Master Lemon: The Quest for Iceland surpreende com aventura cheia de emoção
Jogo brasileiro chama a atenção pela sensibilidade e forma como usa as palavras para criar impacto
Destacar um jogo brasileiro nunca é simples. O mercado está sempre cheio de lançamentos grandes e campanhas de marketing que abafam qualquer produção menor. Mesmo assim, alguns projetos conseguem romper essa barreira e conquistar espaço só pela força do que entregam. Nos últimos anos vimos isso acontecer com Mullet Madjack, Dandara, Blazing Chrome, Dodgeball Academia, Horizon Chase e outros nomes que provaram que o cenário nacional tem cada vez mais voz.
Com esse cenário em mente, Master Lemon aparece como aquele tipo de projeto que surge de forma discreta, mas pega ritmo rápido pela sinceridade do que entrega. A história tem peso, a homenagem por trás dela dá outro significado para cada passo do Limão na ilha e a forma como a aventura usa palavras para mover o jogador mostra um cuidado raro.
O poder das palavras
Master Lemon The Quest for Iceland é uma história cativante sobre Limão, um jovem que estava passando um tempo na Islândia até ser transportado misteriosamente para um lugar cheio de segredos chamado Ilha Bashires. O lugar enfrenta um problema que só o Limão poderia ajudar a resolver, já que ele é poliglota e tem um domínio especial sobre as palavras.
O coração da história está justamente no fato de Limão ser o único da ilha capaz de aprender palavras e ajudar a restaurar o equilíbrio, já que uma escuridão está tomando conta de tudo e afetando os moradores. Limão é quase um Alan Wake para aquele povo, e até essa ideia do poder das palavras lembra o personagem da Remedy, só que sem toda a parte de buscar sua musa.
Tudo passa a fazer ainda mais sentido quando entendemos o contexto do desenvolvimento do jogo. Ele é uma homenagem muito bonita a um amigo que se foi, e Limão honra o legado deixado por ele. No fim, a história fala sobre como as palavras ultrapassam qualquer barreira e impactam a gente de maneiras diferentes. A forma como a desenvolvedora escolheu fazer isso é encantadora e muito respeitosa com a memória do André Lima, a pessoa homenageada por trás do jogo.
Durante a jornada e na exploração da ilha, a principal mecânica é descobrir novas palavras para resolver quebra-cabeças e avançar pelos cenários. É isso que move o jogo além da narrativa. A desenvolvedora soube usar muito bem o fato de o Limão ser poliglota, e ao longo da aventura desbloqueamos palavras que vão além do português e do islandês. Cada uma vem com sua tradução correta para o jogador entender o que significa e aprender junto com o personagem.
Um ponto impossível de não elogiar é a direção de arte. Por ser um jogo 2D, eu não esperava nenhum tipo de animação e achei que seria aquele estilo tradicional que mistura pixel art com visão panorâmica. Master Lemon até tem isso, mas vai muito além. Logo no começo, o jogo me ganhou com um pixel art animado lindo, que no final ainda entrega uma cena triste pelo momento que representa. Esse contraste acontece bastante, já que o jogo tem momentos para rir e outros que realmente deixam a gente mais mexido.
Os quebra-cabeças são bem intuitivos, já que basta usar as palavras corretas para resolver cada um. Eles não são difíceis e até acho que poderia ter mais em cada ilha, já que o objetivo é livrar cada uma delas da escuridão. Ao limpar esses locais, também liberamos algumas missões secundárias rápidas e fáceis, mas muito legais devido aos personagens que encontramos. Dá para perceber que muitos deles vêm de culturas diferentes e trazem diálogos que fazem a gente refletir sobre algumas coisas da vida.
Joguei no Steam Deck e ele roda perfeitamente no portátil da Valve, sem nenhum problema de desempenho. E claro, o jogo brasileiro conta com dublagem e legendas em português. Meu único ponto, que vai variar de pessoa para pessoa, é a duração. Ele é bem curto e dá para terminar tranquilamente em uma tarde. Explorar tudo aumenta um pouco o tempo, mas nada muito grande. Para alguns jogadores isso pode ser um problema, mas para outros é exatamente o tipo de experiência leve e diferente que estavam procurando.
Considerações
Master Lemon: The Quest for Iceland funciona porque tudo nele conversa com a proposta emocional do projeto. A história é envolvente, o visual tem identidade, as palavras impulsionam a jogabilidade e a homenagem por trás do protagonista dá um peso que fica claro em cada ilha que visitamos. Os quebra-cabeças poderiam ser mais variados e a duração é curta, mas nada disso diminui a força da experiência.
É uma jornada pequena em escopo, mas grande no que representa, tanto para quem joga quanto para quem entende o carinho colocado no desenvolvimento. Mais um bom exemplo de como o cenário brasileiro continua crescendo com projetos que sabem tocar quem está do outro lado da tela.
Master Lemon: The Quest for Iceland está disponível para PC, PlayStation 5, Switch, Xbox One e Xbox Series.
Esta análise foi feita no PC, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Pepita Digital.