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"Rei" do pôquer brasileiro acumula fortuna e mira Olimpíada

31 dez 2009 - 16h09
(atualizado em 31/12/2009 às 00h23)
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Maior nome do pôquer praticado no Brasil, o curitibano Alexandre Gomes é atração em mesas de todo o mundo graças a uma escolha feita há dois anos e que mudou a sua vida. Formado em Direito em 2005, o jogador decidiu abandonar a advocacia para se dedicar exclusivamente ao esporte que já lhe rendeu cerca de R$ 3 milhões em premiações (aproximadamente R$ 2 milhões somente de acordo com dados da World Series of Poker).

» Fotos de Alexandre Gomes

» Frustrado, astro brasileiro do pôquer reclama de preconceito

Agora, consolidado na carreira profissional, Gomes já sonha com um objetivo mais distante: vencer as barreiras e levar a modalidade aos Jogos Olímpicos, se possível representando o seu país.

Em entrevista exclusiva ao Terra, Alexandre Gomes traça planos audaciosos e comemora a escolha feita no passado, que lhe rendeu dinheiro e a realização de um sonho que começou como brincadeira, em roda de amigos com pequenos valores colocados nas apostas.

"Quando comecei a jogar pôquer não tinha pretensão nenhuma, era só um passatempo mesmo. Até era engraçada aquela empolgação inicial, nas casas de amigos, algo totalmente saudável", lembrou.

No entanto, desde então, os resultados o tornaram figura conhecida em todo o mundo do pôquer, principalmente após o título do WSOP de 2008, em Las Vegas, e a entrada no seleto grupo do Poker Stars Team Pro.

Ao todo, somando as mesas dos circuitos nacional e internacional, soma 12 conquistas, algumas delas contra as maiores feras do pôquer do planeta, além de alcançar a final no Latin American Poker Tour, maior série de torneios da América Latina, e o quarto lugar do Poker Stars Caribean Adventure, nas Bahamas.

Agora, aos 27 anos, comemora o status de astro e pretende usar seu nome na briga para transformar o pôquer no futuro.

Pioneiro na iniciativa de vídeo-aulas em uma escola online, além de participar de um reality show que mostra a desgastante rotina de competições no mundo, Gomes também sonha com um maior reconhecimento à modalidade.

"O pôquer não é um jogo de azar e precisamos de uma regulamentação legal, que reconheça como atividade legal, como esporte. Acredito que podemos virar um esporte pan-americano ou olímpico. Estamos lutando por isso, buscando esse reconhecimento", disse.

Acompanhe na íntegra a entrevista com Alexandre Gomes:

Terra - No começo, o que mais te seduziu no pôquer? Como iniciou no esporte?

Alexandre Gomes: Meu primeiro contato foi como brincadeira. Jogava com os amigos, mas como profissional só há dois anos. Quando comecei a jogar pôquer não tinha pretensão nenhuma, era só um passatempo mesmo. Até era engraçada aquela empolgação inicial, nas casas de amigos, algo totalmente saudável. Apostávamos R$ 10 e brincávamos a noite inteira. Se perdia, perdia R$ 10, se ganhava, levava R$ 20. O pôquer não era tão difundido no Brasil como é hoje. Existiam pouquíssimos profissionais no Brasil, dava para contar nos dedos. Então tudo era novidade. Tudo era novo, cada um tinha uma novidade por dia, falava de um site que encontrou e íamos trocando essas informações.

Terra - Quando o pôquer deixou de ser um hobby para se tranformar em uma profissão na sua vida? O que mais pesou na sua escolha e como foi essa mudança?

Alexandre Gomes: Foi quando tive meu primeiro contato com o Poker Stars (maior sala de pôquer online do mundo). Aí sim meu jogo começou a evoluir. Me inscrevi nos torneios mais baratos que tinha, fui subindo, subindo e chegou um momento que começou. Na verdade não teve nenhum evento específico (na decisão). Consegui ter uma constância nos resultados e nas atuações. Tive que ter realmente um equlíbrio maior, uma série destes bons resultados. Aí, em dezembro de 2007, cheguei ao ponto de largar a minha profissão de advogado, um escritório com mais dois sócios. Foi o momento em que pensei: ou faço uma coisa bem feita ou duas mal feitas. Então foi uma somatória de resultados.

Terra - O que mudou em sua preparação desde que passou a se dedicar exclusivamente ao pôquer?

Alexandre Gomes: Foi uma mudança radical. Quando não era totalmente profissional, não tinha tanto tempo para me dedicar ao pôquer como deveria, caso quisesse algo para a minha profissão exclusiva. Assim, tive tempo para me preparar, me organizar sobre que torneios jogar e passei a estudar mais isso.

Terra - Como foi a reação dos amigos e familiares na época com essa opção? Chegou a encontrar muita resistência dentro de casa?

Alexandre Gomes: Foi um processo de transição que demorou um ano e muita indecisão. Na época, estava noivo e tinha uma pressão para casar, além da minha família que também cobrava. Mas todo mundo sempre acompanhou muito de perto os meus jogos e me respeitou nas decisões que tomei. É difícil. Quando você estuda, se forma e depois abre mão desse caminho, para algumas pessoas sempre vai soar estranho. Tem uma questão de preconceito aí. Amigos vieram falar comigo, perguntar se tinha certeza disso, mas eram pessoas que queriam o meu bem. Estava convicto daquilo que eu queria com a mesma seriedade da profissão que eu exercia. Estava tão decidido quanto o momento em que quis ser advogado. Era uma mudança radical na minha rotina, mas que aconteceu no tempo certo e com o apoio de todo mundo. Foi uma das melhores escolhas que fiz na minha vida.

Terra - A internet tem se mostrado fundamental para o crescimento do pôquer no Brasil e em outros países. Como você vê o esporte hoje se não tivesse a "ajuda" da internet?

Alexandre Gomes: Tive experiência no Brasil e torneios na internet, que é a maior facilidade para jogar pôquer hoje em dia, com pessoas do mundo inteiro. Minha experiência e meu campo de batalha foi a internet. Há três, quatro anos, acho que não (era possível imaginar o crescimento). Mas hoje, no Brasil, eu já consigo. Existem torneios muito grandes e vem crescendo cada vez mais. Tem um avanço grande no mercado de pôquer, ligas brasileiras e regionais. Seria muito mais difícil, muita mais lenta (a evolução sem a internet). Antes não tínhamos livros e artigos sobre pôquer e as informações que colhíamos estavam fora (do país). Hoje temos duas grandes revistas, livros traduzidos. O cenário, com a ajuda da internet, é muito mais fácil, com sites especializados, blogs e diversos tipos de buscas.

Terra - Mesmo com essa evolução, o pôquer ainda não é bem visto por algumas pessoas no Brasil e no mundo, que classificam a disputa como "jogo de azar". O que você acha desta imagem e o que está sendo feito para mudá-la?

Alexandre Gomes: Não só no Brasil, mas no mundo inteiro. É um jogo de habilidade, um jogo da mente, como se fala. O melhor prevalece sobre o pior ou menos preparado. Existe uma série de questões teóricas, habilidade que precisa ser usada da melhor forma, de acordo com o oponente. Mas existe o preconceito das pessoas que não conhecem e que têm aquela visão perturbada de jogatina, de parentes que perdiam carros, patrimônios. Infelizmente ainda existe essa visão do pôquer, mas na verdade não tem pressão financeira, é igualdade.

Terra - E como você trabalha o aspecto da sorte com a habilidade de cada jogador? Algum deles se sobressai em um campeão?

Alexandre Gomes: É lógico que tem sorte envolvida no pôquer, como várias questões da nossa vida ou outros esportes. A sorte influencia e muito. Mas a longo prazo, esse fator sorte é reduzido proporcionalmente. Não dá para analisar assim se um jogador é bom. Eu teria assim que ser a pessoa mais sortuda do mundo, já que tive vários bons resultados. Mas nunca ganhei rifa e nem na loteria, nada disso. Isso é mais do que comprovado que no pôquer o melhor sempre vai prevalecer. É uma questão emocional, o cara tem que ter frieza, saber tomar decisões, mostrar paciência e não se apavorar.

Terra - Com essa mudança de visão, você acredita que o pôquer pode sonhar com a entrada em uma Olimpíada ou mesmo Jogos Pan-Americanos?

Alexandre Gomes: Acredito que sim, mas é um caminho não tão fácil. Teria que cogitar isso por meio de uma reformulação legislativa. Nós temos no Brasil que é vetado o jogo de azar. O pôquer não é um jogo de azar e precisamos de uma regulamentação legal, que reconheça ele como atividade legal, como esporte. Acredito que sim, podemos virar um esporte paramericano ou olímpico. Estamos lutando por isso, buscando esse reconhecimento. Tivemos alguns pareceres comprovando que o pôquer é um jogo de habilidade. É um trabalho árduo, mas acredito que vamos chegar lá.

Terra - Como funciona a preparação de um jogador profissional de pôquer? Você faz algum tipo de treino ou se prepara dentro dos próprios torneios ou jogos online?

Alexandre Gomes: O pôquer é interessante porque os torneios são muito longos. Um que ganhei recentemente em julho, em Las Vegas, foram seis dias de evento, todo santo dia, começando 12h e se estendendo até às 21h ou 22h. Foram seis dias ininterruptos, que você senta e fica nove, dez horas em uma cadeira. Se não demanda preparação física de atleta, requer uma resistência para ficar muito tempo na frente de uma mesa e de um adversário. O poder de concentração tem que estar intacto. Com a mesma postura, só sentado, sempre atento ao que está acontecendo ao teu lado. Isso tudo conta na minha preparação. Mas o que faço é treinar na prática. O pôquer jamais você vai conseguir esgotar o assunto. Tem que estar o tempo inteiro estudando, observando estilos e caracteristicas próprias. Costumo dizer que demora um minuto para aprender, mas uma vida inteira para entender a complexidade do jogo.

Terra - Alguns jogadores que conquistam reconhecimento rápido acabaram abandonando o pôquer ainda jovens (como é o caso do americano Shaun Deeb, 23 anos). Porque isso vêm acontecendo e qual é a principal causa destas aposentadorias precoces? A pressão por resultados depois que se atingiu um status atrapalha o competidor?

Alexandre Gomes: Não tem idade para se aposentar no pôquer, como acontece no xadrez, que se estende por muitos anos. Temos vários exemplos de jogadores que se aposentam cedo ou que jogam até os 60 ou 80 anos. Alguns acabam pendurando as chuteiras cedo, mas a grande maioria fica, já que com a idade ficam melhores a cada jogo. Mas existe mesmo a pressão da mídia e da torcida, que se não conquistou tal torneio, o pessoal vem para cima de você. Depois que ganha, vem outro tipo de pressão. Quando vou jogar um torneio fora, com cobertura ao vivo, o pessoal fica torcendo. Esta pressão é saudável, mas com certeza existe.

Terra - Já tem planos de aposentadoria no pôquer? Pretende voltar ao Direito no futuro?

Alexandre Gomes: Minha carreira está só começando. Tive grandes resultados, mas ela é bem curta se for comparar com outros jogadores. Conquistei algumas coisas quando estava engatinhando e comecei a andar agora. Não faço planos de se aposentar. Pretendo apenas dar uma reduzida na minha rotina de treinos. Mas sempre fui muito apaixondao pelo Direito e só me tornei jogador porque o pôquer superou as minhas expectativas como advogado. Mas eu cogito, sim, voltar em um outro ritmo, ter uma consultoria, montar um escritório, mas penso talvez em manter um contato.

Terra - Quais foram os seus maiores resultados no pôquer e quem são as maiores forças atualmente?

Alexandre Gomes: Modéstia à parte, sou o brasileiro com melhores resultados. Nem o Brasil e nem a América Latina tiveram nenhum campeão mundial. Fui o primeiro a ter o título mundial e agora tenho dois. Os Estados Unidos representam mais de 50% do mercado mundial de pôquer, é o berço. Lá tudo começou e depois se difundiu pelo mundo. Depois temos a Europa e a Itália. O Brasil aparece como terceira ou quarta força.

Terra - Você se sente injustiçado ou de alguma forma frustrado pelo bom desempenho que teve nos últimos anos e o pouco reconhecimento que tem da população de uma forma geral em comparação a outros esportistas bem sucedidos de outras modalidades? Essa falta de reconhecimento ou de assédio é algo que te faz falta?

Alexandre Gomes: Gera uma frustração, sim. Porque se comparar os feitos que eu tive com outros esportes é bem diferente. Acredito que estamos no caminho de o pôquer ser reconhecido como esporte, um jogo de igualdade e técnica. Ainda há muita resistência dos meios de comunicação, um preconceito de certo modo que sofremos. Existe essa discrepância em termos de mídia.

Terra - Como torcedor do Coritiba, como você viu estes últimos acontecimentos no clube, com a queda para a segunda divisão, a destruição do Estádio Couto Pereira por parte de torcedores e a perda de 30 mandos de campo no tribunal?

Alexandre Gomes: Foi tudo muito triste e um fato difícil de ser apagado no ano do centenário. Tive a infelicidade de estar no estádio e vi ao vivo aquela cena de terror. Foi muito injusto com o clube, não em termos de punição, mas em relação aos torcedores, porque aqueles invasores não representam a torcida do Coritiba. São torcedores por acaso, pois na verdade são criminosos, vândalos que destruiram um patrimônio privado. Se fantasiaram de torcedores. É uma situação lamentável.

Terra - Quais os outros projetos que vem tocando para aprimorar o pôquer no Brasil e torná-lo mais conhecido?

Alexandre Gomes: Tenho uma escola de pôquer online. Lá, se aprende a jogar pôquer com os profissionais, desde o be-a-bá, através de vídeo-aulas. Junto a escola, temos um reality show sobre os profissionais que trazem as pessoas para lugares que nunca viajaram, sempre acompanhando os eventos e o nosso dia-a-dia.

Brasileiro exibe fichas em campanha vitoriosa em Las Vegas
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Foto: Site Oficial Alexandre Gomes / Divulgação
Fonte: Redação Terra
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