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Servir e proteger quem? Moradores da baixada santista experimentam a vingança do Estado

Enquanto a polícia for o mecanismo mais eficaz dentro das periferias, nada irá mudar a realidade do país

3 ago 2023 - 10h58
(atualizado em 26/10/2023 às 09h27)
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Tudo começou no dia 27 de julho quando um policial da Rota foi morto durante uma patrulha na baixada santista. Ele foi atingido no ombro e acabou não resistindo. Na mesma operação, outro policial também foi atingido na mão. Após o triste assassinato do agente, o Estado, através da força policial, resolveu formar uma operação chamada Escudo para identificar e punir os envolvidos no crime. A operação Escudo já matou ao menos 16 pessoas e, segundo os próprios moradores da região, parece que eles estão em guerra com a comunidade e aterrorizar a população faz parte do projeto.

Não é a primeira vez - e nem será a última - que isso acontece. Com frequência vemos que mortes de policiais geram forte retaliação. Me parece que a polícia age dessa forma para que em outras incursões os bandidos pensem duas vezes antes de atirar nos policiais. Não estou aqui para passar pano para quem matou, ou mata, um agente do Estado, muito pelo contrário, acho que deve ser preso, julgado e passar seus bons anos na cadeia. Contudo, não acho plausível que toda uma região seja oprimida para que isso aconteça. Os moradores que são, em sua grande maioria, periféricos já vivem em uma situação péssima de moradia e saneamento básico. Também são eles as vítimas diárias do que hoje a operação Escudo jura estar combatendo.

Operação Escudo já matou ao menos 16 pessoas e, segundo os próprios moradores da região, parece que eles estão em guerra com a comunidade e aterrorizar a população faz parte do projeto
Operação Escudo já matou ao menos 16 pessoas e, segundo os próprios moradores da região, parece que eles estão em guerra com a comunidade e aterrorizar a população faz parte do projeto
Foto: Taba Benedicto/Estadão / Estadão

O Estado deveria entrar nas periferias com educação, saúde, lazer e cultura. Se houvesse “operações escudo” com o intuito de ensinar, o impacto social seria muito maior do que o que estamos vendo hoje em dia. Não seria maravilhoso ver tantos agentes do Estado dentro da Vila Baiana, Vila Zilda, Morrinhos, Morro do São Bento e Jabaquara, todos esses bairros no Guarujá mesmo, levando mutirão de saúde? Com atendimentos médicos e terapêuticos dentro das comunidades durante uma semana? Por que será que o Estado arranja tempo e recurso para desencadear operações de retaliação e não de prevenção? A quem interessa a perpetuação do tráfico, da pobreza e da escassez de recursos?

Com isso não estou querendo dizer que a polícia não deve estar nas favelas. Longe disso! Apenas que não deve ser a principal intervenção. Assim como não acredito que os soldados, que são a base da polícia, sejam o principal problema nessas questões. Claro que eles têm ali sua parcela de culpa, sobretudo com a 'síndrome do pequeno poder', mas eles também estão sob ordens e doutrina, que alimentam a violência contra a população mais vulnerável.

A realidade é que quando vamos parar e analisar friamente - e eu sei que isso é muito complexo, por isso eu não cobro esse tipo de análise de quem está lá sendo oprimido, sem poder sair de casa, sem dormir direito e com medo de ser a próxima vítima - são negros matando negros, são pobres oprimindo pobres, enquanto a burguesia branca segue colhendo os frutos da exploração.

Por isso que não chega educação na base. Porque, no momento que o povo entender que tudo é perfeitamente orquestrado para a manutenção do privilégio de uma minoria, o jogo muda. Mas enquanto o jogo não muda, não podemos ser condescendente como a violência policial e nem com a morte de inocentes. Então, se você quiser denunciar possíveis atrocidades que estão ocorrendo na região da baixada, ligue para a Defensoria Pública do Guarujá no (13) 2101-9000 ou para o Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos nos números (11) 3107-5080 / (11) 94220-8732.

Fonte: Redação Nós
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