Duas mulheres negras que tiveram suas histórias de luta negligenciadas pela história
Elas lutaram por suas comunidades e não receberam a visibilidade que mereciam
Ao longo da história, mulheres negras desempenharam papéis importantes em lutas por justiça, igualdade e liberdade, mas muitas foram silenciadas, seja pelo peso da opressão sistêmica, pela marginalização de suas figuras ou pela imposição de estereótipos que as tornaram invisíveis.
Relembre as histórias de duas mulheres que marcaram a luta negra no mundo e não receberam o reconhecimento merecido.
Banida pelo Apartheid
Miriam Makeba, a cantora sul-africana e ativista conhecida como “Mama África”, teve sua história de vida marcada pela coragem em desafiar o apartheid. Seu ativismo político, combinado com talento musical, tornou Makeba uma das vozes mais importantes contra o regime de segregação racial da África do Sul.
No entanto, isso também a transformou em um alvo. Após seu poderoso discurso na Assembleia Geral da ONU em 1963, onde denunciou a opressão racial e apelou por intervenção internacional, Makeba foi banida de seu país natal.
A decisão do governo sul-africano de revogar sua cidadania e banir seus discos musicais não apenas a exilou, mas também a tornou apátrida por mais de 30 anos. Apátridas são indivíduos que não têm nacionalidade reconhecida por nenhum país.
A carreira internacional da cantora também sofreu boicotes, especialmente após seu casamento com o ativista Stokely Carmichael, porta-voz dos Panteras Negras, o que fez o casal buscar refúgio na Guiné. Makeba, no entanto, nunca desistiu de sua luta.
Na década de 1990, após o fim do regime, ela foi recebida de volta à África do Sul pelo presidente Nelson Mandela. A artista continuou cantando e fazendo shows. Miriam Makeba morreu em novembro de 2008, na Itália.
Segregação racial em Montgomery
Claudette Colvin é um exemplo de como mulheres negras, mesmo quando protagonistas de momentos históricos cruciais, podem ser apagadas da narrativa oficial.
Em março de 1955, nove meses antes de Rosa Parks ficar mundialmente reconhecida por se recusar a levantar de um assento no ônibus para dar lugar a um homem branco, Colvin, com apenas 15 anos, também negou ceder o lugar em que estava para uma pessoa branca em um ônibus na cidade de Montgomery, no Alabama (EUA).
Sua detenção e o subsequente tratamento desumano ao qual foi submetica, ao ser levada para uma prisão de adultos e colocada em uma cela insalubre, revelam o peso da repressão que sofria por desafiar as leis de segregação racial. No entanto, o silenciamento que Colvin sofreu não veio apenas das autoridades brancas, mas também da própria comunidade negra.
Embora ela tenha sido uma das primeiras a desafiar o sistema segregacionista nos transportes públicos, a Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor e outros líderes do movimento pelos direitos civis optaram por não tornar o caso público. A organização e seus aliados preferiram promover a história de Rosa Parks, que tinha pele mais clara, status de classe média, educação e era casada.