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Janja protagonista pode modernizar a função de primeira-dama

Depois de se tornar pop entre os eleitores, Janja se prepara para ser a primeira-dama do terceiro mandato de Lula

9 nov 2022 - 11h36
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 A próxima moradora do Alvorada diz com todas as letras que é feminista e não vai se contentar em seguir a cartilha de uma primeira-dama convencional.
A próxima moradora do Alvorada diz com todas as letras que é feminista e não vai se contentar em seguir a cartilha de uma primeira-dama convencional.
Foto: Reprodução/Instagram

Michelle Bolsonaro caminha pelo Alvorada e alerta a filha Laura, 12 anos, de que ela deve se apressar. De malas prontas, precisam desocupar o local onde viveram nos últimos 4 anos. Os Silva estão a caminho. Entre eles, a nova integrante da família, Rosangela da Silva, a Janja.

A cena é hipotética, mas a chegada de Janja ao Alvorada traz uma certeza: ela será uma primeira-dama muito diferente de suas antecessoras. A começar porque Janja gosta de política, faz parte de sua personalidade. Foram os rumos da política que selaram o encontro entre o presidente eleito e a socióloga de 56 anos, nascida no interior do Paraná. O romance floresceu tendo como pano de fundo um dos capítulos mais recheados de reviravoltas da história recente brasileira. Primeiro a queda, depois a prisão, o julgamento colocado sob suspeita, a liberdade e a redenção. E no meio desse turbilhão, surgiu uma história de amor. Como disse Lula certa vez, ele conseguiu "a proeza" de, enquanto estava preso, arrumar uma namorada, se apaixonar e ainda ouvir da amada que ela aceitava se casar. 

Outro fato a ser considerado é que a  próxima moradora do Alvorada diz com todas as letras que é feminista e não vai se contentar em seguir a cartilha de uma primeira-dama convencional, que se dedica basicamente a atividades assistenciais. Michelle Bolsonaro fugiu o quanto pode das polêmicas envolvendo seu nome e foi uma figura distante nos 4 anos de governo do marido. Tornou-se mais presente na reta final da campanha para diminuir a rejeição que Bolsonaro tinha entre o eleitorado feminino. Marcela Temer, por sua vez, assim que o marido Michel Temer assumiu a presidência, ganhou um perfil na Revista Veja que acabou se convertendo mais em bullying do que em elogio.

Graças ao título da reportagem, Marcela não se livrou mais da alcunha "bela, recatada e do lar". Se pensarmos que, quase oito décadas antes, já tínhamos exemplos de primeiras-damas atuantes, como foi o caso da estadunidense Eleanor Roosevelt, com papel decisivo na Declaração Universal dos Direitos Humanos, as virtudes de Marcela Temer representaram um tremendo retrocesso para as mulheres.

Janja mostrou a que veio antes mesmo de Lula assumir o mandato. Foi um dos primeiros nomes definidos na equipe de transição do novo governo e vai cuidar dos preparativos da cerimônia de posse, que acontece em 1º de janeiro. A futura primeira-dama quer dar um toque menos sisudo à cerimônia. Se depender dela, uma das estrelas do evento será a cadelinha Resistência, a vira-lata de pelo preto que vivia no acampamento Lula Livre, enrolada numa bandeira com a estrela do PT, em frente a Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, até ser adotada por Janja.

Após dias de luta, Resistência pode subir a famosa rampa do Planalto ao lado de Lula e Janja no dia da posse. Terá depois muito tempo para se esbaldar pelas dependências do Palácio da Alvorada. Menos mal. O último cachorro adotado que passou por ali, batizado de Augusto Bolsonaro, nem pode desfrutar do lugar. De porte imponente, Augusto, um pastor-maremano branco (segundo o Wikipedia, uma raça classificada como cão guardião de gado) na verdade, se chamava Zeus e tinha dono. Teve que ser devolvido dias depois. Com Resistência, o desfecho tem tudo para ser mais feliz. 

Até recentemente, Janja parecia estar processando a mudança que vai acontecer a partir de janeiro. A mulher de Lula retuitou um vídeo, com vários momentos dela dançando, em que o usuário da rede social dizia não ter caído a ficha de que aquela figura alegre e cheia de ginga seria a primeira-dama. “Por aqui também não caiu", escreveu Janja.

"Um dia você é uma família comum. Daí a eleição acontece e sua vida muda na hora", relatou Michelle Obama. Na visão da ex-primeira-dama dos Estados Unidos, a chegada à Casa Branca foi como se sua família fosse lançada por um canhão para um novo cenário, uma nova vida, agora cercada por protocolos rígidos, compromissos oficiais e sendo alvo de um escrutínio constante. Desde a roupa escolhida ao gesto feito em público, tudo passa a ser visto com lupa, segundo a mulher de Barack Obama.  

Janja deve estar preparada para as críticas. Provavelmente vão surgir comentários questionando o grau de influência que ela pode ter junto a seu marido presidente do Brasil. Talvez não seja nada muito diferente do que acontece em outros casamentos, nas relações em que as mulheres não são apenas coadjuvantes nas vidas dos maridos. Ou será que Michelle não conversava com o Obama sobre as questões de seu país? Ou Brigitte Macron da França, que rejeita inclusive o título de primeira-dama, consiga separar a vida familiar dos assuntos de trabalho do marido Emmanuel Macron?  

Minha aposta é que Janja vai dar uma dimensão de carne e osso à função de primeira-dama. Não ficará encastelada, longe dos holofotes, apenas cuidando de Lula. Vamos nos acostumar a vê-la dançando e sorrindo ao lado do marido. Ouviremos suas opiniões, saberemos de suas ideias para empoderar mulheres e planos sobre assuntos sensíveis à sociedade, de um jeito menos protocolar. Humanizar o poder é também permitir que a população se sinta representada, sobretudo num lugar que leva o nome de Palácio.

Fonte: Redação Nós
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