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Polícia

“O tiro nas manifestações é de borracha. Na favela, não”, diz ONG

Redes da Maré denunciam violência policial em favela, que teve 9 mortes desde a noite de segunda-feira

25 jun 2013 - 17h56
(atualizado às 18h32)
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Moradores criticam violência policial em favelas do Rio de Janeiro
Moradores criticam violência policial em favelas do Rio de Janeiro
Foto: Giuliander Carpes / Terra

A morte de nove pessoas em confrontos com o Batalhão de Operações Especiais (Bope) no Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, criou uma atmosfera de tensão na comunidade nesta terça-feira. A Polícia Militar ainda estava no local enquanto a Divisão de Homicídios da Polícia Civil realizava perícias. Uma pequena manifestação fechou a rua Teixeira Ribeiro, onde fica a ONG Observatório de Favelas. "O tiro nas manifestações que ocorrem na zona sul e no Centro é de borracha. Aqui na favela, não”, disse Patricia Vianna, representante da ONG Redes da Maré.

Ela denunciou que não foram ouvidos tiros na comunidade durante a manhã desta terça-feira, mas mesmo assim foram encontradas seis pessoas mortas. “Com a chegada da imprensa, as armas mudaram. Agora eles (a polícia) não estão mais fazendo barulho e estão usando facas", afirmou ela. Cem homens do Bope, agentes do Batalhão de Choque, do Batalhão de Ação com Cães e do 22º Batalhão de Polícia Militar estão na favela Nova Holanda desde a manhã desta terça-feira.

Durante a noite de segunda-feira, o Bope entrou na comunidade depois que o sargento Ednelson Jerônimo dos Santos, 42 anos, foi morto num confronto com criminosos que realizaram um arrastão na avenida Brasil. Segundo testemunhas, os tiroteios duraram a madrugada inteira. Um transformador de energia elétrica foi atingido e parte da favela está às escuras. Moradores reclamam da truculência policial.

“Vinha com uma sacola de pão e um policial me apontou o fuzil. Tenho uma deficiência física na minha perna esquerda e ando mancando, mas ele deve ter achado que eu era perigoso. Deu uns tapas na minha cara e me chamou de vagabundo antes de me liberar”, afirmou o frentista Carlos Alberto Mendes, 33 anos. “Morre qualquer um em uma favela e fica por isso mesmo. Morte na favela vira número. Na zona sul a polícia não faz isso", completou.

Muitas pessoas usaram uma faixas e cartazes para esconder o rosto durante a manifestação com medo de serem identificados por policiais ou bandidos. O Complexo da Maré está na lista do governo do Estado para receber uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), mas ainda não há uma data definida.

Escolas e comércio fechados

Nove escolas públicas da região cancelaram as aulas nesta terça-feira, afetando 7,4 mil alunos. O comércio também não abriu as portas com medo da violência. O porta-voz do Bope, major Ivan Blaz, garantiu que a resposta das forças policiais foram proporcionais à gravidade dos confrontos da noite de segunda-feira, quando um sargento do batalhão, um garçom de restaurante próximo e um morador foram atingidos por rajadas de metralhadora.

O delegado Rivaldo Barbosa, da Divisão de Homicídios, disse que não ia se manifestar antes do resultado das perícias. A Defensoria Pública e o Conselho de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro também enviaram representantes para acompanhar o trabalho da Polícia Civil. Com as mortes da noite de segunda-feira - o policial e dois moradores -, o total de vítimas dos confrontos chega a nove.

Fonte: Terra
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