Vampire: The Masquerade - Bloodlines 2 encontra seu caminho depois de anos turbulentos
Lançamento da Paradox sobreviveu a trocas de estúdio e muita incerteza
Depois de um desenvolvimento marcado por idas e vindas, Vampire: The Masquerade - Bloodlines 2 finalmente saiu do limbo. O jogo passou por mudanças de direção, troca completa de estúdio e anos de silêncio que deixaram qualquer fã desconfiado sobre o que ainda existia do projeto original. A sequência de um clássico tão cultuado parecia cada vez mais improvável, até que a The Chinese Room assumiu o controle e trouxe uma nova visão sobre Seattle e seu submundo vampírico.
O resultado é um título que carrega cicatrizes do seu desenvolvimento, mas também mostra personalidade ao encontrar seu próprio tom. Não tenta replicar o caos e a liberdade do primeiro Bloodlines, mas aposta em narrativa, atmosfera e personagens capazes de sustentar essa nova fase da série.
A Máscara quebrada mais uma vez
A história de Vampire: The Masquerade - Bloodlines 2 se passa na Seattle do século XXI, durante o Natal, onde assumimos o papel de Phyre, um vampiro ancião intitulado de Nômade que desperta de 100 anos de torpor com uma marca misteriosa que limita seus poderes. Com décadas perdidas pelo sono eterno e uma realidade totalmente desconexa do que já viveu, entramos numa cruzada de mistério envolvendo as facções e clãs de vampiros atuais, em busca de entender quem nos amaldiçoou, como se adaptar aos tempos modernos e por que um certo personagem está na nossa cabeça.
Além de controlar um nômade durante boa parte do jogo, Fabien também se destaca como uma presença constante. Ele aparece na mente do protagonista, guiando e contextualizando tudo o que está acontecendo nesses tempos modernos, e funciona quase como um segundo protagonista. Em momentos específicos da história ocorre uma troca de perspectiva e, com Fabien, o título assume um tom mais investigativo. Seus poderes são voltados para influenciar pessoas e obter informações, criando um contraste interessante por mostrar dois acontecimentos paralelos.
Fabien é um dos poucos personagens realmente fortes do jogo e isso acaba destacando ainda mais os problemas de escrita. Em várias cenas fica claro que houve boas ideias em alguns trechos e pouco cuidado em outros, principalmente quando o Nosferatu Tolly entra em cena, com diálogos que estão entre os mais desinteressantes da campanha.
A trama em Vampire é bem interessante e acerta em vários momentos. As missões principais, mesmo com poucas variações, prendem fácil por conta do universo que o jogo apresenta. Todo o mistério em torno da marca na mão do protagonista e os dramas de cada família são bem desenvolvidos. Fabien, como já foi dito, ajuda muito a criar esse contraste ao mostrar alguém deslocado no tempo e, arrisco dizer, se ele fosse o protagonista de fato, o título se destacaria ainda mais.
Se tratando da parte RPG do jogo, dá para dizer que ela é bem tímida. Até temos escolhas em alguns eventos, como entregar um personagem para um certo grupo ou cumprir um contrato exatamente como foi combinado. Eu diria que, entre os lançamentos dos últimos anos, o sistema de RPG de Vampire se aproxima do que aconteceu com Cyberpunk, onde as escolhas servem mais para definir o final e moldar relações do que realmente alterar o mundo ao redor.
O sistema de afinidade com os personagens também é um pouco confuso, porque não dá para saber exatamente como os laços estão evoluindo. Em alguns momentos o jogo avisa que um diálogo deixou alguém mais entusiasmado ou irritado, mas sem deixar claro se aquilo está levando a algum lugar.
Outro ponto que deixa explícito o quanto o RPG é limitado é a escolha feita no começo do título. Podemos dar a Phyre um passado específico, escolhendo a qual clã ele era afiliado. Isso funciona como uma forma de definir quais habilidades serão mais fáceis de desbloquear, enquanto outras exigem mais pontos. Além disso, certos personagens do mesmo clã acabam ganhando diálogos extras, mas nada que realmente mude algo. É só um conteúdo a mais, bem no estilo do caminho de vida escolhido em Cyberpunk.
O combate pode parecer confuso no início, principalmente pela ausência de armas de fogo como no Bloodlines anterior, mas aos poucos se torna divertido. Lutar usando apenas os punhos e desbloquear habilidades que deixam tudo mais rápido e brutal funciona bem. O protagonista também usa telecinese para arremessar facas, canos e até escopetas encontradas no cenário. Essas armas não ficam no inventário, então precisam ser usadas no momento em que aparecem.
Fora o combate, a travessia pelo mapa é um ponto que fizeram de forma muito divertida. Por ser um vampiro tão antigo, com força e experiência diferentes dos outros clãs, o Nômade se destaca principalmente pela velocidade. Podemos pairar pelos telhados, escalar canos e escadas de forma muito rápida e atravessar Seattle com animações bem fluídas. A desenvolvedora acertou nisso, já que se deslocar pelo mapa acaba sendo tão natural e dinâmico que dá vontade de repetir por horas.
Entre os principais problemas do jogo, o desempenho é o mais evidente. O título não está entre os visuais mais impressionantes da geração. Há pontos de Seattle que ficam bonitos por causa da neve acumulada, mas isso perde o impacto durante a exploração e os combates. As quedas de desempenho são constantes e em vários momentos foi preciso recorrer ao truque de olhar para o céu para ver se a taxa de quadros estabilizava novamente.
A cidade de Seattle também não ajuda muito quando tentamos explorar além da história. O mundo parece vazio, com poucas atividades que realmente chamam atenção. Existem missões secundárias e algumas interações com outros clãs, mas tudo é rápido demais e não acrescenta tanto à sensação de estar vivendo naquela Seattle vampírica.
O mapa é pequeno, com poucos lugares interessantes para explorar e, fora das missões, a única atividade realmente útil são as ressonâncias de sangue, essenciais para evoluir as habilidades vampirescas. O problema é que esse sistema se torna cansativo. É preciso esperar a movimentação dos NPCs, encontrar um ponto seguro e só então se alimentar. Se alguém vê a ação, a Máscara é quebrada e isso pode resultar em fim de jogo, já que alguém da corte aparece imediatamente para lidar com a situação.
Considerações
Bloodlines 2 chega depois de um caminho complicado, daqueles que poderiam ter enterrado de vez uma sequência que muitos já tinham desistido de esperar. A troca de estúdios deixou marcas, algumas bem claras na estrutura limitada de RPG e na falta de ambição em certos pontos da campanha, mas isso não impede o jogo de encontrar uma identidade sólida. A narrativa funciona, Fabien brilha quando aparece, a travessia pela cidade é um dos pontos altos e o combate, mesmo simples, evolui conforme o jogador destrava habilidades.
O desempenho e o mundo pouco inspirado pesam bastante, assim como a sensação de que muita coisa poderia ter ido além. Ainda assim, Bloodlines 2 consegue entregar algo que, mesmo imperfeito, honra parte da essência da franquia e abre espaço para imaginar um futuro mais estável para o universo de Vampire. Para quem esperou tanto tempo, é um jogo que vale conhecer, mesmo que deixe aquela sensação de que faltou um pouco mais de ousadia.
Vampire: The Masquerade – Bloodlines 2 está disponível para PC, PlayStation 5 e Xbox Series.
Esta análise foi feita no Xbox Series, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela ID@Xbox.