Sorry We're Closed apresenta um survivor horror que foge do padrão
Um jogo de terror sobre sentimentos
Nem todo terror precisa se basear em sustos repentinos ou corredores escuros. Às vezes, o verdadeiro medo está nas escolhas que fazemos e nas consequências que elas carregam.
Esse é o caso de Sorry We're Closed, desenvolvido pela A la Mode Games, o primeiro projeto do estúdio. O título não apenas captura a essência dos clássicos do terror por meio de seu estilo gráfico estilizado, mas também se destaca pela sua mecânica e forma narrativa.
Entre anjos e demônios
Em Sorry We’re Closed, acompanhamos a tranquila vida de Michelle, uma jovem que mora no subúrbio de Londres. Após um término conturbado, sua ex-namorada se tornou uma atriz de novela, e agora Michelle precisa lidar com a dor de vê-la na TV enquanto tenta seguir em frente, dividindo seu tempo entre o trabalho em um mercadinho e os momentos com os amigos. No entanto, certa noite, um demônio chamado “The Duchess” a desperta de seu sono com um único desejo: ser amado. A partir desse encontro, a vida de Michelle toma um rumo inesperado, e ela se vê presa a uma maldição que precisa ser resolvida em poucos dias.
Após ser amaldiçoada, Michelle adquire um dom que lhe permite enxergar anjos e demônios pelas ruas de sua cidade, além de descobrir a verdadeira forma de alguns de seus amigos. Com isso, ela se vê diante de desafios e dilemas inesperados, precisando correr contra o tempo para quebrar a maldição ou aceitar seu destino.
Michelle sabe que a única maneira de enfraquecer a vilã e quebrar a maldição é indo em busca de outras vítimas que também foram amaldiçoadas. No entanto, como toda boa história, outros personagens surgem em seu caminho, oferecendo missões que influenciam no final. Nossa protagonista também conta com a ajuda de amigos que revelam sua verdadeira natureza após a maldição, como Robyn. Além disso, há Lucy, sua vizinha silenciosa que, na verdade, é um demônio. Ela aparece nos pontos de salvamento para conversar e até oferece um pacto para trazer sua ex de volta — mas cabe a você decidir se aceita ou não essa proposta.
Quando encerramos o dia, uma pequena recapitulação da relação com os outros personagens é exibida. Essa mecânica também serve para alertar caso tenhamos esquecido de atender a um pedido, já que eles estão vinculados ao dia em que foram feitos. No meu caso, deixei de entregar uma carta que me foi confiada, e o 'Dream Eater', que surge no início da história e atua como locutor nesses momentos, foi quem me avisou sobre o erro. Ter esse tipo de aviso ao fim do dia da Michelle é bem legal e agrega bastante ao fator replay, ainda mais considerando que ele tem cerca de sete horas de duração.
A narrativa e seus personagens são, sem dúvida, um dos pontos mais altos. A forma como Michelle lida com seus dois conflitos é muito bem escrita, e os dilemas dos personagens secundários adicionam ainda mais profundidade. O jogo coloca o jogador diante de uma escolha interessante: auxiliar os outros ou focar somente na própria maldição. No entanto, a falta de localização para o português pode dificultar a compreensão da história para quem não domina inglês.
Um Survival Horror diferente
Para ser sincero, o horror é quase nulo. Apesar dos monstros grotescos e de alguns demônios com visuais distintos, muitos acabam sendo cômicos durante as conversas. Em contrapartida, os ambientes explorados na busca por outras vítimas da maldição são bem mais interessantes. Os locais abandonados criam uma sensação constante de perigo, como se algo pudesse surgir a qualquer momento, mas, quando os encontros finalmente acontecem, acabam não sendo tão impactantes assim.
É visível que o título presta homenagem a franquias como Silent Hill e Alone in the Dark, e não apenas pelo estilo gráfico 'low poly'. As referências também aparecem na narrativa e no design das fases, que exigem retroceder para resolver puzzles ou adquirir itens essenciais para o progresso. Essas inspirações são um grande acerto, e mesmo com o estilo gráfico estilizado, a maneira como as cenas são construídas adiciona um charme extra à experiência.
Em termos de jogabilidade, há dois tipos de controle disponíveis: o moderno e o estilo tanque, que remete aos clássicos e combina com a câmera fixa. No entanto, a movimentação no estilo tanque deixa a desejar. Minha recomendação é ir direto para o controle moderno, que se encaixa muito melhor com a experiência. Isso acaba sendo irônico, já que a proposta é transmitir a sensação de um título antigo.
O combate é interessante e direto. Nosso arsenal se resume a um machado, uma pistola e uma escopeta, cada um com visual e som distintos ao recarregar. Durante os combates, a câmera muda para uma perspectiva em primeira pessoa, tornando os confrontos mais imersivos.
O dom concedido pela maldição também é útil nas lutas. Ao ativar o 'Third Eye', podemos marcar os pontos fracos dos inimigos, representados por corações. No entanto, alguns adversários não são eliminados mesmo após destruirmos todos os corações. Para isso, entra em cena uma habilidade especial das armas, chamada 'Heartbreak', que só pode ser usada quando sua barra é preenchida ao acertar os pontos fracos dos inimigos.
Essa mecânica também é essencial contra os chefes, que só podem ser derrotados dessa forma. No entanto, apesar da proposta, as batalhas contra chefes acabam não sendo tão desafiadoras, pois todos seguem um padrão semelhante. Além disso, embora o 'Third Eye' funcione bem contra inimigos comuns, seu uso nos chefes pode ser frustrante.
Considerações
Sorry We’re Closed é uma experiência intrigante, apesar de não ser um survival horror tradicional, ele acerta na ambientação e na forma como envolve o jogador nas decisões da protagonista. O sistema de combate é funcional, mas poderia oferecer mais variedade, principalmente nas lutas contra chefes. A ausência de localização para português pode ser uma barreira para alguns, mas a história e os personagens cativantes compensam. No fim, é um jogo que vale a pena para quem busca algo diferente no gênero.
Sorry We're Closed está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Switch, Xbox One e Xbox Series X|S.
Esta análise foi feita no Xbox Series S, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela ID@Xbox.