Battlefield 6 oferece multiplayer viciante e boa campanha para um jogador
Multiplayer é o melhor da franquia em muitos anos; campanha apresenta um bom ritmo e é legal de se jogar, mas tem um problema técnico grave
Acompanho Battlefield desde o primeiro título, lançado em 2002, que era um dos melhores jogos de tiro da época. O tempo foi passando e a cada nova iteração que saía, a série ia aprimorando e se reinventando.
Isso acabou se perdendo nos últimos jogos, especialmente em Battlefield 2042, que mesmo tendo recebido melhorias depois do lançamento, passou muito longe da qualidade dos títulos mais antigos. Battlefield 6 chega agora com o objetivo de resgatar a franquia e fazê-la voltar a ser o que era.
Multiplayer onde as horas passam voando
O grande destaque de Battlefield 6, sem dúvida, é o multiplayer. Ele está excelente, lembrando os tempos áureos de quando eu passava bastante tempo jogando Battlefield 3, 4 e Bad Company.
Os principais modos de jogo são variados, incluindo Conquista, Ruptura, Investida e Escalada. Conquista ainda é o meu favorito, pois consegue mostrar tudo aquilo que é possível com a jogabilidade presente no jogo, que aliás está fantástica, já que o manuseio das armas e a movimentação ficaram ótimos. Duas equipes lutando para capturar e manter os objetivos no mapa usando tanques, helicópteros, jatos e tudo aquilo que está disponível no campo de batalha, até que uma delas tenha seus recursos zerados e seja derrotada.
O modo Escalada lembra um pouco o Conquista, mas tem suas próprias regras. Nele ainda existem duas equipes lutando para capturar objetivos, mas quando elas expandem seu território, os objetivos diminuem, criando áreas de combate mais intensas, o que resulta em mais confrontos pelos pontos restantes no mapa. No final ganha a equipe que se expandir mais. É uma experiência incrivelmente divertida e que pode disputar a preferência dos jogadores com o modo Conquista em Battlefield 6.
Ruptura e Investida também não são de se jogar fora. No primeiro temos um mapa dividido em partes que estão sob disputa, sendo uma por vez. O objetivo da equipe atacante é avançar até conquistar todas as partes do mapa, enquanto que a equipe defensora tem que eliminar aqueles que estão atacando. A partida termina quando a força de ataque captura todos os pontos do mapa ou então quando ela fica sem vidas restantes.
No Investida, duas equipes (atacantes e defensores) lutam pelo controle de sistemas de comunicação militar. Os atacantes têm de explodir esses sistemas e impedir que os defensores desarmem-nos antes da detonação. Quando os sistemas são destruídos, o mapa avança para uma nova área. A partida acaba quando todos os sistemas forem destruídos ou os atacantes, novamente, ficarem sem vidas.
Para mim, esses quatro modos são os mais interessantes do multiplayer, todos contando com destruição em massa, mapas vastos e combates intensos entre os participantes.
Há também outros modos voltados para quem quer uma experiência mais clássica e com mapas menores, incluindo Mata-mata em pelotão, Dominação, Mata-mata em equipe e Domínio da Colina. Neles as partidas são mais rápidas, lembrando aquelas de FPS tradicionais.
Vale ressaltar que, durante o período de análise, em momento algum eu consegui jogar uma única partida composta apenas por integrantes humanos, havendo bots controlados pela IA em todas as ocasiões, já que não tem como haver tantos jogadores reais disponíveis em Battlefield 6 até ele ser lançado.
Todas as partidas, sem exceção, ocorreram de forma estável, sem desconexões ou lag elevado, algo que espero que se repita no lançamento.
O multiplayer de Battlefield 6 também conta com o retorno do sistema de classes, com os jogadores podendo escolher Assalto, Engenharia, Suporte e Reconhecimento. Cada uma tem seus atributos específicos, que devem ser levados em consideração e podem fazer a diferença no campo de batalha.
Por exemplo, Assalto consegue sacar mais rápido com fuzis de assalto, além de ser o mais indicado para armar e desarmar explosivos. Ele também consegue aumentar temporariamente a velocidade de corrida e reduzir o dano explosivo e incendiário.
No caso do Suporte, ele não tem penalidade de velocidade de corrida ao carregar uma metralhadora. Essa classe também pode reabastecer a munição de outros combatentes e reanimar colegas de equipe caídos de forma mais rápida.
Todas as armas podem ser amplamente customizadas, havendo também a possibilidade de obter mais acessórios conforme você joga mais o multiplayer. Isso também vale no desbloqueio de mais aparências em cada uma das classes.
Battlefield Portal complementa a experiência online
A ferramenta de construção de Battlefield está de volta, permitindo criações diferenciadas e customizadas em Battlefield 6, com o limite sendo a criatividade dos usuários.
Infelizmente o acesso ao Portal em si não será liberado antes do lançamento, mas havia alguns exemplos de conteúdos feitos com ele para serem jogados, feitos pela própria Electronic Arts. Um deles era uma versão hardcore do modo Conquista, onde as regras foram modificadas para deixar as partidas mais intensas, com interface limitada, sem câmera externa ao pilotar o tanque, mais dano nos disparos, ativação do fogo amigo, e mais.
No lançamento, a EA promete fornecer guias que servirão para ajudar os jogadores a se familiarizar com os recursos do Portal, assim como exemplos de criações para que possam aprender fuçando nelas.
Além disso, Gabriel Lacayo, engenheiro de software de Battlefield 6, me disse recentemente que embora o foco do Portal seja o multiplayer, também será possível criar conteúdos single-player, desde que os jogadores estudem as funções da ferramenta para conseguir fazer isso.
Também há planos para servidores comunitários no lançamento, incluindo controles administrativos como expulsar e banir jogadores, além de definir rotações de mapas.
Demorou, mas Battlefield finalmente se encontrou no single-player
Falando da campanha, ela claramente se inspira naquelas vistas na maioria dos jogos de Call of Duty. Temos um pelotão de elite dos fuzileiros navais dos EUA, chamado Dagger 1-3, cujo objetivo é enfrentar e derrotar a Pax Armata, um grupo militar privado liderado pelo vilão Alexander Kincaid, que aproveitou o enfraquecimento da OTAN para tentar impor sua própria agenda global.
As missões ocorrem com muita ação e tiroteio na maior parte do tempo, com você jogando a maioria delas usando o personagem Dylan Murphy, que é essencialmente o protagonista. Além dele, temos Simone “Gecko” Espina, Haz Carter, Cliff Lopez e Lucas Hemlock compondo o Dagger 1-3.
Cada personagem representa uma classe do multiplayer, com você podendo dar ordens a cada um deles para que ativem seu ataque especial. Haz e Lucas, como Assalto, usam Granadas ao seu comando; Gecko, uma sniper de elite, identifica todos os alvos no campo de visão; Lopez, o Suporte do grupo, usa granadas de fumaça; e Murphy, que cuida da Engenharia, dispara com um lança-foguetes. Também existe a possibilidade de mandar todos engajarem os inimigos próximos.
A campanha te leva a países como Geórgia, Egito e Estados Unidos, tendo muitos momentos repletos de adrenalina e algumas surpresas na história, que pelo seu desfecho, pode vir a ter uma sequência em algum momento.
As fases não ficam restritas apenas aos combates tradicionais de infantaria. Em uma das missões, você começa em um veículo blindado anfíbio invadindo uma praia e apenas depois disso segue a pé, enquanto que há também uma onde você realiza a maior parte dela em um tanque, podendo inclusive repará-lo em estações voltadas para isso.
Existem caixas de suprimentos para munição, explosivos e dispositivos espalhadas pelas fases, para diminuir a chance de você ficar sem balas. Também é possível obter munição interagindo com as armas dos inimigos.
Ao ser abatido, você tem a possibilidade de chamar um dos seus companheiros de pelotão para te reviver. Na dificuldade média, você começa com duas reanimações. Quando elas acabam, você morre de vez e precisa recomeçar do último checkpoint. Existem desfibriladores nas fases, que você pode pegar para reabastecer suas reanimações.
A maioria das missões é linear, com exceção da penúltima, que ocorre em um mapa aberto onde você tem a opção de ir nos objetivos na ordem que desejar. O mapa é tão grande que o ideal é usar veículos na locomoção em certos momentos, para não perder tempo. Nela você também pode fazer uso de drones para atacar inimigos despercebidos, além de um míssil teleguiado chamado Switchblade.
Embora a campanha tenha uma boa variedade de missões, gostaria que ela oferecesse a oportunidade de jogar mais vezes com outros membros da Dagger 1-3, já que a maior parte do tempo ficamos como Murphy. Há um momento na história onde, inclusive, jogamos com um personagem que sequer faz parte do pelotão, o que para mim não faz o menor sentido, visto que em momento algum o jogo permite controlar Lopez, o Suporte da equipe, ou Hemlock. Também acho que faltou desenvolver alguns dos personagens, especialmente Haz Carter, que pra mim é o mais interessante de todos eles. Adoraria que tivesse sido mais abordado o passado dele com Kincaid.
Com um pouco mais de empenho, a campanha de Battlefield 6 provavelmente conseguiria fazer com que seus personagens fossem tão marcantes quanto Capitão Price, Ghost, Soap, Frank Woods ou Makarov, de Call of Duty, mas apesar disso ela fornece uma experiência mais sólida do que aquelas de Battlefield 1, 3, 4, 5, Bad Company e Hardline, mostrando que a franquia finalmente se encontrou no single-player. Sua duração depende da sua habilidade e do nível de dificuldade, mas no geral você deve terminá-la em cerca de 5-6 horas.
Eu sugiro que a EA continue usando os personagens da campanha atual futuramente, para que eles sejam melhor desenvolvidos, e inclua também outros, da mesma forma que aconteceu em COD: Modern Warfare e Black Ops. Fazer missões onde você possa controlar mais de um personagem também não seria uma má ideia.
Jogo ainda precisa de algumas correções e melhorias
É importante salientar algumas situações inusitadas com as quais me deparei jogando no PC, especialmente na campanha, como um bug na cutscene de encerramento da missão 4, que deixou o áudio dessincronizado com o que estava ocorrendo na tela, ou então na missão 8 quando a arma de um dos personagens ficou disparando sem parar, algo que foi resolvido recarregando o checkpoint.
No entanto, o problema mais grave e que precisa ser consertado urgentemente, se possível já no lançamento, aconteceu na missão 8 da campanha. Do nada, meu computador reiniciou enquanto eu jogava e, quando eu entrei novamente no game, todo o meu progresso na campanha havia sumido. Era como se eu nunca tivesse jogado o single-player, me forçando a rejogar tudo de novo, desde a primeira missão. Curiosamente, os coletáveis que eu havia obtido, que são Dog Tags espalhadas nas fases, ainda estavam contabilizados.
Houve também bugs e glitches de menor impacto, como corpos "decolando" deitados após uma explosão e uma ocasião onde a granada ficou “batendo” no mesmo ponto do chão por vários segundos até explodir.
Ainda falando de algo específico da versão PC, na hora que você roda o jogo e escolhe jogar a campanha, ele fecha e reabre para rodar somente ela, carregando inclusive shaders específicos do modo single-player. Não seria possível criar um executável para o modo de um jogador e outro para o multiplayer para evitar esse “abre e fecha” do jogo?
Para mudar o idioma do game no PC, você pode apenas fazer isso por meio das propriedades dele no Steam, não havendo uma opção para isso dentro do próprio jogo. E sempre que você faz isso, o idioma escolhido precisa ser baixado novamente. Trata-se de outra decisão nada prática e que, sinceramente, não consigo entender o motivo por trás.
Desempenho cinco estrelas
Falando da taxa de quadros, não tenho do que questionar Battlefield 6. O jogo está rodando extremamente bem, seja no single-player ou no multiplayer, ao mesmo tempo em que entrega bons gráficos e muita destruição nos cenários. O desempenho está, inclusive, melhor do que no beta aberto ou no teste fechado que joguei em setembro.
A escolha em focar na performance e não no Ray Tracing foi muito acertada, beneficiando e muito a jogabilidade. Apesar disso, existe a possibilidade de que, nos momentos de maior intensidade, com muitas coisas ocorrendo na tela ao mesmo tempo, você acabe se deparando com uma ou outra queda no desempenho, mas nada que chegue a comprometer a experiência como um todo.
Também gostaria que houvesse uma forma de aumentar a distância máxima na qual o jogo renderiza os objetos na tela, para evitar pop-ins nos mapas de larga escala. Há também algumas texturas em baixa resolução, mesmo com o jogo rodando na qualidade máxima.
Considerações
A experiência que Battlefield 6 apresenta no multiplayer é fenomenal, sendo uma das melhores e mais divertidas que tive num jogo de tiro em primeira pessoa em muito tempo. O novo modo Escalada foi uma adição muito bem-vinda ao repertório da franquia, dando outra opção aos jogadores que tem o modo Conquista como favorito. Se você queria algo similar ao Battlefield 3 e 4 no online, seu desejo foi atendido.
No caso da campanha, ela cumpre seu papel e deve agradar boa parte dos jogadores. Embora não se arrisque, é bem mais interessante de se jogar do que aquelas dos jogos anteriores da franquia, por causa de sua abordagem mais parecida com a de Call of Duty tanto na história quanto nas fases e personagens, mas sem abrir mão da destruição e combates característicos de Battlefield. Dito isso, o bug grave com o qual me deparei, que reseta o progresso do single-player, precisa ser consertado o mais rápido possível.
Battlefield 6 chega em 10 de outubro para PC, PlayStation 5 e Xbox Series.
Esta análise foi feita no PC, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Electronic Arts.