Rio Open de tênis e a necessidade de se fazer silêncio nas arquibancadas
Eis a grande constatação para quem não está acostumado a acompanhar in loco um evento do porte de um ATP 500, pela primeira vez no Brasil
Que o brasileiro é um povo acostumado a torcer e gritar nas arquibancadas isso não é nenhuma novidade. Mas depois de marcar presença nos mais variados eventos futebolísticos, com as mais inflamadas torcidas, conferir de perto o ronco dos motores da Fórmula 1 e vivenciar coberturas barulhentas em ginásios de vôlei, basquete e até handebol, eis que surge o primeiro desafio real da carreira num torneio de grande porte de...tênis. E tênis, para quem não sabe, é o esporte do “shhh”, do silêncio, da concentração. Enfim, onde algazarras não são permitidas nas arquibancadas, camarotes, em lugar nenhum.
O Rio Open, torneio ATP 500 que chega ao Brasil pela primeira vez até o dia 23 deste mês, com premiação entre os homens de US$ 1,3 milhão, e que está sendo disputado no Jockey Club, no Rio de Janeiro, é não só mais importante em termos de premiação e ranking do que o Brasil Open, por exemplo, mas coloca à prova também a capacidade do torcedor e dos jornalistas de lidar com o silêncio que este esporte exige. Afinal, concentração é tudo.
Credencial no pescoço, e bilhete do jogo em mãos, passo pela segurança rumo à quadra central, onde o brasileiro João Souza, o Feijão, duelava em sua estreia na chave principal contra o argentino Facundo Bagnis. Ele que é, vale lembrar, o melhor brasileiro hoje no ranking da ATP (115o do mundo). E eis a primeira estranheza da cobertura: uma fila se formou no túnel de acesso às arquibancadas. Parou tudo. Ninguém tinha acesso imediato.
“O que está acontecendo, por que ninguém sobe de vez”, pergunto ao rapaz que segura a cordinha que impede a entrada geral. “Tem que esperar acabar o game, poxa”, responde, na lata. Primeira lição do dia, pois: não pode ficar se movimentando pelas arquibancadas enquanto o jogo acontece, apenas nos intervalos entre os games e sets. Ficou claro?
Os gringos parecem mais do que acostumados, mas muitos torcedores, por mais que estejam acostumados com o esporte de elite, no torneio que terá a presença do número um do mundo, o espanhol Rafael Nadal, cedo ou tarde esbarram no sangue latino que corre nas veias. “Fala aí, seu vagabundo”, atende ao telefone, em alto e bom grito, um torcedor bem atrás do meu assento. Rapidamente, ele é repreendido por um fiscal e olhares de reprovação se direcionam para o coitado que, muito provavelmente, estava na mesma situação que eu.
No final de 2012, fiz a cobertura do jogo exibição entre Gustavo Kuerten e Novak Djokovic, no Maracanãzinho, mas o clima era de festa e as rigorosas regras de comportamento de nada existiam naquela ocasião. O Rio Open, enfim, proporciona a torcedores e jornalistas de primeira viagem, novamente, a terapia do silêncio e da meditação.
Abaixo o volume do computador depois que chega uma mensagem instantânea. Melhor colocar no mudo logo, né? Quando Feijão aplica um belo winner que faz o argentino Facundo rastejar pelo saibro sem sucesso, palmas e mais palmas são escutadas. Aproveito este momento para abrir a minha barra de cereal.
“Fora, fora”, diz um senhor no outro canto, cobrando o juiz central de que a bola do argentino, num momento em que ele ameaçava a quebra de saque do brasileiro. A bola fora é confirmada, ele bate palmas cautelosas de aprovação. E volta a mexer no celular.
A quadra central ainda estava vazia e Nadal estreia apenas nesta terça-feira, em horário ainda não divulgado, no momento em que o Rio Open terá a prova real se o silêncio será natural, ou na marra. As palmas cautelosas, por ora, são a grande constatação deste evento de grande porte e até aqui com boa organização.