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Mortes em Capitólio atingem famílias agora ligadas também pela dor

Cinco pessoas de uma mesma família estão entre os dez mortos; entre as outras vítimas: mãe, filha e namorado

9 jan 2022 - 19h37
(atualizado em 10/1/2022 às 16h39)
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Uma tragédia de famílias ligadas entre si em um passeio com as paradas alteradas. Dos dez mortos pela queda de um pedaço de rocha nos cânions de Capitólio, a 293 km de Belo Horizonte, no sábado, 8, cinco eram de um mesmo núcleo familiar, acompanhados de uma amigo. Outras duas vítimas eram mãe e filha e o namorado da mãe. Além desses, o marinheiro do barco. Todas as vítimas estavam em uma mesma lancha chamada Jesus, na região chamada de "Mar de Minas".

Neste domingo, 9, em Passos, a 100 km de Capitólio, a dor dos que foram ao Instituto Médico Legal (IML) identificar os corpos e fazer exames de DNA (para os que não eram possíveis de ser identificados), era a dor de rostos conhecidos. Pais, mães, padrastos, filhos, primos, sobrinhos e amigos. Quase todos, de uma forma ou de outra, com alguma relação.

Entre os cinco mortos da mesma família, o policial militar reformado Sebastião Teixeira, 68 anos, era casado com Marlene Teixeira. Eles eram pais de Geovany Teixeira da Silva, 41, e avós de Geovany Gabriel Teixeira da Silva, 14. Além deles, Thiago Teixeira, 30, era sobrinho do casal.

Outras duas vítimas, Carmen Pinheiro da Silva, 41, e Camila da Silva Machado, 21, eram mãe e filha. Carmen era namorada de Geovany, filho de Sebastião e Marlene. Camila também embarcou na lancha com o namorado: Maycon Douglas Deosti, de 25 anos.

Também morreram no acidente o marinheiro Rodrigo Alves dos Santos, 40, e Júlio Antunes. Todos os dez corpos foram resgatados.

O acidente deixou também 32 feridos, 23 foram atendidos e liberados na Santa Casa de Misericódia de Capitólio, segundo o Corpo de Bombeiros. A unidade da Santa Casa de Passos recebeu duas vítimas, segundo os bombeiros em estado estável. Já a Santa Casa de Piumhi atendeu mais duas com fraturas abertas, mas já liberadas. Outros quatro feridos ainda foram levados para a Santa Casa de São José da Barra e também deixaram o hospital.

Sentado em um banco do IML, olhar perdido em um ponto do teto, o pai de Maycon, Jânio Rodrigues, 49, reúne o que lhe resta de forças para perguntar ao legista se o corpo do filho seria liberado ainda no no domingo. O trabalho é lento. A maior parte das vítimas precisa ser reconhecida pelo exame de DNA, o impacto da rocha sobre o barco tornou o trabalho forense um quebra cabeças. "Ele era tudo…tudo. A mãe [dele] está lá em casa inconsolável", diz o homem que saiu de Sumaré, na região de Campinas, às 5h, para fazer a pior viagem de sua vida.

Ao seu lado, Eleandro Pinheiro da Silva, 39 ano. São quase conhecidos. Ele é irmão de Marlene e tio de Camila, a namorada do filho de Jânio. Olhos vermelhos, cabeça baixa, ele precisará colher sangue para o exame de identificação. Ele tenta falar alguma coisa, mas é impossível entender o que diz. Apenas balança a cabeça e espera.

Do lado de fora, Marileide de Fátima Rodrigues, 37, é amparada pela família. Ela é mulher do marinheiro Rodrigo Alves dos Santos, 40, que pilotava a lancha. Havia 5 anos o casal se mudou de Betim para Capitólio. Agora, ela fará sozinha o caminho de volta. "Aquilo era a vida dele. Morreu fazendo o que mais amava. Não sei o que te dizer, de verdade", afirma.

É o cunhado dela, Leandro Eduardo que tenta, então, explicar o que ouviu de marinheiros e funcionários do pier de onde partiu a lancha. "Não era para ele estar naquele barco. Normalmente ele pilotava outra. Eram três. Ele pediu para ir na Jesus", diz. Segundo ele, a ordem das paradas também foi alterada. "O primeiro lugar que ele pararia seria a Lagoa Azul, mas um dos turistas pediu para ir para a região dos cânions antes. Ele foi." Assim como foram a Passos, os familiares neste domingo.

Entre eles, a mãe de Giovany Gabriel, de 14 anos, Vanessa Oliveira Ferreira, 33 anos. A família mora em Serrania, na região de Poços de Caldas. No sábado, o menino deixou a cidade para o passeio ao lado dos avós, do pai e da namorada dele. Nada parece capaz de segurar a mãe em pé. "Ele era um menino doce", é só o que ela consegue dizer.

No início da noite, uma equipe do IML de Belo Horizonte chegou ao local para auxiliar na identificação dos corpos e análise dos exames de DNA. O trabalho pode se estender por até 30 dias. A dor dessas famílias que se cruzaram ainda antes do acidente de Capitólio ainda vai se arrastar. "Não sei como vai ser. Não, sei", diz a mulher do marinheiro.

Estadão
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