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‘Fui atrás da caçamba’: os desafios de entregadoras para encontrar um banheiro

Elas trabalham de dez a doze horas por dia e precisam se virar atrás de sanitários. No período menstrual, é pior

14 ago 2025 - 04h59
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Resumo
Procurar shoppings para usar o banheiro; consumir e depois pedir para usar; abastecer várias vezes, em pequenas quantidades, e a cada abastecimento, aproveitar para ir ao banheiro do posto: eis algumas das estratégia de entregadoras de moto e bicicleta em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Florianópolis. Conheça os relatos.
Eduda Souza, 31 anos, raramente encontra banheiros limpos, femininos e, menos ainda, unissex, como nesta rede de lanchonetes.
Eduda Souza, 31 anos, raramente encontra banheiros limpos, femininos e, menos ainda, unissex, como nesta rede de lanchonetes.
Foto: Arquivo pessoal

“Banheiro é a parte mais difícil. A gente consegue comer sentada na moto, na calçada, encosta em algum lugar pra esticar as pernas. Mas para as necessidades fisiológicas, não tem jeitinho”, resume Tatiane Reis, 27 anos, de São Paulo, sobre o que considera a principal dificuldade das mulheres que fazem entrega de moto e bicicleta.

A solução que ela encontra é a mais citada pelas entrevistadas desta reportagem: procurar banheiros de shoppings e redes de fast-food, especialmente lanchonetes – não porque tenham destinado sanitários a motoqueiras e entregadores em geral, mas porque não têm como controlar o fluxo de pessoas.

Banheiro em posto de gasolina em São Paulo. São bastante acessíveis, mas em geral estão sujos e são feitos para homens.
Banheiro em posto de gasolina em São Paulo. São bastante acessíveis, mas em geral estão sujos e são feitos para homens.
Foto: Arquivo pessoal

Postos de gasolina, outra solução, podem ter banheiros de portas abertas, mas em geral são sujos e para homens. “Sempre carrego meu kit higiene: escova, pasta de dente, absorvente, dipirona, papel higiênico e álcool em gel, pra limpar os acentos”, explica Tatiane, que no período menstrual precisa ainda mais de banheiro.

Consumir para se sentir autorizada a pedir para usar o banheiro é outra estratégia. “Eu tomo muita água, é horrível, eu seguro demais, dói muito. Tem vezes que eu compro alguma coisa para, depois, pedir para ir ao banheiro”, diz Eduda Souza, 31 anos, mulher trans. Ela memorizou locais onde pode usar sanitários, e somente um, em grande rede de lanchonetes, tem banheiro unissex.

Tatiane Reis, de São Paulo, entregadora, leva produtos de higiene para limpar os assentos nos vasos dos banheiros.
Tatiane Reis, de São Paulo, entregadora, leva produtos de higiene para limpar os assentos nos vasos dos banheiros.
Foto: Arquivo pessoal

Absorvente para segurar o xixi

“Uso protetor diário sempre, um mini absorvente fino”, diz Emily Pereira de Oliveira, 23 anos, de São Paulo, sobre sua estratégia de prevenção, caso não consiga segurar a urina. Por outro lado, conter é arriscado e causou infecção urinária à motoqueira Fernanda Neri, 32 anos, de Taboão da Serra (SP).

A necessidade também a levou a ultrapassar um sinal vermelhando, desesperada em busca de banheiro. “Até chorei, o aplicativo não vai ressarcir, a gente é ser humano, cara, não quer ficar mijada no meio da rua. Trabalhei o dia inteiro para tomar três multas. Os aplicativos deviam fazer campanha para os restaurantes liberarem o banheiro”.

Rose Santana, 35 anos, faz entregas de moto em Florianópolis (SC), e narra um perrengue comum. “Estava querendo ir no banheiro, entrei numa rua paralela, aleatória, vi uma padaria, pedi para usar. Falaram que não tinha banheiro. Daí andei mais pra frente e fui atrás de uma caçamba, ia fazer nas calças”.

Emily Pereira de Oliveira encontra banheiro em condição de uso por uma mulher em farmácia da zona sul de São Paulo.
Emily Pereira de Oliveira encontra banheiro em condição de uso por uma mulher em farmácia da zona sul de São Paulo.
Foto: Arquivo pessoal

Entregadora de bicicleta evita tomar líquidos para ir menos ao banheiro

Entregadoras de bicicleta tomam mais água e, naturalmente, precisam ir mais ao banheiro. Mas Lilian Alessandra de Azevedo Paulo, 38 anos, encontrou uma saída radical em São Paulo. “Evito tomar líquidos quando vou para as entregas. Assim consigo não ter que ficar usando banheiro com frequência”, conta Lilian, que teve sanitário negado até por atendente feminina em posto de gasolina.

No Rio de Janeiro, Maria Eduarda Fonseca de Carvalho, 31 anos, trabalha de dez a doze horas por dia, de segunda a sábado. Faz entregas de bicicleta para o iFood. Pedala por Leblon, Ipanema e Copacabana, onde não há ponto de apoio do aplicativo. “Em lugares chiques, a gente costuma nem pedir. Olham com cara feia”.

Em Belo Horizonte (MG), Jéssica Magalhães, 34 anos, integra o grupo Minas do Trecho, que se uniram para lutar por melhores condições de trabalho. Ela diz que existem poucos banheiros disponíveis, a maioria masculinos. “Para a mulher entrar, passa por um corredor de mictórios, tem que abrir a porta para ver se não tem nenhum homem mijando. E são banheiros para fazer xixi, no máximo”.

Jéssica Magalhães, de Belo Horizonte, integra o grupo Minas do Trecho, por melhores condições de trabalho para as entregadoras
Jéssica Magalhães, de Belo Horizonte, integra o grupo Minas do Trecho, por melhores condições de trabalho para as entregadoras
Foto: Arquivo pessoal

O que dizem os aplicativos?

A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) responde por aplicativos como 99, Uber, Zé Delivery, Shein e Amazon. Em nota, a Amobitec informou que seus associados “possuem uma rede de pontos de apoio no país por meio de parcerias com estabelecimentos comerciais”, mas não informou a quantidade.

O iFood mantém pontos de apoio a entregadores em 15 cidades brasileiras. São locais com banheiro, internet, microondas. Na capital paulista, existem dois; e mais quatro no estado de São Paulo. Não funcionam 24 horas, como o aplicativo.

Quantos aos pontos de apoio, o iFood informa, em nota, que “segue avaliando novas oportunidades para expandir a iniciativa e ampliar o suporte aos entregadores em diferentes localidades”.

Fonte: Visão do Corre
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