"Coloquei o meu carro pra vender em uma loja e ele foi financiado sem eu saber", diz vítima de golpe
Consultora automotiva há 12 anos, Val Mendes, deixou sua Renault Master em consignação e descobriu que ela havia sido financiada pelo lojista
Trata-se de uma prática comum autorizar uma loja de seminovos vender o seu carro em consignação, a praxe de mercado é pagar uma taxa ao lojista pela venda e ele fica responsável pelos anúncios do carro e também pela negociação com o novo comprador.
Porém há registros de inúmeros casos recentes de golpe nessa modalidade. O carro é vendido pela loja, mas o dono nunca recebe o valor da venda, portanto fica sem o carro e sem o dinheiro.
A consultora automotiva, Val Mendes, 47 anos, mesmo atuando com compra e venda de automóveis há 12 anos acabou sendo vítima dessa fraude.
"Eu permiti que a minha Renault Master 2013 ficasse 'consignada' em uma loja em Jundiaí (SP), que era da minha confiança, e ela me enrolou dois anos para devolver o bem e ainda o financiou sem o meu consentimento", conta Mendes.
Val conta que com tanto tempo de mercado no comércio de carros usados é uma prática comum contar com lojas parceiras para aumentar as chances de vendas de um carro, mas depois do golpe não recomenda a consignação para ninguém.
"Não há um contrato específico para a consignação e o lojista acaba tendo liberdade para executar a venda ou o financiamento sem a ciência do proprietário", afirma.
Val relata que foi 'enrolada' pelo lojista por um ano e chegou a contratar um detetive particular para saber o paradeiro da sua Renault Master. "Em março de 2024, quase um ano sem o carro, descobri que o dono da loja havia financiado a van em nome de um terceiro e só tive ciência desse fato porque fui notificada da falta de pagamento de IPVA e que entrava em dívida ativa."
A consultora automotiva que já tem mais de 20.000 veículos comercializados durante a sua trajetória entrou com uma ação judicial contra o lojista e registrou um Boletim de Ocorrência para reaver o bem, fato que aconteceu recentemente.
"Eu consegui ter a Master de volta, mas entrei com a ação judicial para conseguir cancelar o financiamento e também reaver os custos que tive com tributos pagos com atraso, além do dano moral", conclui.
Vale lembrar que nesse golpe tanto o dono quanto o comprador são lesados, pois o proprietário não recebe o valor da venda e o comprador não consegue transferir o carro para o seu nome. Apenas a loja é beneficiada.
Como se proteger da fraude do consignado?
A consignação de um veículo é uma prática comum e ela pode ser segura segundo a assessora-chefe do Procon-SP, Carina Minc.
"O grande problema é a informalidade contratual, basta que o proprietário do veículo exija um contrato com todos os detalhes da negociação. Com isso a possibilidade de fraude reduz drasticamente", afirma Minc.
Outra recomendação é não entregar ao lojista os documentos originais do veículo e não se deixar encantar por fachadas bonitas e quantidade de carros importados à venda para 'deixar de lado' a feitura do contrato.
"Já atendi consumidores, vítimas desse tipo de golpe, que confiaram na idoneidade da loja pelo fato de ter outros carros consignados com valores elevados e esse fato não é garantia de nada", relata Carina.
A investigação desses golpes é desafiadora porque a fraude simula, a princípio, uma simples quebra de contrato ou inadimplência comercial, já que o bem foi entregue voluntariamente. A complexidade é agravada pelo uso de empresas de fachada ou laranjas, dificultando a responsabilização.