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O que o Brasil está fazendo para combater a pandemia do coronavírus

Atendendo a um convite da Comissão Geral da Câmara, o ministro destacou que a prioridade é proteger os idosos com doenças crônicas e saúde debilitada, que são o principal grupo de risco para a covid-19, doença causada pelo novo vírus.

11 mar 2020 - 16h19
(atualizado em 16/3/2020 às 16h40)
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'A gente quer aumentar de 1,5 mil para 6,7 mil postos de saúde com horário estendido. Este é um dos motivos pelos quais estou pedindo recurso', afirmou Mandetta
'A gente quer aumentar de 1,5 mil para 6,7 mil postos de saúde com horário estendido. Este é um dos motivos pelos quais estou pedindo recurso', afirmou Mandetta
Foto: TV Brasil/Agência Brasil / BBC News Brasil

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, apresentou nesta quarta-feira (11/03) em sessão na Câmara dos Deputados um resumo das principais medidas e do diagnóstico do governo sobre como combater o avanço do novo coronavírus no Brasil.

Hoje, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o mundo enfrenta uma pandemia. Declarar uma pandemia significa dizer que os esforços para conter a expansão mundial do vírus falharam e que a epidemia está fora de controle.

Atendendo a um convite da Comissão Geral da Câmara, o ministro destacou que a prioridade é proteger os idosos com doenças crônicas e saúde debilitada, que são o principal grupo de risco para a covid-19, doença causada pelo novo vírus.

Mandetta defendeu também que é importante ampliar os recursos no orçamento da pasta para conter o avanço do vírus. Uma das medidas planejadas pelo ministério, afirmou, é o plano de estender o horário de mais postos de saúde para que recebam a maior parte dos pacientes que apresentarem sintomas.

Os municípios poderão aderir ao programa que ele chamou de Saúde na Hora 2.0, mas, para tirá-lo do papel, a estimativa é de que sejam necessários cerca de R$ 900 bilhões.

"A gente quer aumentar de 1,5 mil para 6,7 mil postos de saúde com horário estendido. Este é um dos motivos pelos quais estou pedindo recurso, pois para fazer isso tenho impacto de quase R$ 1 bi", pontuou Mandetta, que prevê que 90% dos casos sejam atendidos nesse nível de atenção. "Pacientes com sintomas devem procurar primeiramente os postos de saúde em vez dos serviços de urgência e emergência ou hospitais (90% dos casos são leves)", informou o ministério.

O ministro acrescentou que há um aumento dos custos de insumos utilizados na prevenção e nos tratamentos, como máscaras. Ele disse que o Brasil conseguiu comprar recentemente cerca de 4 milhões de máscaras, "vindas no último navio que conseguiu vir da China", que serão disponibilizadas para profissionais que atuam na linha de frente dos atendimentos, como médicos e enfermeiros.

Mandetta cobrou a necessidade de que alguém arbitre o preço desses insumos, que têm subido indiscriminadamente.

"Gastávamos R$ 0,11 por máscara, (agora) gastamos R$ 2", afirmou, sobre o preço dos produtos, cujo estoque já foi comprado em grande parte pelos países do hemisfério norte.

O ministro também citou, entre as ações em andamento, a criação de um conselho interministerial para ações dos demais ministérios relacionadas ao coronavírus.

Desde 31 de dezembro, quando a China informou a OMS que um vírus até então desconhecido estava se espalhando pelo país, ele já chegou a 114 países. Segundo o último boletim da organização, foram registrados mais de 118 mil casos e 4.291 mortes.

A escalada do surto originado na cidade chinesa de Wuhan e a velocidade com que o Sars-cov-2, como é chamado oficialmente o novo coronavírus, se espalhou pelo mundo impressionam, mas isso não é exatamente surpreendente em um mundo globalizado.

O que muda com a pandemia

Segundo o ministro, a partir do anúncio da OMS que oficializa a doença como uma pandemia, pacientes com sintomas que chegarem de outros continentes serão considerados casos suspeitos.

"Para nós [...] qualquer pessoa que chegue no Brasil ainda neste momento, com febre, tosse, gripe, já tem nexo para você poder falar: 'oh, é um caso suspeito'. Por quê? Porque veio de fora de locais que têm transmissão sustentada. Mas nós já estávamos trabalhando assim, né? Nós já estávamos com América, Europa, Ásia, Oceania. Só não estávamos ainda considerando os da América do Sul e África, agora são todos", afirmou.

Novo coronavírus já infectou mais de 100 mil pessoas em todo o mundo
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Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O ministro também disse que será realizado um levantamento do número de grandes eventos de responsabilidade dos Estados, para avaliar situações de risco. Também está em andamento a organização de serviços de telemedicina e telessuporte.

Em análise, o governo cogita recomendar evitar contato social para pessoas acima de 60 anos ou com doença crônica, e estimular o trabalho em horários alternativos em escala, reuniões virtuais e home office, além de disciplinar atestados médicos e faltas ao trabalho. " Se eu mandar uma pessoa que teve gripe voltar no posto de saúde e pegar papel para levar no RH vou sobrecarregar o sistema", diz.

'Não tem receita de bolo'

Outra peculiaridade de se planejar a estratégia de combate ao novo coronavírus no Brasil, ponderou Mandetta, é que o país tem o tamanho de um continente. Por isso, a análise da evolução dos casos se dará de forma assimétrica, de Estado em Estado, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos, em que há mais casos observados em alguns Estados, como Nova York, Califórnia e Washington.

"Uma coisa é analisar um país pequenininho, outra, um continente. Teremos assimetrias enormes. Não teremos uma receita de bolo para todo o Brasil, teremos que analisar Estado por Estado", diz.

Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, disse que declaração de pandemia não muda ações da OMS sobre o novo coronavírus
Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, disse que declaração de pandemia não muda ações da OMS sobre o novo coronavírus
Foto: AFP / BBC News Brasil

Cuidado com os idosos

O ministro destacou que a prioridade nas políticas públicas será proteger os mais idosos e portadores de doenças crônicas, que são o principal grupo de risco para a covid-19. "Queremos preservar o maior grupo de risco: nossos idosos e doentes crônicos, que é o grupo que queremos proteger", afirmou.

Mandetta reafirmou, inclusive, que os idosos serão os primeiros a receber a vacina da gripe. Ontem, o Ministério da Saúde anunciou que a vacinação contra gripe começará no dia 23 de março, pelos idosos e profissionais de saúde, em razão do avanço da nova doença.

A partir de 16 de abril: professores, doentes crônicos e profissionais das forças de segurança e salvamento receberão a vacina. A partir de 9 de maio, serão vacinadas crianças de 6 meses a menores de 6 anos, pessoas com 55 anos ou mais, grávidas, mães no pós parto, população indígena e pessoas com deficiência.

No ano passado o primeiro grupo foi das crianças e gestantes. Este ano, o objetivo é evitar que as pessoas acima de 60 anos precisem se deslocar no período esperado de maior circulação do novo vírus no país.

Ele também disse, a uma plateia de parlamentares, que os políticos estão na linha de frente da vulnerabilidade à doença, e recomendou que os parlamentares reforcem o hábito de limpeza com álcool gel nas mesas da Câmara e, em tempos de pré-campanha para as eleições municipais, reduzam o contato físico, como abraços e apertos de mão. "Vai ser uma campanha diferente."

O Ministério da Saúde anunciou que, até esta quarta-feira (11/03), 37 casos do novo coronavírus foram confirmados no Brasil. Estes casos estão nove Estados: São Paulo (19), Rio de Janeiro (10), Bahia (2), Espírito Santo (1), Minas Gerais (1), Alagoas (1), Distrito Federal (1) e Rio Grande do Sul (2). Outros 876 casos estão sob suspeita, e 880 foram descartados.

Há seis casos de transmissão local, quando o paciente pegou o vírus no Brasil, em São Paulo (5) e na Bahia (1).

Dos 37 casos, ao menos cinco estão hospitalizados — entre eles, uma paciente em Brasília cuja situação é grave e que respira com ajuda de aparelhos.

A mulher tem outras doenças, algo que contribui para o agravamento de sua condição, segundo o boletim médico divulgado pela secretaria de Saúde do Distrito Federal. Sua identidade não foi divulgada.

Entre todos os casos confirmados até agora no país, 41% são entre pessoas de 40 anos ou menos. Por isso, o ministério apontou que a circulação do vírus entre faixas etárias menores exige um cuidado maior com as crianças, mas alertou que, entre idosos, os quadros graves são mais comuns.

O ministro disse que, na fase inicial, o perfil das pessoas que pegaram o vírus reflete as pessoas que viajam mais ao exterior, mais jovens e de alta renda.

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