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03/05/2000
UM HACKER EM DEFESA DA LIBERDADE
Agência RBS
Richard Stallman, o norte-americano que criou o movimento do software free, já foi comparado a um profeta do Velho Testamento. Cabeludo, barbudo, de gênio difícil, ele despreza Bill Gates, o bilionário dono da Microsoft, e corre o mundo propagando a idéia de que não se deve pagar pelo uso de programas de computadores. Amanhã, Stallman estará em Porto Alegre, onde participa do 1º Fórum Internacional Software Livre, organizado pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul e pela prefeitura.
Visto como um dos mais brilhantes programadores de computador do mundo, o ex-hacker Stallman preside a Free Software Foundation, entidade sem fins lucrativos, dedicada à criação de programas que podem ser copiados livremente. Liberdade de copiar, mudar e partilhar informações são princípios morais para esta figura, responsável por centenas das linhas de código que hoje formam o sistema operacional GNU-Linux, o representante mais ilustre do movimento do software livre.
– Sou o último sobrevivente de uma cultura morta – declarou recentemente em uma reportagem para o site 21st – The Culture of Technology, referindo-se aos anos 70. Na época, Stallman trabalhava no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e convivia em uma comunidade de hackers que dividia tudo, principalmente códigos de programas.
Nas décadas seguintes, os computadores se espalharam, e os melhores programadores do MIT abandonaram a militância hacker por empregos bem remunerados. Alguns viraram empresários. Inconformado, Stallman criou a Free Software Foundation e se dedicou à construção do GNU, um sistema operacional protegido contra a propriedade, com um novo tipo de licença de uso. A idéia era criar uma nova comunidade de hackers, com liberdade para criar e cooperar.
Deu certo, milhares de hackers em todo o mundo aceitaram o desafio e criaram o sistema operacional que hoje é, equivocadamente, chamado de Linux. O programador corrige os que cometem esse erro na sua presença, conta o site 21st:
– O Linux, escrito por Linus Torvalds, é apenas o kernel do sistema operacional, o código que faz a conexão entre as diferentes partes do computador, o hardware e o software, para o GNU. Linus Torvalds escreveu o kernel para o GNU. O sistema completo inclui milhares de outros programas, criados por hackers de todo o mundo. O correto é dizer o GNU-Linux, para falar do sistema operacional livre.
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UM ESTILO DE VIDA
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As idéias de Richard Stallman
estão espalhadas pela Internet:
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Quando se vive em uma sociedade livre, tem-se um tipo de vida. Quando se vive
em uma sociedade totalitária, sem liberdade, os nossos relacionamentos são moldados
pelo medo. Em uma sociedade proprietária, as relações são determinadas pelo medo
da polícia da informação, hoje representada pela Associação dos Fabricantes de
Software. |
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Existe uma filosofia associada ao GNU. Esta é a razão de existência do sistema.
O software free não é apenas confiável e conveniente. Mais importante que isto
é a questão da liberdade, a liberdade de cooperar. |
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É perda de tempo brigar com a Microsoft. O problema é o nosso tipo de vida. |
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Em vez de nos preocuparmos com o que alguém que não está sob o nosso controle
vai fazer, devemos nos preocupar com o que podemos fazer sobre as coisas que estão
sob o nosso controle. |
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Free software significa que o usuário tem certas liberdades, como usar e adaptar
o programa às suas necessidades. Isso se faz por meio da leitura do código-fonte
que terá algumas partes alteradas. |
“Decidi
construir algo novo para recuperar o que foi perdido. Eu queria fazer outra comunidade
hacker, com as mesmas virtudes da anterior”
O pingüim foi escolhido por Linus Torvalds para ser o símbolo do GNU-Linux
por ser uma ave de nações frias, como a Finlândia, país do programador. |
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