Para jogadores, capacete de beisebol mais seguro pode ser pior
Três semanas depois de absorver com seu capacete de rebatedor o impacto potencialmente mortífero de um arremesso de beisebol feito a 150 km/h, Edgar Gonzalez ainda sente alguma tontura a cada vez que se deita. Gonzalez, jogador de segunda base do San Diego Padres, não voltou a campo desde o incidente. Quando por fim retornar, pode ser que já esteja equipado com um novo sistema de proteção, que no futuro pode definir a aparência que os rebatedores do beisebol profissional terão em campo.
A Rawlings está a ponto de lançar seu mais novo capacete para rebatedores, o modelo S100, muito mais volumoso mas também muito mais resistente, e capaz de resistir ao impacto de uma bola arremessada a 160 km/h, de acordo com a empresa fabricante e com uma organização independente de testes. A maioria dos demais modelos, quando atingidos diretamente por uma bola, sofrem danos se o arremesso registrar velocidades superiores a 110 km/h.
Por mais benéfico que o novo capacete possa se provar, alguns dos jogadores da Major League Baseball não o favorecem e dizem não estar preparados para sacrificar conforto e elegância em troca de proteção adicional. Gonzalez não é um deles. "Depois do que me aconteceu, eu usaria qualquer coisa", afirma. "Não me importa que a aparência seja ridícula, desde que o equipamento ajude a me proteger".
Gonzalez e outros jogadores que optaram por usar o novo modelo podem se tornar pioneiros do esporte como Ron Santo, um dos primeiros jogadores de beisebol a usar um capacete de rebatedor equipado com cobertura para as orelhas, ou como Jacques Platte, o primeiro goleiro de hóquei sobre o gelo a usar uma máscara protetora de rosto em base regular.
Os jogadores de beisebol profissional são um grupo de atletas destemidos e respeitadores das tradições, e para muitos deles qualquer mudança, mesmo em benefício da segurança, é anátema.
"Não, eu com certeza não pretendo usar aquele capacete", disse Jeff Francoeur, jogador do New York Mets, rindo depois de ver um protótipo, como se alguém tivesse pedido a ele que jogasse com uma abóbora na cabeça. "Não me importo com o que as pessoas possam dizer: não vou usar. Tenho certeza de há uma maneira de produzir um capacete que ofereça mais proteção sem todos aqueles acolchoados. Vamos ficar com cara de palhaços se usarmos um capacete assim em campo".
Em uma consulta informal a um pequeno grupo de jogadores de beisebol, diversos disseram que o mais provável é que mantivessem os capacetes atuais, mesmo que o S100 tenha sido comprovado como mais eficiente por meio de testes independentes em laboratório. Aos olhos de alguns jogadores de beisebol profissional, o novo modelo é simplesmente grande demais, pesado demais e tem uma aparência ridícula demais.
"Quero um capacete confortável", diz Nomar Garciaparra, jogador do Oakland Athletics, "e que não seja feio demais".
Mark Teixeira, jogador de primeira base do New York Yankees, disse que o novo capacete o faria sentir que estava usando um capacete de futebol americano, quando estivesse no posto de rebatida.
"O modelo que eu usei durante toda a minha carreira me parece bom o bastante", diz.
Francoeur levou uma bolada no capacete em um arremesso rápido de Brad Penny, nesta temporada e, como ele mesmo diz, "sobrevivi para contar a história". Gonzalez mesmo escapou de uma lesão craniana catastrófica graças à proteção oferecida pelo velho modelo.
David Halstead é diretor técnico do Comitê Operacional Nacional de Padronização de Equipamento Atlético, uma organização independente que estabelece padrões de segurança mínimos para o equipamento usado em esportes. Halstead afirma que a vasta maioria dos capacetes usados pelos jogadores de beisebol profissional não contam com certificação de sua organização porque não estão equipados com proteção acolchoada interna ou com dois protetores de orelhas.
"Os jogadores da Major League Baseball não jogam com capacetes que respeitem as nossas normas de segurança", ele diz. "Para mim, isso é algo de notável. Assim que um jogador opta por jogar sem o protetor de orelha, o capacete não pode mais ser certificado".
Halstead afirma que uma bola arremessada a apenas 50 km/h contra uma cabeça desprotegida "resulta em fratura craniana em virtualmente todos os casos". Assim, o que acontece quando uma bola é arremessada a 145 km/h e atinge um capacete? Usualmente, isso causa muita dor e pode resultar em concussão. Mas casos de fratura são raros.
O motivo é que os jogadores que são atingidos por arremessos dessa força são em geral experientes o bastante para evitar um impacto direto, e para garantir que a bola os atinja apenas resvalando o capacete. Em 24 anos de trabalho com o comitê de segurança, e em sua posição como co-fundador do Southern Impact Research Center, Halstead diz que só viu três fraturas cranianas causadas por arremesso de bolas de beisebol, e duas delas aconteceram em jogos de softball femininos.
A terceira aconteceu nesta temporada, com um jogador das divisões inferiores do Baltimore Orioles. Halstead examinou o capacete do jogador depois do impacto e não encontrou danos estruturais. Segundo o especialista, a maior probabilidade é a de que o capacete não coubesse bem e, quando o jogador se mexeu para escapar ao arremesso, o capacete saiu do lugar e a bola o atingiu diretamente na cabeça.
"Se ele tivesse usando um modelo S100, e do tamanho apropriado, não teria sofrido a fratura craniana", disse Halstead.
O S100, que leva esse nome por foi projetado para resistir a uma bola arremessada a 100 milhas horárias (160 km/h) e a 60 centímetros de distância, conta com uma camada de polipropileno expandido ¿o mesmo material duro e assemelhado a uma espuma utilizado nos capacetes de bicicletas.
O capacete também conta com uma estrutura reforçada e integrada, que o ajuda a manter a forma oval em caso de impacto. Mesmo que os jogadores de beisebol profissional recusem utilizar o novo modelo agora, a Rawlings está apostando na ideia de que as ligas menores, bem como as divisões secundárias e universitárias de basquete, terminem por adotá-lo, o que com o tempo levaria o capacete a encontrar espaço no beisebol profissional, à medida que jogadores que se acostumaram a usá-lo como juvenis chegassem aos grandes times.
"Nossa posição é a de que devemos oferecer o capacete mais seguro do mercado", diz Mike Thompson, vice-presidente de marketing e desenvolvimento de negócios da Rawlings. "Cabe aos jogadores escolher se desejam ou não usá-lo".
Para atender às normas do comitê de segurança, os capacetes precisam resistir ao impacto direto de uma bola de beisebol disparada por um canhão de ar a 60 centímetros de distância e 100 km/h. A maior parte dos capacetes sai amassada de impactos a 110 km/h, mas Halstead recentemente testou o S100 em um laboratório em Knoxville, e ele resistiu a choques a 160 km/h.
Agora, ele faz com que Sean, seu filho de oito anos, use o modelo em seus jogos da liga infantil.
Mas é difícil prever quantos profissionais o adotarão.
"Se oferece mais proteção, sou a favor", disse David Wright, jogador de terceira base do Mets que na semana passada conseguiu se desviar de um arremesso rápido de Brad Thompson que parecia destinado a atingir sua cabeça. "Não me preocupo com estilo ou aparência. Quero manter a cabeça protegida".
Tradução de Paulo Migliacci