Nunes nomeia como assessor de gabinete ex-vereador condenado por antissemitismo
Adilson Amadeu (União) tem duas condenações em segunda instância por injúria e racismo contra judeus; procurados, Prefeitura alega que não há impedimento para nomeação e Amadeu não respondeu
O ex-vereador de São Paulo Adilson Amadeu (União), que teve cinco mandatos na Câmara, foi nomeado pelo prefeito da cidade, Ricardo Nunes (MDB), como assessor especial de seu gabinete. Amadeu, que atualmente é suplente no Legislativo, tem duas condenações à perda de mandato, em segunda instância, por injúria e racismo contra judeus.
A nomeação de Amadeu foi publicada na edição do Diário Oficial de quarta-feira, 15. O cargo que o ex-vereador ocupará foi criado pelo prefeito no fim do ano passado. A remuneração prevista é de R$ 17,3 mil por mês — quase R$ 10 mil abaixo do subsídio de vereador.
Em nota, a Prefeitura de São Paulo justificou a nomeação pela experiência política de Amadeu e informou que não há impedimento para que ele ocupe o cargo. "A pena no caso relacionado ao Adilson Amadeu foi prescrita", diz trecho da nota. O Estadão entrou em contato com a assessoria de Amadeu, que não respondeu até a publicação deste texto.
A Prefeitura também alegou que Nunes sancionou, em novembro de 2023, a lei que cria o Dia do Combate ao Antissemitismo e Fascismo. "Também em 2023 a Prefeitura aderiu à International Holocaust Remembrance Aliance (IHRA), organização integrada por 35 países que combate a negação do Holocausto e o antissemitismo em nível mundial. Portanto, esta gestão não admite, em hipótese alguma, qualquer tentativa de associação com eventuais episódios dessa natureza", afirma.
Entenda o caso
Em maio deste ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) confirmou a condenação em primeira instância de Amadeu a dois anos e meio de prisão e à perda do mandato por antissemitismo. Em 2020, ele foi acusado de ter enviado áudio pelo WhatsApp proferindo palavras preconceituosas aos judeus e de ter divulgado a mensagem em grupo.
No áudio, o vereador disse: "É uma puta duma sem-vergonhice que eles querem que quebra todo mundo, pra todo mundo ficar na mão, do grupo de quem? Infelizmente também os judeus, quando eu tô até respondendo um processo, porque quando entra Albert Einstein, grupo Lide é que tem sem-vergonhice grande, grande, sem-vergonhice de grandeza, de grandeza que eu nunca vi na minha vida."
No processo, Amadeu argumentou que compartilhou o áudio "com amigos de infância e que o alvo nunca foram os judeus, e sim a administração pública municipal e estadual, durante a pandemia".
Amadeu também havia sido condenado por injúria racial após ataques antissemitas ao vereador Daniel Annenberg (PSDB) em uma sessão na Câmara de São Paulo. Durante a discussão de um projeto, em dezembro de 2019, ele xingou o colega de "judeu filho da puta" e "judeu bosta".