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'Guia dos Lugares Difíceis de São Paulo' revive cenários esquecidos

Livro do arquiteto e professor da USP Renato Cymbalista percorre 143 pontos para contar a história controversa deles

9 nov 2019 - 17h10
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SÃO PAULO - Monumentos, edifícios e praças concentram parte dos 465 anos de história de São Paulo como cenários de acontecimentos que, muitas vezes, são esquecidos no cotidiano - de tragédias a projetos de resistência política. Explorar essas histórias é o que norteia o novo livro Guia dos Lugares Difíceis de São Paulo.

Não se trata de um típico guia turístico da cidade. Organizado pelo arquiteto e urbanista Renato Cymbalista, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), o volume percorre 143 pontos da cidade e da região metropolitana da cidade para que o leitor conheça a história controversa deles, e não necessariamente apenas o que é monumental, antigo ou bonito.

"Partimos do que é tenso, disputado ou que foi invisibilizado", explica ele.

É o caso, por exemplo, do Pátio do Colégio, considerado o marco de fundação de São Paulo, que já teve fases de degradação e de reconstrução até tomar forma com o prédio atual, um museu que exalta a memória dos fundadores da cidade. Mas a cerca de 200 metros dali fica a antiga sede da Associação Auxiliadora das Classes Laboriosas (AACL), concluída em 1909 para abrigar atividades da entidade de trabalhadores.

Fechado na ditadura militar, o prédio foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), em 1995, mas há dez anos um incêndio destruiu a estrutura e até hoje continua em ruínas.

A ficha inicial do projeto, usada como modelo entre os alunos, relembra os prédios das do Destacamento de Operações e Informações e do Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi), instituições ligadas à repressão do Estado no período da ditadura militar. O conjunto de edifícios foi tombado em 2014 em São Paulo.

Para o professor, a questão principal não é pensar que São Paulo apaga a sua memória, mas que deve haver um esforço maior em lembrar dessas passagens históricas.

"Isso nos ajuda a problematizar desafios que são permanentes na sociedade - gênero, raça, diversidade, ditadura e tortura. Como olhar para frente e não aumentar o que não queremos mais", afirma Cymbalista.

Além do conhecimento, há outras medidas para manter tais lembranças vivas. Uma possibilidade, para ele, é ocupar os espaços com usos que mobilizam a história, como a Casa do Povo, no Bom Retiro, que surgiu no período entre guerras mundiais para sediar oficinas artísticas e eventos culturais. É possível recuperar a memória também por meio de monumentos físicos como a praça 17 de Julho, nos arredores do aeroporto de Congonhas, em homenagem às vítimas do acidente de um avião da Tam em 2007, ou pela narrativa popular, como acontece com o edifício Joelma, no centro, que foi destruído após um incêndio.

Para ele, iniciativas como essas colaboram, sobretudo, para enriquecer a dinâmica urbana e o exercício da cidadania.

"O guia é um artefato que ajuda as pessoas a aprofundarem o seu olhar da cidade e não aceitarem os discursos que vêm prontos sobre os lugares por onde transitam", diz o professor.

O livro foi lançado neste sábado, 9, na Casa do Povo (Rua Três Rios, 252, Bom Retiro).

Guia dos Lugares Difíceis de São Paulo

Editora Annablume

Preço: R$ 60

Estadão
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