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Homem morre baleado próximo da 'nova Cracolândia', em SP

Caso ocorreu após a dispersão de usuários de drogas na área; Secretaria de Segurança Pública apura participação de policiais

13 mai 2022 - 11h06
(atualizado às 20h57)
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Um homem de 32 anos foi baleado e morto após um tumulto ocorrido na noite desta quinta-feira, 12, por volta das 20h30, na Avenida Rio Branco, na República, região central de São Paulo. O local fica próximo à Praça Princesa Isabel, região que ficou conhecida como nova Cracolândia, onde a polícia realizou operação na quarta-feira com o objetivo de prender traficantes e dispersar usuários de drogas que estavam instalados na região desde março.

Raimundo Nonato Rodrigues Fonseca Júnior, de 32 anos, vivia nas ruas e em albergues da capital paulista ao menos desde 2019. Ele era dependente de álcool e outras drogas e já havia sido internado em uma clinica psiquiatrica de Campinas, interior de São Paulo, onde nasceu. Raimundo já teve passagens pela polícia entre 2011 e 2012 por roubo e tráfico de drogas. De acordo com a polícia, ele possuía uma pedra de crack e R$ 27.

A confusão aconteceu durante uma operação policial de dispersão na Avenida Rio Branco. Segundo testemunhas, usuários de drogas tentaram depredar um ponto de ônibus. Foram ouvidos tiros e, em seguida, a vítima foi encontrada caída na calçada com um ferimento no peito. De acordo com o boletim de ocorrência, o homem foi levado para a Santa Casa, mas morreu em seguida.

O caso foi registrado como homicídio no 2º Distrito Policial (Bom Retiro) e encaminhado para 77º DP (Santa Cecília), responsável pela área, onde é investigado. O boletim de ocorrência aponta homicídio por autoria desconhecida. A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que três policiais civis se apresentaram voluntariamente, nesta sexta-feira, como autores de disparos. O caso está sendo investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa. A perícia vai apurar se o tiro que causou a morte do homem saiu da arma de um destes policiais e as circunstâncias do fato. A Corregedoria Geral da Polícia Civil de São Paulo também acompanha as investigações.

A Defensoria Pública do Estado está acompanhando o episódio para determinar se houve violação de direitos humanos nas ações da polícia na Cracolândia. Nas redes sociais, o padre Júlio Lancelotti, que atua em ações voltadas para ajudar moradores de rua e dependentes químicos, questionou como foi possível o disparo por um usuário se as armas foram apreendidas pela PM durante a operação realizada nesta semana.

Usuários de drogas ouvidos pelo Estadão na rua Helvétia nesta sexta-feira, 13, disseram que Raimundo estava com o grupo havia muito tempo, mas não souberam precisar quanto tempo. A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) informou que Raimundo esteve acolhido na rede socioassistencial da Prefeitura até 27 de abril de 2022, conforme registrado em sistema.

Sensação de insegurança na região

A concentração de usuários e traficantes era bem maior na Helvetia com a Barão de Campinas, perto da Avenida São João, do que em outros lugares, nesta sexta-feira, 13. Entidades assistenciais fizeram doação de marmitas neste novo endereço. As lojas mais próximas, como oficinas mecânicas vizinhas, ficaram fechadas.

A dispersão dos dependentes químicos para outros pontos da região central após operação policial contra o tráfico de drogas na Praça Princesa Isabel aumentou a sensação de insegurança de moradores e comerciantes. Lojistas trabalham só com meia porta aberta ou fazem horários alternativos com medo de saques e assaltos. Moradores temem espalhamento maior ou o retorno do tráfico de drogas.

Ao percorrer ruas dos bairros da Luz, Campos Elísios, Santa Cecília, Santa Ifigênia e Bom Retiro, o Estadão constatou que o chamado fluxo, grande concentração de usuários e traficantes, se dividiu em minicracolândias pelo centro da cidade.

Estadão
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