Script = https://s1.trrsf.com/update-1727287672/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Com recorde de candidaturas, estudo aponta importância do voto em mulheres negras

Pesquisa inédita do movimento Mulheres Negras Decidem faz um balanço sobre os mandatos de parlamentares negras entre 2019 e 2023 e aponta ampla atuação na garantia de direitos

26 set 2022 - 18h16
(atualizado às 18h33)
Compartilhar
Exibir comentários
Ilustração mostra mulheres negras com cartazes.
Ilustração mostra mulheres negras com cartazes.
Foto: Imagem: Reprodução/Mulheres Negras Decidem / Alma Preta

Com as eleições se aproximando e número recorde de candidaturas de mulheres negras registradas (5.232), segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o movimento Mulheres Negras Decidem (MND) lança, nesta segunda-feira (26), um estudo inédito sobre o legado dos mandatos de parlamentares negras. O intuito da pesquisa é levar para o debate público mais amplo a importância de se eleger mais mulheres negras e de sistematizar os feitos políticos dessas parlamentares nos últimos 4 anos. 

Durante quatro meses, a organização acessou o universo de 58 parlamentares autodeclaradas pretas ou pardas, conforme a base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de cinco regiões do país em diferentes cargos políticos: Deputadas Estaduais (43), Deputadas Federais (13), Deputada Distrital (1) e Senadora (1).

"Nós não tínhamos informações sistematizadas sobre quantas eram as mulheres negras eleitas em 2018. Então, o principal objetivo foi essa sistematização das contribuições das mulheres negras na última legislatura. É importante para toda a sociedade entender quem são essas mulheres, quantas são e como elas atuaram nos últimos quatro anos", relata Gabrielle Abreu, historiadora e coordenadora da pesquisa. 

Embora haja um crescente número de mulheres negras ocupando cargos eletivos, ainda assim, elas representam apenas 3% nos parlamentos brasileiros, mesmo compondo o maior grupo demográfico do país: 28% da população. O estudo mostra que o percentual de mulheres negras na Câmara dos Deputados é de pouco mais de 2% e apenas 1% do Senado Federal. A proporcionalidade é ainda menor quando observamos o escopo de mulheres trans e travestis nos parlamentos, representando 1,7%.

A revelia desses dados, a pesquisa mostra que apesar da baixa representação política, neste período (2019-2023), foram identificadas 8.367 proposições e 357 viraram leis sobre direitos das mulheres, combate ao racismo, direitos dos povos tradicionais, educação básica e saúde pública. 

Gabrielle Abreu explica que as temáticas dessas proposições encontradas na atuação dessas parlamentares têm uma relação histórica com o movimento de mulheres negras: 

"Para gente é muito claro que existe um fio condutor nas temáticas da atuação dessas mulheres parlamentares e o que o movimento de mulheres negras historicamente tem levantado enquanto urgências no Brasil. Então, esses cinco temas não à toa são temas que estão na ordem do dia de todo e qualquer movimento de mulheres negras no Brasil".

Perfil das parlamentares

Segundo o levantamento, 62% das mulheres negras estão exercendo o primeiro mandato e a grande maioria está na faixa etária entre 40 e 59 anos. Apenas 5% dessas parlamentares possuem 70 anos ou mais. Esses dados sinalizam as dificuldades enfrentadas por jovens negras de chegarem aos cargos eletivos. 

No âmbito da formação educacional, 70% das parlamentares negras possuem ensino superior e são formadas em profissões como  jornalismo, medicina, assistência social, enfermagem, odontologia, arte plástica, música, pedagogia, professoras da educação básica e do ensino superior, comerciante, contadora, fisioterapeuta, astrônoma e historiadora. Os dados sobre a ocupação das parlamentares negras indicam que muitas delas exerciam trabalho qualificado antes de serem eleitas. Algumas, inclusive, já trabalhavam em cargos públicos eletivos, quase metade das parlamentares negras (42%) têm experiência na gestão pública. 

Outra questão levantada pelo relatório é sobre a maternidade, entre as 58 parlamentares negras analisadas, 67% são mães e quatro delas tiveram filhos ao longo do mandato. A pesquisa Perfil da Mulher na Política (2020) informa  que ser mãe pode desmotivar mulheres a almejarem uma carreira na política institucional devido à sobrecarga de trabalho. Em contrapartida, estudos mais recentes explicitam que há mulheres que, pelas experiências que tiveram com a maternidade, buscam as carreiras políticas para formular leis que possibilitem melhores condições de vida para outras mulheres mães.

Além disso, o estudo também versa sobre a identificação racial e de gênero dessas parlamentares. Das 58 mulheres negras pesquisadas 19 se autodeclararam pretas e 39 pardas. Sobre a identificação de gênero, os dados dos sites responsáveis pela publicização de informações eleitorais não evidenciam a identidade de gênero e levam em consideração apenas a classificação binária: masculino e feminino.

O relatório pontua que "a ausência de especificidade dessa informação diz muito sobre o retrato da política brasileira, em que, primeiro há uma baixíssimo número na representação de pessoas trans eleitas e, segundo, não há o devido cuidado com o manuseio das informações dessas pessoas. Os efeitos colaterais dessas constatações são diversos, mas para a presente pesquisa nos cabe sinalizar sobre o perigo de se reforçar a sub-representação".

Quando o assunto é religião, o levantamento identificou a religião de 37 das 58 parlamentares eleitas. Metade das parlamentares negras eleitas são cristãs, sendo 29% católicas e 20,7% evangélicas; 6,9% têm religião de matriz africana e também 6,9% são de outra religião.

Perfil partidário

Na pesquisa, o espectro político associado às parlamentares analisadas, considerando a flutuação e variação ideológica dos partidos nos últimos anos,  aponta que é possível considerar que quase a metade delas estará filiada a partidos considerados de esquerda ou centro-esquerda em 2022. 

Paralelamente, 14 parlamentares estarão filiadas a partidos considerados do 'centrão' e da terceira via; enquanto 16 delas estão filiadas a partidos mais à direita do espectro político. 

Para Gabrielle, um ponto interessante sobre a presença dessas mulheres em partidos de direita ou centro é que mesmo fora do espectro político da esquerda, o acúmulo político delas ainda está relacionado com as agendas do movimento de mulheres negras.

"Existe um número muito expressivo também de mulheres negras parlamentares filiadas a partidos de direita ou centro. O curioso é que até mesmo nessas mulheres percebemos uma relação muito grande com os temas que são prioritários pro próprio movimento de mulheres negras", afirma.

Por fim, a coordenadora da pesquisa pontua que o lançamento do estudo próximo das eleições é uma estratégia para incidir no voto das pessoas que ainda não decidiram pelos seus candidatos. 

"A última semana antes das eleições do primeiro turno é crucial para que as pessoas decidam seus votos. Queremos incidir na decisão das pessoas para que votem em mulheres negras conhecendo e reconhecendo seu enorme legado na política brasileira", finaliza.

"Meu voto vale muito": campanha incentiva escolha de candidaturas de mulheres feministas progressistas

Alma Preta
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade