Orçamento modesto e reformulação na pandemia levam Ponte e Mirassol às semifinais
Equipes passam por mudança de elenco ao longo da paralisação para superar rivais favoritos nas quartas de final
Os dois times azarões na semifinal do Campeonato Paulista adotaram fórmulas similares e até uma dose de parceria para chegarem tão longe na competição. Ponte Preta e Mirassol contam com orçamentos modestos, mas têm como segredo a atuação certeira durante a paralisação de quatro meses forçada pela pandemia do novo coronavírus. Enquanto equipes perdiam ritmo de jogo, as duas surpresas desta reta final conseguiram se reformular e agora enfrentam no fim de semana Corinthians e Palmeiras por vaga na decisão.
Parte das mudanças realizadas nos dois elencos são frutos de uma coincidência. Quatro antigos titulares do Mirassol ficaram sem contrato durante a pandemia e foram reforçar a Ponte Preta: o lateral-esquerdo Ernandes, o volante Luis Oyama e os meias Neto Moura e Camilo. Na última rodada da primeira fase, aliás, as duas equipes se encontraram e o time alvinegro venceu por 1 a 0.
Mas o Mirassol não teve só essas perdas na paralisação. Ao todo a equipe viu 16 jogadores ficarem sem contrato e mais dois atletas se machucarem. Com tantos desfalques, o clube conseguiu vencer o São Paulo por 3 a 2 nas quartas de final graças a um atacante inscrito às pressas. Zé Roberto só teve a documentação regularizada na véspera da partida e pegou um voo de São José do Rio Preto até a capital para reforçar o time de última hora.
"Nós tivemos de usar muito a base para recompor o time. Perdemos 18 atletas. Foram nove garotos promovidos para essa parte final do Paulistão. O desafio nosso é grande, porque recebemos só 20% das cotas de televisão que os grandes ganham", disse ao Estadão o presidente do Mirassol, Edson Hermenegildo. Para disputar todo o Campeonato Paulista, a equipe havia previsto gastar R$ 800 mil com a folha salarial, cerca de 10% do gasto pelo São Paulo, time que derrotou nas quartas de final.
SEXTOU, HEIN, MACACADA? Com os gols da virada da Macaca nas quartas de final do @Paulistao 2020, com imagens exclusivas pelas lentes da PonTV! VAMOOOOOSSS! #SomosPontePreta! pic.twitter.com/fe7VOjYRKU
— A. A. Ponte Preta (de ) (@aapp_oficial) July 31, 2020
É a primeira vez na história que o Mirassol chega tão longe. A equipe está concentrada em Sorocaba para disputar esta fase final da competição e tem demonstrado confiança na possibilidade de aprontar outra surpresa. "Como passamos diante do São Paulo, provamos que temos condições de enfrentar o Corinthians. A gente sabe da força do time deles, mas mostramos que no futebol tudo é possível", disse o presidente do clube.
O Mirassol se reconstruiu no seu centro de treinamento. O clube manteve o elenco em quarentena, contratou um chef de cozinha para preparar churrasco e construiu uma quadra de futevôlei para o elenco se distrair nas horas livres. "A saída de jogador nos fez perder a qualidade e o entrosamento, mas as principais dificuldades foram a questão de saúde. Vale um prêmio para o clube, que nos fez se sentir seguros e nos fechou em um centro de treinamento", comentou o técnico Ricardo Catalá.
Na Ponte Preta o poder de mudança durante a pandemia foi ainda mais impressionante. A equipe era a última colocada na classificação geral até a pandemia. O rebaixamento era uma enorme ameaça. Com uma folha salarial de aproximadamente R$ 1,2 milhão, segundo apurou o Estadão, o clube reduziu despesas durante a paralisação e conseguiu retomar o calendário com uma sequência impressionante: foram três vitórias seguidas, a última delas sobre o Santos, por 3 a 1.
"Essa instituição é centenária e guerreira, não perde por antecipação. Estamos com os ânimos renovados, nossa equipe é aguerrida. O valor do nosso grupo é muito grande. É isso que eu passo para eles", disse o técnico João Brigatti após a vitória na Vila Belmiro. Durante a pandemia, o clube ofereceu treinos online e contratou reforços. Fora o quarteto do Mirassol, o time campineiro trouxe o zagueiro Luizão, ex-Santo André.
O presidente do clube, Sebastião Arcanjo, atribui a classificação e a boa retomada de campeonato ao preparo físico dos atletas. Segundo Tiãozinho, como é chamado, houve uma mudança nesse específica e crucial nesse setor. "Analisamos de maneira criteriosa quais estavam sendo nossas vulnerabilidades e um dos pontos que nos chamou a atenção foi o condicionamento físico dos nossos atletas, que estavam perdendo muito o rendimento no início da competição. Então, alteramos nossos departamentos de retaguarda, trocamos preparador físico e nutricionista e trouxemos um especialista em fisiologia", revelou o presidente ao Estadão.
O clube teve cuidado especial também com as finanças. "Seguramos as pontas com muita disciplina orçamentária. Cada centavo que entrava no clube tinha que ser direcionado primeiro para o futebol profissional e manter o máximo das nossas obrigações em dia com nossos funcionários, criando uma corrente pra que os fatores econômicos não fossem um risco adicional para o ambiente do clube", explicou o presidente.