem do dinheiro
A investigação da Polícia Federal não conseguiu apontar a origem de parte do dinheiro apreendido, uma vez que eram notas velhas, sem sequenciamento de número de ordem e sem identificação de instituição financeira. Mas a partir de notas sequenciais, a PF constatou que o dinheiro havia saído da corretora Vicatur Câmbio e Turismo, com a utilização de "laranjas", entre eles Levy Luiz da Silva Filho, um dos denunciados.
Levy admitiu ter arrecadado assinaturas de seus familiares nos boletos de compra de dólares a pedido de sua cunhada, Sirley da Silva Chaves, uma das proprietárias da Vicatur. Ela e Fernando Manoel Ribas Soares, sócio majoritário da empresa, também foram denunciados.
Valdebran, Gedimar, Lorenzetti, Expedido, Osvaldo e Hamilton são réus por crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro. Os outros três denunciados respondem por atribuírem a si, ou a terceiro, falsa identidade para realização de operação de câmbio.
O juiz Sodré considerou a materialidade dos crimes e recebeu a denúncia na íntegra. Ele determinou que os réus sejam citados para responderem às acusações em um prazo de 10 dias. O magistrado também considerou que não houve crime eleitoral, uma vez que a investigação apontou que os recursos não saíram da campanha de Mercadante.