Hollow Knight: Silksong entrega sequência que faz a longa espera valer cada segundo
A aguardada sequência da Team Cherry mostra que mais de seis anos de espera podem render uma experiência memorável
Poucos jogos carregam tanto mistério em torno de seu lançamento quanto Hollow Knight: Silksong. Anunciado em 2019, o projeto da Team Cherry passou anos sem novidades concretas, alimentando teorias, incertezas e até a ideia de que o desenvolvimento estava enfrentando problemas.
A espera, no entanto, se provou um período de refinamento. Silksong chega como uma sequência que não só expande o universo criado em Hollow Knight, como reafirma o peso da franquia no cenário indie. Mais ambicioso, mais desafiador e cheio de novas ideias, o jogo mostra que, às vezes, anos de silêncio podem render uma experiência que compensa a paciência.
Uma forasteira em terras desconhecidas
Seguindo os eventos de Hollow Knight, agora controlamos Hornet, uma adversária que se tornou aliada no título anterior. Na trama anterior, descobrimos que ela era princesa e protetora de Hallownest. A sequência, porém, se passa em um novo território. Capturada e levada até Fiarlongo, a protagonista se vê cercada de dúvidas sobre aquele lugar e sua ligação com os acontecimentos da região, especialmente por seu vínculo com o uso da seda e as tecelãs. Assim tem início uma jornada desafiadora, repleta de mistérios e revelações que ganham sentido com o tempo.
A história, por sua vez, não fica mais apenas nas entrelinhas. Hornet é uma forasteira em uma nova terra e interage bastante com os personagens secundários que encontra pelo caminho, tentando compreender melhor esse lugar enquanto compartilha detalhes sobre sua terra natal. Os diálogos são envolventes, mesmo quando os personagens falam em uma língua impossível de compreender, e os momentos em que cantam sempre se destacam. A justificativa para Hornet estar mais fraca em comparação aos encontros anteriores é bem construída e convincente.
Outra diferença evidente no aspecto narrativo é que o título agora conta com uma tela de tarefas, com a missão principal já marcada no mapa desde o início. No jogo anterior isso só acontecia ao alcançar o ponto das três máscaras, mas aqui está disponível desde cedo. Além disso, a trama é dividida em atos conforme avançamos, o que reforça a imersão na narrativa.
Lá e de volta outra vez
Como esperado, as raízes do Metroidvania em Silksong são muito fortes e recompensadoras. Os mapas são bem interligados, com caminhos que, à primeira vista, deixam claro que não é possível avançar sem determinada habilidade. Quando ela é desbloqueada e abre novas possibilidades de travessia, surge aquele sentimento constante de que chegou a hora de recalcular a rota e revisitar áreas já exploradas, mas ainda não totalmente desvendadas. Além disso, várias áreas contam com salas e corredores que parecem vazios, mas, ao bater nas paredes ou saltar em pontos específicos, revelam passagens secretas que escondem recompensas ou novos atalhos.
Algumas mecânicas conhecidas do título anterior também retornam. Os bancos, por exemplo, continuam servindo para salvar o jogo, mas aqui também permitem alterar os equipamentos que Hornet pode usar. Eles são chamados de ferramentas e funcionam de forma semelhante aos amuletos de Hollow Knight. Oferecem efeitos passivos variados, como aumentar a velocidade de corrida ou impedir que a protagonista recue ao atacar. Há ainda os consumíveis, que ajudam no combate, como o Fragmento de Ferrão, a mesma armadilha vista no jogo anterior, e a Cerveja de Pulga, que acelera golpes e movimentos. Essas ferramentas consumíveis são recuperadas ao sentar novamente em um banco e podem ser recarregadas utilizando Fragmentos de Carapaça, que é utilizado exclusivamente para repor as ferramentas e armadilhas.
Outra base que retorna é a necessidade constante de procurar quem vende o mapa. A responsável por essa tarefa em determinados momentos é Shakra, que deixa objetos pelo caminho e canta uma melodia marcante para indicar que está por perto. Para comprar não apenas mapas, mas também bancos, novas ferramentas nos lojistas e até a Via Campanária, que funciona como o sistema de “fast travel” do jogo, é preciso usar Rosários, a principal moeda de troca.
O problema é que a economia inicial com Rosários é bastante desequilibrada. Poucos inimigos deixam a moeda ao serem derrotados e, quando percebi que uma simples chave custava 500, ficou claro que havia algo estranho. Só consegui comprá-la depois de desbloquear pelo menos a oitava área do jogo. Essa inflação pode frustrar muitos jogadores, já que praticamente tudo tem um preço exorbitante. Ao mesmo tempo, é preciso economizar para liberar recursos que facilitam a jornada. Em vários momentos, parece que os desenvolvedores quiseram forçar o jogador a parar e “farmar” Rosários antes de conseguir adquirir o que deseja sem o risco de perder tudo pelo caminho.
Uma coisa que não esperava encontrar é que, além da marcação da missão principal desde o começo, as missões secundárias também são fáceis de achar. Elas podem ser adquiridas conversando com alguns personagens ou diretamente no quadro de avisos em cidades principais, como o Vale dos Ossos. Essas tarefas, chamadas de desejos, são divididas em doações, coleta, caçadas e auxílios. Cada uma delas traz recompensas valiosas, seja desbloqueando habilidades necessárias para acessar novos locais ou garantindo ferramentas que fortalecem Hornet.
Entre todas, as caçadas foram as que mais me chamaram atenção. Em uma delas, Hornet podia seguir o rastro de uma criatura, iniciando literalmente uma perseguição até encontrá-la. O confronto dispensava comentários, já que essas criaturas se mostravam bastante únicas de enfrentar.
Entre Seda e Agulha
Enquanto o nosso cavaleiro do título anterior tinha uma movimentação mais limitada e um pouco rígida, Hornet se mostra muito mais estilosa nesse aspecto. Ela executa cambalhotas, plana e, ao acertar inimigos no ar enquanto eles estão no chão, cria movimentos que ficam ótimos de acompanhar. Essa fluidez só melhora conforme o jogo avança e novas habilidades de locomoção são desbloqueadas. Cada ação transmite a experiência de combate da personagem, mesmo em momentos de maior fragilidade, reforçando ainda mais o peso de assumir o protagonismo desta vez.
Um dos grandes diferenciais que impactam a jogabilidade são os brasões. Eles não apenas oferecem habilidades passivas extras, como também modificam os golpes que Hornet pode realizar. O primeiro, disponível desde o início da aventura, faz com que ao atacar para baixo a personagem execute um movimento em diagonal seguido de uma cambalhota. Já com o brasão de caçador, o ataque é direto ao chão, sem alteração de direção.
Essa mecânica me fez refletir bastante sobre qual brasão escolher, já que o espaço extra desbloqueado para ferramentas em um deles não se aplica aos outros, e encontrar medalhões que ampliam esses espaços pode levar tempo. Ainda assim, a forma como cada brasão foi pensado para ser único e se adequar a diferentes estilos de jogador torna a experiência divertida e incentiva a testar sempre que um novo é encontrado.
Um aspecto que certamente será discutido por muito tempo é a dificuldade em Silksong. O título anterior já apresentava desafios notáveis, principalmente em chefes como a Radiância e aqueles adicionados após o lançamento, como Grimm. Aqui, porém, a curva de dificuldade está bem mais acentuada, especialmente no início. Inimigos comuns continuam relativamente simples de derrotar, mas muitos deles possuem golpes que arrancam duas carapaças de Hornet, o que também acontece em várias lutas contra chefes. Essa intensidade se mantém até os créditos finais e, mesmo com a Agulha aprimorada, o jogo nunca deixa de exigir atenção.
E é justamente por esses confrontos serem tão memoráveis que os inimigos comuns acabam destoando. Ao concluir a tarefa do Muu e revisar o diário com o bestiário, ficou evidente algo que já vinha incomodando: a quantidade excessiva de criaturas voadoras. Pode parecer justificável pelo contexto do mundo de insetos, mas com o tempo a repetição gera fadiga e torna os combates cansativos. Áreas como os Degraus Devastados e as Claustroforjas, que já são naturalmente desafiadoras, ficam ainda mais frustrantes pela insistência nesse tipo de inimigo.
Considerações
Hollow Knight: Silksong é mais do que uma continuação direta. Ele demonstra a ambição da Team Cherry em levar seu universo a novos patamares sem perder a essência que conquistou jogadores em 2017. A aventura de Hornet mantém a base que tornou o primeiro título especial, mas adiciona camadas que fortalecem a identidade própria da sequência.
Silksong também marca um ponto importante no gênero Metroidvania. Ao mesmo tempo em que respeita fórmulas conhecidas, ele apresenta uma construção de mundo detalhada, combates intensos e um ritmo de progressão que desafia o jogador a se adaptar constantemente. O resultado é um jogo que não se limita a seguir os passos do passado, mas abre espaço para consolidar a franquia como uma das mais respeitadas entre os indies.
Hollow Knight: Silksong está disponível para PC, Switch, Switch 2, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series, podendo ser jogado também via Game Pass Ultimate.
Esta análise foi feita no Xbox Series S, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela ID@Xbox.