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Brasil se aproxima de 500 mil mortes com Covid em alta e meses distante de impacto da vacinação

18 jun 2021 - 16h12
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O Brasil está perto de atingir a sombria marca de 500 mil pessoas mortas pela Covid-19, em um momento de aceleração da pandemia no país e com os primeiros efeitos da vacinação sobre a trajetória geral da doença esperados para não antes de setembro e, mais provavelmente, apenas no último trimestre do ano.

Familiares visitam túmulo de parente que morreu de Covid-19 em cemitério de Manaus
08/05/2021 REUTERS/Bruno Kelly
Familiares visitam túmulo de parente que morreu de Covid-19 em cemitério de Manaus 08/05/2021 REUTERS/Bruno Kelly
Foto: Reuters

O triste marco, a ser alcançado nos próximos dias e que mantém o Brasil como o segundo país do mundo com maior número de vítimas fatais da Covid atrás apenas dos Estados Unidos, também chega no início do inverno, quando a incidência de infecções respiratórias tem uma elevação, e em um momento em que aumentam as preocupações com variantes mais transmissíveis do coronavírus.

"A gente ainda está em uma situação extremamente crítica. Uma taxa de transmissibilidade extremamente elevada em uma boa parte das unidades da federação, uma taxa de ocupação de leitos que ainda é crítica em muitos lugares", disse o pesquisador Raphael Guimarães, do Observatório Covid da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

"É um cenário bastante próximo daquilo que a gente viveu há cerca de dois, três meses. A gente precisa mais do que nunca estar atento a isso para não voltar para aquela situação. Se a gente mantiver as coisas como estão hoje, provavelmente a gente volta àquele cenário", disse, referindo-se ao pior período da pandemia no Brasil, entre março e abril, quando a média móvel de sete dias de novos casos chegou a mais de 77 mil e a de mortes a mais de 3.100.

Neste mês de junho, a média móvel de sete dias de novos casos e novos óbitos causados pela Covid-19 vem registrando uma aceleração, chegando atualmente à marca de mais de 72 mil novos casos por dia em média e de mais de 2 mil novas mortes todos os dias. Até a noite de quinta-feira, segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil tinha 17.702.630 casos confirmados de Covid-19 e 496.004 mortes causadas pela doença.

O médico sanitarista, ex-presidente e fundador da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gonzalo Vecina Neto, também prevê uma aceleração da pandemia no Brasil nas próximas semanas, e dada a ainda baixa cobertura da vacinação --da ordem de 11% com as duas doses de uma vacina-- e a ausência do isolamento social, não descarta que a pandemia possa voltar ao pior patamar registrado entre março e abril.

"O que vai acontecer em termos de mortes daqui para frente, num primeiro momento é aceleração. Nós estamos vivendo a chegada dessas novas variantes e a variante indiana vai dar um baile na gente como deu na Índia", afirmou Vecina.

"Acho que vamos chegar a 700 mil, 800 mil mortes até a gente conseguir ter efeito da vacinação."

Ele criticou a falta de uma campanha das três esferas de governo para chamarem as pessoas a se vacinarem e criticou, principalmente, a gestão do governo federal na pandemia e as constantes falas do presidente Jair Bolsonaro contra o uso de máscara, contra as vacinas e contra o isolamento social.

"Nós não temos uma coordenação nacional", disse. "Tirar o uso de máscara é criminoso. A população precisa saber que isso é criminoso. Tirar o uso de máscara será um desastre na sociedade brasileira", acrescentou, referindo-se à declaração do presidente que defendeu o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras para os já vacinados e para os que já contraíram a doença, contrariando, mais uma vez, as recomendações de especialistas nacionais e internacionais.

PALAVRAS-CHAVE

O isolamento social, também tão atacado por Bolsonaro diariamente, é apontado por especialistas como medida crucial de combate à pandemia, aliado à vacinação da população que, também um consenso entre eles, precisa ganhar tração no Brasil.

"Está dependendo muito da vacinação, já que pelo visto ninguém concorda em diminuir a mobilidade um pouco mais. Isso também poderia ser uma coisa que ajudaria a baixar um pouco até que a gente conseguisse vacinar. Seria o ideal", disse a imunologista Ester Sabino, professora do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP).

"A gente realmente precisa aumentar muito a vacinação muito rapidamente. A palavra-chave seria essa, associada à questão da mobilidade", acrescentou.

Embora a vacinação contra a Covid-19 no Brasil já tenha mostrado resultados, ao reduzir as internações entre os idosos, grupo que recebeu a vacina após os profissionais de saúde da linha de frente, um impacto da imunização sobre a trajetória da doença no Brasil não é esperado tão já.

A expectativa é de que seja possível sentir os efeitos da vacinação nos indicadores gerais da pandemia entre o final de setembro e outubro, já levando em conta as antecipações recentes no calendário de vacinação anunciadas por algumas autoridades locais.

Esse cenário, no entanto, depende do cumprimento das promessas de entregas de doses e do não surgimento de novas variantes capazes de driblar os efeitos das vacinas.

"Agora que optaram fazer (a vacinação) por faixa etária, acho que a coisa anda", disse o médico, epidemiologista e professor da USP Paulo Lotufo.

O Plano Nacional de Imunização determinou que os idosos, aqueles com mais de 60 anos, fossem vacinadas inicialmente e depois as pessoas com comorbidades, também por ordem de faixa etária.

"Essa história das tais comorbidades e os profissionais de saúde lentificou muito a aplicação, porque as pessoas ficavam muito tempo controlando atestados e outras coisas e não fizeram o fundamental que era buscar quem faltava tomar a segunda dose."

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