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Polícia

Ministra diz que morte de cinegrafista não foi por falta de equipamento

11 fev 2014 - 22h39
(atualizado às 22h41)
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A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse nesta terça-feira que a morte do cinegrafista Santiago Andrade não aconteceu porque ele estava sem equipamento de proteção ou porque não havia alguém do lado dele no momento em que fazia a cobertura de uma manifestação, no centro do Rio, contra o reajuste das tarifas de ônibus. Para a ministra, o que causou a morte do profissional foi o rojão que estava com Fábio Raposo e a participação de Caio Silva de Souza, suspeito de ter acendido o artefato.

“Santiago Andrade não morreu porque faltava equipamento. Ele não foi morto porque existia ausência de alguém ao lado dele. Pode ser que alguma medida a mais pudesse ser tomada, mas ele morreu, foi morto, porque alguém levou um artefato de morte e de violência a uma manifestação. Então eu não posso hoje sustentar a apresentação de equipamentos como algo que salva vida. O que salva vida, principalmente, é que não haja intenção de matar. Ali o que existia era artefato que levou à morte”, disse a ministra ao participar de reunião da Comissão da Verdade do Rio (CEV-Rio).

Maria do Rosário explicou que a secretaria criou um grupo de trabalho que já vem atuando há um ano para discutir a questão de direitos humanos para a área de comunicação. O grupo, segundo ela, foi constituído após o assassinato do jornalista Rodrigo Neto, em Ipatinga, morto porque fazia reportagens contra grupos de extermínio. Além desse caso, pesaram também as mortes de Valério Luiz, em Goiânia, e de outros profissionais denunciadas à secretaria. A ministra explicou que o trabalho é acompanhado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), por entidades empresariais e de trabalhadores em comunicação de todo o País.

O relatório preliminar do grupo de trabalho aponta algumas propostas. De acordo com a ministra, uma delas é a criação, junto com a Organização das Nações Unidas (ONU), de um observatório permanente sobre a violência contra jornalistas no Brasil para evitar a impunidade. O relatório propõe ainda ações de atenção especial do Estado para os jornalistas ameaçados, como os casos de André Caramante e Mauro Konik, um de São Paulo e outro do Paraná. Para as empresas de comunicação, a proposta é que atuem, junto com o governo, em um protocolo no qual a empresa e o Estado produzam mecanismos de proteção ao comunicador. “Que o cinegrafista, por exemplo, não esteja sozinho, possa ter métodos de proteção, distâncias de lugares de confronto para que ele, pela visão muitas vezes do melhor lugar para encontrar uma imagem, não fique exatamente no fronte”, explicou.

Mas para a ministra, tudo isso fica secundário diante da morte do Santiago Ilídio Andrade.  “Acho que devemos primeiro pensar sobre isso. Não misturar uma coisa com a outra. Pediria a vocês (jornalistas), mesmo que a secretaria levante estes aspectos, que são importantes; eles são importantes daqui para diante. Não se coloque a responsabilidade em quem quer que seja, além de quem utilizou o artefato na morte deste cinegrafista”, defendeu a ministra.

A coordenadora-geral do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) da Secretaria de Direitos Humanos, Tássia Rabelo, disse que na segunda-feira (17) o relatório será finalizado, e pode ser divulgado no mesmo dia. Ela informou que a ONU já apresentou a possibilidade de o observatório ser instalado no Rio de Janeiro, com uma linha do programa de proteção a comunicadores, a exemplo do que já existe para as testemunhas. Ela acredita que o observatório pode ser criado ainda este ano.

Atingido em protesto, cinegrafista tem morte cerebral
Santiago foi atingido na cabeça por um rojão durante a cobertura de um protesto contra o aumento das passagens de ônibus no Centro do Rio de Janeiro, no dia 6 de fevereiro. Além dele, outras seis pessoas ficaram feridas na mesma manifestação.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, o cinegrafista chegou em coma ao hospital municipal Souza Aguiar. Ele sofreu afundamento do crânio, perdeu parte da orelha esquerda e passou por cirurgia no setor de neurologia. A morte encefálica foi informada pela secretaria no início da tarde de 10 de fevereiro, após ser diagnosticada pela equipe de neurocirurgia do hospital onde ele estava internado no Centro de Terapia Intensiva.

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O tatuador Fábio Raposo confessou à polícia ter participado da explosão do rojão que atingiu Santiago. Ele foi preso na manhã de domingo em cumprimento a um mandado de prisão temporária expedido pela Justiça. O delegado Maurício Luciano, titular da 17ª Delegacia de Polícia (São Cristóvão) e responsável pelas investigações, disse que Fábio já foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado e crime de explosão e que a pena pode chegar a 35 anos de reclusão.

Raposo ajudou a polícia a reconhecer um segundo responsável pelo disparo do artefato que causou a morte do cinegrafista. O tatuador, preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio de Janeiro, afirmou, de acordo com o relato do delegado, que “eles se encontravam em manifestações" e que "esse rapaz tem perfil violento”.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro divulgou, na manhã do dia 11, uma foto do suspeito de ter acendido o rojão que atingiu Santiago Andrade. Caio Silva de Souza, 23 anos, é considerado foragido e tem duas passagens pela polícia. Fábio Raposo, que passou o rojão, reconheceu o autor do disparo a partir da imagem leava pelo delegado. Ele está sendo procurado por homicídio doloso qualificado – quando há intenção de matar – por uso de artefato explosivo e pelo crime de explosão.

Fonte: Terra
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