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Polícia

Carandiru: defesa diz que mortes de detentos decorreram de confronto

30 jul 2013 - 23h28
(atualizado às 23h28)
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<p>Julgamento de 25 policiais militares ocorre desde segunda-feira</p>
Julgamento de 25 policiais militares ocorre desde segunda-feira
Foto: Fernando Borges / Terra

Três testemunhas de defesa foram ouvidas na tarde desta terça-feira durante a segunda etapa do julgamento do Massacre do Carandiru. Uma delas, uma testemunha protegida, foi ouvida por quase uma hora, a portas fechadas, sem presença de público, réus e imprensa.

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A defesa argumenta que houve necessidade da ação policial no presídio por causa de uma rebelião de presos e que as mortes dos detentos no episódio decorreram de confronto. Nesta quarta-feira, os julgamentos prosseguem com o interrogatório dos policiais. A expectativa é que cinco ou seis deles sejam ouvidos.

Depois do depoimento da testemunha protegida, dois vídeos foram exibidos. O primeiro deles foi do desembargador Ivo de Almeida, que na época em que ocorreu o massacre era corregedor dos presídios da capital paulista. O vídeo apresentou um depoimento dado por Almeida na primeira etapa do julgamento do Massacre do Carandiru, ocorrida em abril deste ano.

Em seu depoimento, Almeida falou que houve necessidade da invasão policial ao Pavilhão 9, pois as tentativas de negociação com os detentos não deram certo. "Quando chegamos, houve tentativas de negociação. Mas não conseguimos sucesso. Daí, a necessidade da invasão", disse. Almeida não soube dizer se houve excesso na ação policial naquele dia, quando 111 detentos foram mortos. "Se houve excesso, não posso afirmar. Mas o nosso objetivo não era esse, pois não havia precedentes."

O segundo vídeo a ser exibido foi do também desembargador Luís Augusto San Juan França. Em abril, na primeira etapa de julgamento do Massacre do Carandiru, San Juan França, que era titular da Vara de Execuções Criminais na época, disse que entrou no presídio após a invasão policial. Ele contou ter visto os corpos de "oito ou nove presos" sendo retirados do local. "Perguntei o que houve (aos policiais). E eles responderam: 'Confronto. Em vez de se renderem, preferiram o confronto''', disse o desembargador.

San Juan França disse também que uma sindicância apurou que houve policiais feridos durante o massacre e que foram apreendidas armas com os presos, entre elas 12 ou 13 armas de fogo, que lhe foram entregues por policiais. "Não entendo como arma de fogo entra no presídio", disse, sobre as apreensões.

Hoje pela manhã, três outras testemunhas arroladas pela defesa foram ouvidas: uma testemunha protegida, que também teve sua identidade mantida em sigilo, o ex-governador de São Paulo Luiz Antonio Fleury Filho e o ex-secretário de segurança pública Pedro Franco de Campos.

As testemunhas de defesa foram arroladas pela advogada Ieda Ribeiro de Souza, que defende os 25 policiais militares acusados pela morte de 73 detentos que viviam no terceiro pavimento (ou segundo andar) do Pavilhão 9 da Casa de Detenção Carandiru. Até ontem, falava-se em 26 réus, mas o Tribunal de Justiça confirmou hoje que um dos policiais já morreu e que, portanto, nesta etapa do julgamento são 25 os policiais militares acusados.

Por envolver um grande número de réus e de vítimas, o julgamento do Massacre do Carandiru foi desmembrado em quatro etapas, de acordo com o que ocorreu em cada um dos quatro andares do Pavilhão 9 da Casa de Detenção. Na primeira etapa, em abril, 23 policiais militares foram condenados pela morte de 13 detentos, ocorrida no segundo pavimento.

Relembre o caso
Em 2 de outubro de 1992, uma briga entre presos da Casa de Detenção de São Paulo - o Carandiru - deu início a um tumulto no Pavilhão 9, que culminou com a invasão da Polícia Militar e a morte de 111 detentos. Os policiais são acusados de disparar contra presos que estariam desarmados. A perícia constatou que vários deles receberam tiros pelas costas e na cabeça.

Entre as versões para o início da briga está a disputa por um varal ou pelo controle de drogas no presídio por dois grupos rivais. Ex-funcionários da Casa de Detenção afirmam que a situação ficou incontrolável e por isso a presença da PM se tornou imprescindível.

A defesa afirma que os policiais militares foram hostilizados e que os presos estavam armados. Já os detentos garantem que atiraram todas as armas brancas pela janela das celas assim que perceberam a invasão. Do total de mortos, 102 presos foram baleados e outros nove morreram em decorrência de ferimentos provocados por armas brancas. De acordo com o relatório da Polícia Militar, 22 policiais ficaram feridos.

Agência Brasil Agência Brasil
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