Leilão de palco de título do Santos deixa rivais em "conflito"
São José do Rio Preto, interior de São Paulo, é uma cidade dividida pela rivalidade entre dois clubes: o Rio Preto FC e o América FC. Mais que torcer por um ou por outro, os moradores da cidade interiorana hoje convivem com a triste realidade de um dos estádios mais importantes da região: o Benedito Teixeira, propriedade do Mecão paulista e palco do título brasileiro do Santos em 2004, corre o risco de ser leiloado nesta quinta-feira. Motivo de chacota para a cúpula do Rio Preto, que relata ainda a questão do abandono e de péssimas condições de uso do local.
"Está completamente abandonado, com ferrugem, danificação nas estruturas, ameaça de cair. Há muito tempo os clubes grandes que vinham jogar aqui reclamavam. O Valdivia, do Palmeiras, foi picado por formigas. Foi doado pela Prefeitura, dinheiro público, dívidas... Foram sucessivas administrações mal feitas, relaxamento, má manutenção. Os empresários que costumavam trazer os jogos aqui, desistiram. Não tem nem mesmo chuveiro com água quente. A solução é marreta ou implosão, marreta como foi no Muro de Berlim", relatou, por telefone, José Eduardo Rodrigues, conselheiro benemérito do Rio Preto, que cogitou entrar no leilão e afirmou: em função dos problemas estruturais, o estádio "valeria atualmente R$ 1,99".
Luiz Donizete Pietro, o Italiano, vice-presidente do América, se defende: "Ninguém que veio jogar aqui reclamou, o gramado foi colocado pela mesma empresa que colocou no estádio do Corinthians. Não acredito que o leilão vá de fato existir, não tem razão essa hasta pública. É patrimônio de doação. Eu acho que o América não poderia pagar por má administrações passadas. Deveriam ir atrás de penhorar os bens dos ex-presidentes e do conselheiro que aprovou tais contas, que eram recheadas de dívidas".
Segundo palavras do representante da cúpula do Rio Preto, a cidade convive com dois lados distintos: de um lado o abandono do Teixeirão, de outro a modernidade e eficiência do estádio Anísio Haddad, com capacidade para mais de 20 mil pessoas. Ainda de acordo com ele, o patrimônio do clube está avaliado em R$ 250 milhões.
"A cidade vive um contraste, no Rio Preto temos uma administração moderna, R$ 250 milhões de patrimônio. Arena moderna, cabem 30 mil pessoas, pela nova contagem da Fifa, 23 mil. É acolhedora, gigante, e é particular. O clube foi fundado em 1919", garantiu.
Levando-se em conta os resultados dentro de campo, nenhum dos dois lados pode falar em "modernidade" e se empolgar por sua administração. O Rio Preto competiu em 2015 na terceira divisão do Estadual e quase foi rebaixado, enquanto o América disputa a quarta divisão e está na modesta sétima colocação de sua chave.
Na cidade, marcada pela rivalidade entre os dois clubes, é difícil não escolher um lado para torcer, mesmo que essa torcida, por vezes, esteja muito longe dos gramados e bem mais perto dos tribunais. A disputa entre as equipes alcançou até o ambiente virtual. Em sua página oficial, o Rio Preto publicou, inclusive, uma paródia satirizando a situação atual do Benedito Teixeira. Os clubes não parecem mesmo dispostos a se ajudarem para a cidade reviver os bons tempos no futebol.
* Especial para a GE.Net