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PE: áudios mostram PMs comemorando execuções de familiares de suspeito

Os policiais são réus pela morte de familiares de Alex Samurai, suspeito de ter matado dois PMs; mãe, irmãos e esposa foram executados

11 mar 2024 - 22h07
(atualizado em 12/3/2024 às 00h15)
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Execuções ocorreram após a morte de dois PMs em Camaragibe (PE)
Execuções ocorreram após a morte de dois PMs em Camaragibe (PE)
Foto: Reprodução

O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) denunciou 12 policiais militares do Estado por suspeita de terem participado de execuções de familiares de um suspeito de matar outros dois PMs. A denúncia foi feita com base em um relatório de inteligência da Polícia Civil de Pernambuco, que revelou áudios trocados por um aplicativo de mensagens em que os agentes aparentam estar comemorando as execuções.

O relatório secreto foi obtido pelo Jornal do Commercio. O documento investiga a morte de cinco familiares de Alex Samurai, suspeito de ter matado dois policiais militares, em uma ação em Camaragibe, no Grande Recife, em setembro do ano passado. Os PMs Eduardo Roque Barbosa de Santana, de 33 anos, e Rodolfo José da Silva, de 38, morreram na noite de quinta-feira, 14, e, até a manhã de sexta, 15, a mãe, esposa, irmã e dois irmãos de Alex apareceram mortos.

Sequência da troca de mensagens

As mensagens teriam sido trocadas ainda na noite da quinta-feira, segundo o registro do aplicativo WhatsApp. Um policial militar pergunta se tem viatura disponível e diz estar pronto para agir, além de incentivar uma caçada a Alex Samurai.

"Independente de qualquer coisa, meu véio, tem que fazer igual aos nossos irmãos do Sertão, quando pega, tora essas desgraças. Pode trocar tiro com a gente e deixar esses vermes vivos não, pra chegar na cadeia, se vangloriando, que tirou a vida de dois companheiros, dois pais de família, tem que torar, tem que pegar essas desgraças (...). Não atira na cabeça não, atira no tórax, debaixo da axila, de lado, meu irmão, atira no pulmão dele e socorre, deixa ele tomar no (...), o satanás levar esses desgraças", diz a transcrição de um áudio.

A equipe do núcleo de inteligência considera que a menção ao local onde acertar os tiros estaria relacionado a uma tentativa de não deixar evidente que ocorreu uma execução.

Depois de tomarem conhecimento das mortes dos PMs em Camaragibe, o então comandante do 20º Batalhão da PM, tenente-coronel Fábio Roberto Rufino da Silva, e Marcos Túlio Gonçalves Martins Pacheco, que ocupava o segundo posto de comando da inteligência da PM, convocaram uma reunião para dar início à perseguição a Alex Samurai e a seus familiares. O encontro aconteceu próximo à Faculdade de Odontologia de Pernambuco, e os agentes foram ao local em veículos descaracterizados.

"Todo, todo, tem meio mundo de carro a paisana aqui, serviço de inteligência e umas viaturas do Bope e do RP (Radiopatrulha) dando apoio. Aí a gente, a ideia é a gente chegar lá na situação, fazer. (...) Aí depois a equipe ostensiva chega para dar apoio", diz um dos áudios, que teria sido gravado durante a reunião.

O núcleo de inteligência considera que o termo "fazer" neste caso refere-se a um jargão criminoso/policial para "matar".

"Mata o pai dele, mata a mãe dele"

As trocas de mensagens continuam e aumentam as ameaças aos familiares de Alex Samurai. "Mata o pai dele, mata a mãe dele e quem tiver mais da família, pronto, deixa ele, deixa ele ficar pegando em fio elétrico."

"Sei que a vida dos companheiros não vai trazer mais, porém, ele vai se entregar? Ele ia tomar no (...) porque o pai dele, a mãe dele e quem tivesse mais na casa, tchau pra o louro, é assim numa guerra a gente não pode poupar ninguém, não, é assim numa guerra a gente não pode poupar ninguém, é dente por dente, fogo por fogo, meu filho (...)"

Em outro trecho, a equipe do núcleo de inteligência acredita que os PMs estão se referindo à companheira de Amerson Juliano da Silva, irmão de Alex, que teria sido torturada pelos agentes militares. "(...) A gente já conseguiu pegar a mulher dele aqui, já tava saindo da favela de uber. Aí a gente tá trabalhando ela aqui pra ver se dá onde ele tá. Me parece que ele tá querendo se entregar."

Pouco depois, Amerson e mais dois irmãos de Alex, Ágata Ayanne da Silva e Apuynã Lucas da Silva foram executados a tiros. Ágata, inclusive, fez uma transmissão ao vivo de sua própria morte. Antes, ela havia compartilhado que sua mãe havia sido sequestrada após ter a casa invadida por policiais militares.

Ágata fez comentários afirmando que mãe havia sido sequestrada
Ágata fez comentários afirmando que mãe havia sido sequestrada
Foto: Reprodução/Instagram

Comemoração após execuções

Depois das mortes dos familiares de Alex Samurais, os PMs trocaram áudios comemorando as mortes. "Zerou, acabou, zerou, foi eu que mandei a foto para o senhor", diz um soldado.

"Eu tô feliz, pô, tem que ser assim mesmo, pô, mexeu com a gente, a gente tem que ir, matar pai, mãe, família, quem tiver, tem que matar mesmo, (...), tem que botar pra (...) mesmo, tem que arregaçar. (...) pense na alegria, hoje o inferno tá feliz."

"Oxe, pelo que tô vendo vai ser de boa, visse? A gente ajeitou as coisas aí, muito coronel junto aqui também na situação. (...) Todo mundo a favor, todo mundo parabenizando, no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), todo mundo a favor, tá bem padrão a situação toda, de forma geral", afirma outro.

Ao todo, 12 policiais militares viraram réus pelos assassinatos de Ágata Ayanne da Silva, Apuynã Lucas da Silva e Amerson Juliano da Silva. Também está em investigação a morte da mãe de Alex, Maria José Pereira da Silva, e da esposa dele, Maria Nathalia Campelo do Nascimento, cujos corpos foram encontrados na manhã de sexta-feira, 15, em um canavial na cidade de Paudalho.

Alex Samurai também foi morto no mesmo dia, cerca de duas horas depois, em um confronto com a polícia, segundo divulgado oficialmente pela PM.

Veja os nomes dos PMs investigados:

  • João Thiago Aureliano Pedrosa Soares, 1º tenente;
  • Paulo Henrique Ferreira Dias, soldado;
  • Leilane Barbosa Albuquerque, soldado;
  • Emanuel de Souza Rocha Júnior, soldado;
  • Dorival Alves Cabral Filho, cabo;
  • Fábio Júnior de Oliveira Borba, cabo;
  • Diego Galdino Gomes, soldado;
  • Janecleia Izabel Barbosa da Silva, cabo;
  • Eduardo de Araújo Silva, 2º sargento;
  • Cesar Augusto da Silva Roseno, 3º sargento.
Fonte: Redação Terra
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