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Milhares seguem desabrigados no Amazonas após cheia histórica dos rios Negro e Solimões

Pelo menos 3.504 pessoas estão desabrigadas e 11.404 foram desalojadas pela Defesa Civil, totalizando 14.908 pessoas retiradas de suas casas. A vazante dos rios ocorre de forma lenta

9 jul 2021 - 10h10
(atualizado às 15h10)
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MANAUS - Três semanas após o pico da cheia histórica dos rios Negro e Solimões, no Amazonas, milhares de pessoas continuam desalojadas ou desabrigadas de suas casas. A vazante dos rios ocorre de forma lenta e os efeitos da inundação, classificada pela Defesa Civil como severa, estão longe de serem resolvidos.

A maior cheia do Rio Negro em 119 anos, quando teve início a medição a partir do Porto de Manaus, e a maior da história registrada do Solimões, em 49 anos de monitoramento, atingiu cerca de 455 mil pessoas em 52 municípios do Estado, sendo que 26 permanecem em situação de emergência.

A autônoma Marcilene Santos, de 38 anos, moradora do centro de Manaus, uma das áreas mais afetadas pela cheia do Rio Negro, teve de conviver com a enchente por não ter para onde ir. "A água subiu muito rápido, o que deu para salvar, a gente salvou. Mas a situação ficou bem precária, perdi duas máquinas de lavar, fogão, geladeira, a minha cama e as duas camas boxes que as minhas filhas dormiam. Prejuízo total", disse ela, solteira e mãe de três meninas, de 18, 16 e 9 anos. "Não temos nem onde dormir direito porque a estrutura da cama não suportou o volume da água e se desfez toda, os colchões, destruiu tudo", lamentou.

Pelo menos 14 escolas em oito municípios seguem interditadas e mais de 17 mil famílias tiveram suas produções agrícolas afetadas, o que impacta diretamente na oferta de alimento nas comunidades ribeirinhas e também na capital Manaus.

Nas comunidades mais afetadas, os moradores que permanecem nas regiões inundadas enfrentam dificuldades para conseguirem alimentos. As principais culturas afetadas são da banana, mandioca, hortaliças e o mamão. Segundo dados da Defesa Civil estadual, foram 17. 699 propriedades produtivas afetadas. As perdas ainda são contabilizadas.

Pelo menos 3.504 pessoas estão desabrigadas e 11.404 foram desalojadas pela Defesa Civil, totalizando 14.908 pessoas retiradas de suas casas. O maior número de pessoas removidas foi em Careiro da Várzea, com mais de 7 mil desalojados.

Apesar do processo de vazante ter começado há mais de três semanas, o ritmo de escoamento das águas é lento. As famílias que conseguiram preservar os imóveis e seguem nas moradias enfrentam problemas de comunicação e de acesso a praticamente todo tipo de serviço público ou privado.

O Rio Negro, que atingiu 30,02 metros em 16 de junho, no pico da cheia, maior marca registrada desde 1902, estava 29,80 metros acima do nível nesta quinta-feira, 8, e registrou uma vazante de apenas três centímetros nas últimas 24 horas.

Na região urbana de Manaus, onde os igarapés adentram a cidade, o acúmulo de lixo nas águas só tornou a situação ainda mais crítica, além de contribuir com a disseminação de doenças por causa da poluição com esgoto nessas partes da cidade.

A situação também impacta a gestão da pandemia, dificultando o acesso das comunidades a atendimentos e a vacinação. A Defesa Civil dos municípios juntamente com as prefeituras e o estado têm realizado força-tarefa para chegar até as comunidades mais distantes.

A principal referência para medição do nível da água no Amazonas, o Porto de Manaus, que é monitorado desde 1902, mostra que metade dos recordes de cheias ocorreram na última década: 2011, 2012, 2014, 2015 e 2013.

Distribuição de sementes e ampliação do crédito rural

De janeiro a junho deste ano, o governo do Estado já investiu mais de R$ 9,2 milhões em crédito rural para o setor primário. Desse total, R$ 6,9 milhões em projetos foram financiados por meio da linha de crédito emergencial, criada para apoiar famílias rurais afetadas pela cheia dos rios e para diminuir os impactos causados pela pandemia de covid-19.

Estadão
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