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Análise: Diplomacia como empreendimento familiar

A indicação de Eduardo Bolsonaro para o cargo confirma o novo normal; para o governo, é o melhor dos mundos: reafirma o olavismo das nossas relações exteriores e ainda traz a diplomacia para o grande empreendimento familiar

12 jul 2019 - 11h44
(atualizado às 12h02)
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Em 2012, circulou a notícia de que a então senadora do PT, Marta Suplicy, seria a próxima embaixadora em Washington. A indicação de Dilma Rousseff teria sido parte de um acordo para que a petista abandonasse o projeto de concorrer à prefeitura de São Paulo.

Mesmo que Marta tenha imediatamente vindo a público negar a informação, ela não conseguiu evitar as reações negativas vindas, sobretudo, de membros do Itamaraty. Embaixadores comentavam que a nomeação colocaria em risco a credibilidade do País. Um deles chegou a sugerir a exoneração do chanceler, Antonio Patriota, por sequer permitir que o nome de Marta fosse cogitado.

Colocando o estranhamento político-partidário de lado, os diplomatas tinham, de fato, um argumento corporativo para não querer que uma senadora assumisse a mais prestigiosa embaixada bilateral. Desde meados do governo Lula, todas as chefias de postos diplomáticos no exterior eram ocupadas por diplomatas de carreira.

A única e compreensível exceção foi feita ao físico Laércio Vinhas, pesquisador com longa trajetória na área nuclear, indicado em 2011 para representar o Brasil junto à Agência Internacional de Energia Atômica.

Pelo seu peso político, econômico e simbólico, a embaixada em Washington sempre foi um dos postos mais desejados da diplomacia brasileira. Por lá passaram figuras emblemáticas como Joaquim Nabuco e Moreira Salles. Nada menos que cinco ex-embaixadores nos EUA tornaram-se chanceleres. Três ex-chanceleres deram sequência à carreira diplomática servindo na capital norte-americana.

Pode-se inclusive dizer que elite diplomática da Nova República foi forjada em Washington. Além dos que viraram ministros de Estado, passaram por lá Marcílio Marques Moreira, Rubens Ricupero, Rubens Barbosa, Paulo Tarso Flecha de Lima, Roberto Abdenur e Sérgio Amaral.

Com a proposta de romper com o passado imediato, a Nova Era na diplomacia começou a se afirmar quando Olavo de Carvalho, guru do governo, disse que não gostaria de assumir ministérios, mas que se contentaria com a embaixada nos EUA. Ao contrário de tempos atrás, não houve reação pública.

A indicação de Eduardo Bolsonaro para o cargo confirma o novo normal. Para o governo, é o melhor dos mundos: reafirma o olavismo das nossas relações exteriores e ainda traz a diplomacia para o grande empreendimento familiar que é marca da gestão Bolsonaro.

*PROFESSOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS (FGV)

Estadão
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