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Polícia

Perito diz que paredes recontam ação da PM na morte dos 111 do Carandiru

Osvaldo Negrini Neto afirma que a perícia foi prejudicada pela retirada dos cadáveres das celas e que era prática comum PMs 'socorrerem' mortos

29 jul 2013 - 15h48
(atualizado às 15h48)
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Policiais militares vão a júri popular por mortes no massacre do Carandiru
Foto: Fernando Borges / Terra

O perito criminal aposentado Osvaldo Negrini Neto, 63 anos, disse nesta segunda-feira, durante o primeiro dia do júri dos 26 policiais militares acusados de participar da morte de 73 presos no "massacre do Carandiru", em 1992, que, dada a gravidade dos fatos - 111 presos foram mortos no interior do pavilhão -, o local teria de ter sido preservado para a perícia. Ainda assim, ele afirma que as marcas de bala nas paredes das celas foram suficientes para que se pudesse fazer uma perícia confiável.

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"Se perderam muitos vestígios, mas não os das paredes", disse ele. De acordo com Negrini Neto, houve, por parte da polícia, um "esforço" para apagar os vestígios da ação. "Nenhuma cápsula das armas foi encontrada, apesar do número de tiros disparados. As duas ou três que apareceram foram recolhidas pelos presos e entregues à perícia."

Negrini assinou o laudo do Instituto de Criminalística (IC) e chefiava a equipe especial que atuava em casos de mortes cometidas por policiais militares no Estado. "Em outros casos, a gente até brincava que era muito comum eles socorrerem mortos", disse ele, em alusão à prática "comum" dos policiais para tentar prejudicar as investigações.

O perito afirmou ainda que teve de entrar na Casa de Detenção de São Paulo escondido dentro do carro do delegado que investigava as mortes dos 111 detentos assassinados em 2 de outubro de 1992, após uma briga entre presidiários motivar a invasão pelas tropas. 

"A Polícia Militar disse ao delegado que não havia campo para perícia e que a perícia não devia ser acionada", relatou, lembrando o cenário que encontrou ao entrar no pavilhão 9, palco do episódio. Na noite da ocorrência, ele disse ter contado 90 corpos que deixaram a Casa de Detenção em direção ao Instituto Médico Legal.

Esta é a segunda etapa do julgamento, que começou em abril com a condenação de 23 policiais militares - todos integrantes do 1º Batalhão de Choque (a Rota). Eles receberam uma pena de 156 anos de prisão, em regime fechado, por conta de 13 das 15 mortes ocorridas no 1º andar do prédio. Todos recorrem da sentença em liberdade.

Nessa primeira etapa, os policiais receberam a pena mínima para cada homicídio, que é de seis anos, somada a mais seis anos por impossibilitarem a defesa das vítimas. Os 12 anos foram multiplicados pelas 13 mortes para se chegar ao resultado final da sentença. Na ocasião, o júri ainda absolveu três PMs denunciados: Roberto Alberto da Silva, Eduardo Espósito e Maurício Marchese Rodrigues, seguindo recomendação do próprio Ministério Público, porque eles não atuaram no 1º andar do pavilhão com a tropa.

Relembre o caso

Em 2 de outubro de 1992, uma briga entre presos da Casa de Detenção de São Paulo - o Carandiru - deu início a um tumulto no Pavilhão 9, que culminou com a invasão da Polícia Militar e a morte de 111 detentos. Os policiais são acusados de disparar contra presos que estariam desarmados. A perícia constatou que vários deles receberam tiros pelas costas e na cabeça.

Entre as versões para o início da briga está a disputa por um varal ou pelo controle de drogas no presídio por dois grupos rivais. Ex-funcionários da Casa de Detenção afirmam que a situação ficou incontrolável e por isso a presença da PM se tornou imprescindível.

A defesa afirma que os policiais militares foram hostilizados e que os presos estavam armados. Já os detentos garantem que atiraram todas as armas brancas pela janela das celas assim que perceberam a invasão. Do total de mortos, 102 presos foram baleados e outros nove morreram em decorrência de ferimentos provocados por armas brancas. De acordo com o relatório da Polícia Militar, 22 policiais ficaram feridos.

Fonte: Terra
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