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Polícia diz que agentes facilitaram massacre de presos em Manaus e indicia 210 detentos

Oito meses após a morte de 56 detentos, investigação aponta que transferência de líderes de facção para presídios federais e chacotas entre os detentos motivaram matança.

1 set 2017 - 16h37
(atualizado às 17h14)
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Policiais militares chegam ao Compaj após massacre
Policiais militares chegam ao Compaj após massacre
Foto: BBC News Brasil

Oito meses após o massacre que deixou 56 pessoas mortas no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, a Polícia Civil encerrou seu inquérito e indiciou 210 detentos pelo crime. Os presos foram mortos a tiros e esquartejados no primeiro dia do ano, logo após o término do horário de visitas.

A conclusão das investigações da Polícia Civil, comunicada nesta sexta-feira, identificou os responsáveis pelo crime em massa após uma série de exames de necropsia e análise de DNA dos mortos. A equipe composta por dez investigadores, dois escrivães e cinco delegados ouviu 350 pessoas sobre o caso.

O inquérito tem 2,6 mil páginas com fotos, transcrições de áudios, depoimentos e laudos médicos. A investigação ainda apontou que agentes penitenciários e familiares dos presos facilitaram a entrada de armas no presídio e o início da rebelião, que resultou nas mortes.

Mas, segundo os delegados, isso será apurado em outro inquérito porque esse primeiro foi focado nos homicídios. Todo o conteúdo da investigação foi encaminhado ao Ministério Público nesta quinta-feira.

De acordo com o delegado-geral do Amazonas, Frederico Mendes, o inquérito "comprovou que o massacre foi causado pela rivalidade entre as facções criminosas Família do Norte (FDN) e Primeiro Comando da Capital (PCC)" em uma disputa pelo controle dos presídios da capital amazonense. A transferência de líderes da FDN para presídios federais no último ano também estimulou o massacre.

Rebelião e 56 mortes

De acordo com as investigações, a rebelião começou pontualmente às 15h59 do primeiro dia do ano. Quando as últimas pessoas deixavam o presídio, integrantes da FDN renderam agentes penitenciários e trocaram tiros com os policiais militares que estavam no portão que dá acesso à área do presídio conhecida como "seguro".

Presos em Manaus
Presos em Manaus
Foto: BBC News Brasil

Nesse setor estavam presos considerados vulneráveis, como aqueles acusados de crimes sexuais e quem não se identifica com nenhuma facção criminosa. Mas os principais alvos eram as 26 pessoas identificadas como membros do PCC. Apenas três delas sobreviveram ao massacre.

A ordem para a matança, segundo a polícia, partiu do fundador da FDN, José Roberto, preso em um presídio federal em Mato Grosso do Sul. A rebelião durou cerca de 17 horas - o presídio foi alvo de varreduras e os policiais encontraram 17 armas.

Os sobreviventes do massacre foram levados para um presídio na região, onde outras nove pessoas morreram em mais uma chacina.

A BBC Brasil foi o primeiro meio de comunicação a entrar nos dois presídios após os massacres. Na época, os presos disseram à reportagem que tomavam água da privada e viviam sob a ameaça de novas decapitações.

Chacotas do PCC

A delegada Emília Ferraz, que participou das investigações, disse nesta sexta-feira que piadas feitas por presos do PCC contra os detentos ligados à FDN e seus familiares também foi uma forte motivação para a chacina.

"Os alvos principais eram certos e já estavam marcados, enquanto outros bastavam ser os estupradores, presos vulneráveis ou apenas fazer parte do PCC", afirmou.

Compaj, em Manaus
Compaj, em Manaus
Foto: BBC News Brasil

O delegado-geral adjunto do Amazonas, Ivo Martins, disse que o setor de inteligência da polícia já havia identificado a possibilidade de ocorrer rebeliões de grande porte desde o dia 15 de dezembro de 2016, mas que não sabiam quando e que tentaram evitá-las.

"Isso até hoje a gente recebe. A gente tinha conhecimento de que algo poderia acontecer, entretanto, não sabíamos a data correta. Essa situação é inerente a informes desse sentido", afirmou.

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