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Apesar de conquistas, "Abiymania" perde força na Etiópia

2 abr 2019 - 07h56
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Primeiro-ministro Abiy Ahmed está no poder há um ano. Em tempo recorde, ele implantou uma política liberal no país e é celebrado como reformador. Mas a lista de desafios ainda é longa.A Etiópia está vivenciando uma guinada: desde que assumiu o poder, o primeiro-ministro Abiy Ahmed empreende uma enorme agenda de mudanças: tratado de paz com a vizinha Eritreia, reformas econômicas e conversações de reconciliação com a oposição. O novo premiê conseguiu tudo isso em apenas um ano, mas está enfrentando fortes ventos contrários vindos de seus opositores políticos.

Abiy Ahmed fez uma série de reformas em seu país desde que assumiu o poder há um ano
Abiy Ahmed fez uma série de reformas em seu país desde que assumiu o poder há um ano
Foto: DW / Deutsche Welle

Quando Ahmed foi empossado como primeiro-ministro, em 2 de abril de 2018, o país já se encontrava há quatro anos em crise. Devido a protestos violentos contra a coalizão de governo EPRDF, por duas vezes fora imposto o estado de emergência. A instabilidade no país de 100 milhões de habitantes ameaçava crescer.

A situação na região de Oromia, em que está localizada Adis Abeba, era particularmente difícil. Desde 2014 houve violentos confrontos entre as forças de segurança e a população. O motivo era o plano do governo de incorporar algumas partes da região à área da capital.

Oromia é um dos nove estados da Etiópia. Embora os Oromo formem o maior grupo populacional no país, eles se sentem política e socialmente marginalizados por outros grupos étnicos, que também dominam a coalizão de governo EPRDF.

Após os longos protestos populares, a coalizão de governo EPRDF prometeu, de repente, encontrar soluções e retirou-se por 17 dias para consultas a portas fechadas. Em 15 de fevereiro do ano passado, o primeiro-ministro Hailemariam Desalegn renunciou inesperadamente ao cargo.

Um mês depois, membros do partido EPRDF se reuniram para eleger um novo presidente para a legenda, que tradicionalmente assume o cargo de chefe de governo. Depois de apenas sete dias, Ahmed foi eleito para a chefia partidária. Em 2 de abril, o Parlamento ratificou o nome do novo primeiro-ministro, de apenas 42 anos. Com ele, pela primeira vez, um Oromo lidera o governo da Etiópia.

Ahmed logo iniciou seus trabalhos. Dentro e fora do país, ele recebeu grandes elogios pela libertação de centenas de presos políticos, jornalistas e ativistas. E foi ainda mais longe: repatriou figuras da oposição que estavam no exílio e permitiu debates abertos sobre temas políticos.

O professor de estudos de paz e conflitos Kjetil Tronvoll, da Universidade Bjørknes de Oslo, diz ver tudo isso de forma positiva: "Ele acabou com o Estado autoritário e permitiu uma variedade de opiniões", afirma.

Esse sucesso é visível nas ruas de Adis Abeba: jornais e revistas estão vendendo bem, já que não precisam mais imprimir só a opinião do governo. A mídia eletrônica está conquistando o mercado e fornecendo uma plataforma para diálogos abertos. Os grupos de oposição também podem se organizar livremente.

Merera Gudina, presidente do partido da oposição Medrek e professor de Ciências Políticas na Universidade de Adis Abeba, também é da opinião de que Ahmed merece o reconhecimento de ter mudado a legislação repressiva. Ele afirmou, no entanto, sentir falta de um cronograma para as eleições de 2020.

"Falta um consenso nacional entre os partidos políticos", critica Gudina. Tronvoll concorda, mas enfatiza: "Os críticos devem considerar que Ahmed é apenas uma pessoa."

Há também críticas ao primeiro-ministro porque os conflitos étnicos estão aumentando. Há 3 milhões de deslocados no país. "Eu não digo que o primeiro-ministro é responsável pelo surto de conflitos. Mas seu maior erro é não responder de forma mais concreta a isso", afirma Tronvoll. "Isso torna a vida de muitas pessoas insuportável."

Devido à violência étnica, Ahmed também adiou um censo. Alguns defendem esse passo porque ele representaria um risco de mais instabilidade. Outros veem isso como um problema para as eleições marcadas para maio de 2020.

Logo no início de seu mandato, a política externa de Ahmed recebeu grandes elogios. Ele pôs fim à animosidade com a vizinha Eritreia. No final da década de 1990, os dois países se aventuraram numa sangrenta guerra de fronteira.

Ahmed foi o primeiro a implementar uma decisão do Tribunal Permanente de Arbitragem de 2002 - na ocasião, a corte havia confirmado a fronteira em favor da Eritreia. Ele também se encontrou com o líder eritreu, Isais Afewerki. Seu diálogo diplomático também recebe apoio nos países vizinhos Sudão, Somália e Djibuti.

No entanto, esse processo de paz não foi suficientemente apoiado por acordos adicionais que regulassem de forma vinculativa o comércio, a moeda, as questões de nacionalidade ou de segurança entre os dois países, avalia Tronvoll. "Não há documento vinculativo como base para a paz com a Eritreia, existe apenas uma declaração de intenções, assinada em julho 2018 em Asmara."

Depois de um ano no poder, o fenômeno "Abiymania" arrefeceu. "O primeiro-ministro deve estabelecer prioridades e não tentar lutar todas as 'batalhas' de uma só vez. Ele tem que superar os desafios que lhe são trazidos por seu próprio partido e pela oposição", acrescenta Tronvoll.

Por ocasião de uma visita de Estado à Alemanha, em outubro 2018, no entanto, 20 mil exilados etíopes vieram receber o primeiro-ministro em Frankfurt. Em Addis Abeba, as pessoas percebem as reformas Ahmed, mas o ceticismo permanece.

"Sim, houve reformas com Abiy. Mas houve deslocamentos internos de pessoas e divisões étnicas dentro dos partidos políticos. Existe esperança, mas também ameaça" resume Tigstu Awelu, do partido da oposição UDJ.

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