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Polícia

SP pega mais estimulante sexual que celular levado a presos

Em dias de visitas, é comum parentes de presos serem flagrados com objetos proibidos; Terra teve acesso a relatório com números

1 out 2018 - 09h00
(atualizado às 20h37)
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Mais que celulares e armas, os agentes penitenciários do Estado de São Paulo têm feito apreensões de comprimidos estimulantes sexuais. De 6 de janeiro a 24 de junho de 2018, o único ítem que teve mais apreensões que essas substâncias com visitantes de presos no sistema carcerário paulista foram as drogas.

Além desses três tipos de irregularidades, visitantes também foram pegos com objetos como baralhos, massas epoxi, facas e bebidas alcoólicas. As informações constam de um relatório da Secretaria de Administração Penitenciária ao qual o Terra teve acesso.

Veja a seguir os dez itens com maior número de apreensões no período. O relatório da SAP separa o LSD, por exemplo, da categoria “drogas”.

  1. Drogas: 775
  2. Comprimidos de estimulante sexual: 246
  3. Celulares: 231
  4. LSD: 190
  5. Chips: 146
  6. Componente eletrônico: 72
  7. Cartão de memória: 61
  8. Placa de celular: 27
  9. Acessórios para celular: 26
  10. Remédio: 21

O presidente do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo (Sifuspesp), Fábio César Ferreira, explica porque estimulantes sexuais são tão comuns em apreensões nos presídios. "Eles [presos] têm visita íntima. Se na rua até a molecada usa...".

Esses comprimidos, assim como remédios em geral, só podem entrar no sistema prisional com receita médica. O relatório da SAP mostra uma distribuição irregular dos flagrantes a estimulantes sexuais ao longo dos meses. Enquanto em janeiro foram 120, em fevereiro e abril nenhum foi registrado.

Vista da Penitenciária de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo
Vista da Penitenciária de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo
Foto: Edson Lopes Jr. / GESP

Os outros itens entre os 10 com mais apreensões, como celulares, placas de celular (o aparelho sem a carcaça), drogas e remédios podem ter o uso facilmente inferido. Há, porém, outros objetos menos comuns que visitantes levam para os presídios, apesar de serem proibidos.

O relatório aponta duas apreensões de fermento biológico. A substância pode ser usada para fabricar “Maria Louca”, a cachaça dos presídios, feita com diversos alimentos. É possível produzir a bebida sem fermento, usando açúcar. O processo, porém, fica bem mais demorado.

As drogas, em geral, são levadas por parentes de presos. Mas não há um perfil exato de quem leva ou de quem recebe. Pode ser para alguém que venda as substâncias no presídio ou para quem está devendo para traficantes (e, em geral, correndo risco de vida), por exemplo.

É comum ser encontrada maconha dentro de comida levada por visitantes, ou costurada em roupas. Também são registradas tentativas com métodos mais elaborados, como dentro de chinelos de dedo.

O narcótico mais usado é a cannabis. Cocaína e crack são coibidos pelos próprios presos. O usuário dessas drogas fica eufórico e irrita os demais detentos.

Essas substâncias costumam ser levadas por irmãs, mães ou outras parentes mulheres de encarcerados. Não só as drogas, mas todos os itens. Do total de apreensões, 1.037 foram com mulheres. Com homens, apenas 33. Elas são mais apegadas aos familiares, sendo maioria no número geral de visitantes também.

Houve, ainda, quatro apreensões de massa epoxi, aquela maleável que endurece após manuseada. Assim como fora das prisões, há variados usos nas celas. Além de consertos diversos, é possível fazer armas e esconder celulares, entre outras aplicações. Cola instantânea, apreendida uma vez no período, teria utilidade parecida.

Comunicação

Nos meses incluídos no relatório, foram 18 apreensões de bilhetes e uma de anotação de número de celular com visitantes. Esses objetos poderiam ajudar lideranças presas do crime organizado a se comunicar com comparsas soltos. O documento da SAP, porém, não tem o conteúdo das mensagens, nem diz se o dono do número de telefone apreendido era um criminoso.

De acordo com as regras da Secretaria de Administração Penitenciária, os presos têm direito a manter correspondência com o mundo exterior. Há, porém, regras rígidas. As administrações dos presídios precisam se certificar de que detentos ligados ao crime organizado não estão usando as cartas para articular as gangues.

A tentativa de despachar correspondência ilegal é considerada falta disciplinar leve do preso – em uma comparação grosseira, seria algo como uma infração leve no trânsito.

Também há apreensões de objetos inofensivos. Por exemplo, três baralhos. Eles são barrados porque jogos de azar são proibidos.

Levar um item como esse não significa, necessariamente, uma tentativa do visitante de burlar as regras, segundo explicação de Deyvid Livrini, coordenador estadual da Pastoral Carcerária em São Paulo. Pode ser desinformação. "É plausível que uma pessoa com um parente recém preso cometa esse tipo de deslize", diz ele sobre o exemplo dos baralhos.

A lista do que pode ser entregue aos presos, porém, fica disponível na internet. O que é e o que não é permitido varia em cada unidade prisional da SAP, mas Livrini afirma que a divulgação dessas informações é satisfatória.

Fábio César Ferreira, do Sifuspesp, tem uma visão mais rígida sobre quem leva objeto irregular. "Qualquer coisa que não é autorizada a entrar é má intenção", diz.

Quando algum visitante é pego tentando passar com objeto não permitido em presídio de São Paulo, deve ser retirado da lista de pessoas autorizadas a visitar presos. A exclusão pode ser temporária ou permanente, dependendo do tamanho da irregularidade. Em alguns casos, o visitante é passível de responsabilização criminal.

As visitas nos presídios da SAP são realizadas aos finais de semana, das 8h às 16h. Salvo exceções, apenas parentes próximos e cônjuges de detentos podem ser visitantes. Recentemente, foram instalados equipamentos como scanners corporais no sistema carcerário paulista. Mesmo assim, segundo Fábio César Ferreira, o volume de trabalho é grande demais para a quantidade de funcionários das cadeias.

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O policial que patrulha uma área do tamanho do Estado de São Paulo sozinho:
Fonte: Redação Terra
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