Sargento da PM é expulso de favela do Rio por traficantes
Um sargento do Regimento de Polícia Montada (RPMont) da Polícia Militar e oito parentes foram obrigados a abandonar suas casas após uma invasão de traficantes na favela do Coqueiro, em Santíssimo, zona oeste do Rio de Janeiro. A família está abrigada desde sábado em um quartel da corporação. Vizinhos do sargento, um bombeiro, um policial rodoviário federal e um militar do Exército também teriam sido expulsos. Ontem, a PM trocou tiros com homens no local, mas não houve presos.
A invasão à favela, que seria chefiada pelos traficantes Aranha, Léo Vascão e Tola, da favela da Coréia, aconteceu na noite de sexta-feira. Segundo o 14º Batalhão da Polícia Militar (Bangu), a comunidade, perto da Coréia, não era, até então, área controlada por traficantes. "Intensificamos a repressão na Coréia e eles, por isso, invadiram aquela área", disse o capitão Maforte.
Alertado por vizinhos, o policial deixou às pressas sua casa de dois andares, ainda em obras, na rua Arthur Toni, levando a mulher e os quatro filhos para o quartel, fora da zona oeste. Ele morava no imóvel há 15 anos. "Marginais foram de casa em casa procurando policiais, dizendo que iam matar e fazer churrasco com os corpos", disse um cunhado do PM, que também deixou a casa onde morava com dois irmãos.
Domingo, policiais do 14º Batalhão da PM, com apoio de dois blindados, recuperaram pertences da família após tiroteio. Ontem, PMs removeram troncos usados como barreiras nas ruas. O clima ainda é de medo no Coqueiro, onde outras casas teriam sido abandonadas.
Área considerada tranqüila
O traficante Aranha, chefe do Terceiro Comando na Coréia, é apontado em um inquérito instaurado pela 34ª Delegacia de Polícia (Bangu) como chefe da invasão e responsável pelo abandono das duas casas da família do policial. O delegado Leandro Aquino informou não ter conhecimento de que milicianos controlassem o Coqueiro antes da chegada dos traficantes.
"Eles começaram agora a empregar certo terror naquele local, que não era conhecido como violento", afirmou o delegado.
Aquino disse ainda não ter sido informado sobre a expulsão de um bombeiro, um patrulheiro federal e um militar, o que foi relatado por um dos cunhados do policial. As assessorias do Corpo de Bombeiros e da PRF informaram que até ontem não havia registro de algum integrante das corporações nessa situação. Os assessores do Comando Militar do Leste não foram localizados.
O setor de Relações Públicas da PM, em nota, informou que "está apoiando o polcial e sua família", inclusive com atendimento psicológico. Segundo a nota, ele será encaminhado à Diretoria de Assistência Social.
Moradores se fecham em casa
Ruas desertas, bares fechados e casas com janelas trancadas, apesar do intenso calor. Esse era o cenário ontem de tarde no local. Os poucos moradores que circularam durante a ação da PM se mantiveram em silêncio. No alto de um morro atrás da comunidade tremulam bandeiras do Flamengo, Vasco e Fluminense, que seriam os times dos traficantes Aranha, Léo Vascão e Tola.
"Vamos fazer operações lá diariamente. Não dou mais do que cinco dias para eles desistirem de ocupar esse lugar", avisou o capitão Maforte.
A polícia checa informação, passada por parentes do sargento, de que outras famílias deixaram suas casas na invasão de sexta-feira. Ao lado do imóvel do PM, onde há objetos pessoais espalhados na varanda, outra casa de dois andares está abandonada. Os moradores chegaram a deixar um rádio ligado.