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Repetindo 'velha Fifa', Infantino distribui R$ 2,8 bi em bondades a cartolas

Com receita de videogame e 12 dos 20 parceiros vindos da China e da Rússia, entidade que comanda o futebol reverte perdas

13 jun 2018 - 00h01
(atualizado em 19/6/2018 às 17h41)
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MOSCOU - Gianni Infantino assumiu a Fifa em 2016 graças a uma campanha muito parecida a de seus antecessores: distribuir dinheiro aos eleitores e, assim, garantir apoio. Dois anos depois, ele pode dizer que está cumprindo sua promessa com juros e correção monetária.

Nesta quarta-feira, 13, os delegados das 209 federações nacionais receberão documentos em que serão informados dos resultados financeiros da entidade e sobre quanto tem sido distribuído. E certamente vão gostar do que escutarão: em apenas dois anos, Infantino comprometeu US$ 775 milhões a cartolas de todo o mundo, em mais de 1,6 mil projetos para supostamente desenvolver o futebol.

Documentos confidenciais da Fifa obtidos com exclusividade pelo Estado e pelo jornal americano The New York Times revelam que a Copa do Mundo se mostrou resiliente e, apesar da crise de corrupção envolvendo o futebol em 2015, novos parceiros asiáticos voltaram a garantir uma receita recorde. Desde a prisão dos cartolas, em 2015, a perdas chegaram a US$ 997 milhões, um valor inédito.

Infantino, assim, termina seu segundo ano com um lucro líquido na Fifa de US$ 100 milhões, bem abaixo dos US$ 378 milhões na Copa de 2014, no Brasil. Mas pelo menos superando um déficit que se aprofundava a cada ano. Além disso, em reservas estratégicas, a Fifa espera contar com mais de US$ 1,7 bilhão ao final do ano "graças à Copa do Mundo". Os dados foram apresentados no último sábado, 9, em uma reunião a portas fechadas em Moscou.

Das 20 empresas que hoje fazem parte da Fifa, sete são chinesas e cinco delas, russas. Apenas cinco são marcas ocidentais, hesitantes em se associar à entidade. Pequim, que apenas tinha um patrocinador em 2014, agora se transformou em uma espécie de "seguro de vida" da entidade. Se não bastasse, os royalties de videogames com referência à Fifa aumentaram em 223% apenas em 2017, atingindo US$ 160 milhões.

As receitas passaram de US$ 5,7 bilhões em 2014 para US$ 6,1 bilhões em 2018, conforme o Estado já havia revelado. Mas a distribuição de dinheiro aos delegados foi ainda maior.

Entre 2011 e 2014, Blatter distribuiu US$ 1 bilhão a seus membros. Agora, em apenas dois anos, o volume chega a US$ 775 milhões, mesmo com um espaço mais restrito para distribuir dinheiro.

Fontes dentro da entidade garantem que a distribuição de recursos tem uma relação direta com seus planos de garantir, em 2019, uma reeleição. Para isso, porém, precisa mostrar que sua gestão não apenas dá resultado. Mas que o dinheiro está sendo repartido entre aqueles que o apoiam. Exatamente como fazia Joseph Blatter. Exatamente como agia João Havelange.

Prova disso são os projetos aprovados. Dos 1,6 mil iniciativas, mais de 500 delas são destinadas a apoiar os custos de operação das federações nacionais. Ou seja, pagando salários, transporte e até reformas de sedes. O benefício, portanto, é ao cartola. E não necessariamente ao futebol daquele país.

Os documentos também revelam, porém, que delegações mais pobres tiveram problemas em conseguir justificar o pedido de dinheiro, diante das exigências que foram feitas sobre recibos e justificativas.

VOTO

Mas, uma vez mais, o dinheiro estará no centro das atenções em uma votação na Fifa nesta quarta. As 209 federações nacionais escolherão a sede da Copa de 2026. Parte do debate é quem garantirá um retorno maior aos dirigentes.

O argumento financeiro é a cartada principal da candidatura regional entre Estados Unidos, México e Canadá, que promete gerar para a Fifa um total de US$ 11 bilhões em lucros com a Copa. "Será a mais exitosa da história", garante Carlos Cordeiro, presidente da campanha americana.

"Queremos dormir bem", ironizou um aliado americano no Oriente Médio.

Mas o Marrocos, em sua quarta tentativa de sediar a Copa, aposta na política. França, Espanha, Holanda e Luxemburgo deram indicações que o apoiariam, assim como a maioria no continente africano.

Uma reportagem do The New York Times ainda revelou que, nos bastidores, o presidente Donald Trump enviou cartas dando garantias para a Fifa. Mas também mandando um recado às demais federações nacionais de que estaria acompanhando quem votará pelos Estados Unidos e quem votará contra. O tom foi interpretado como uma "ameaça".

De acordo com o jornal americano, o Conselho de Segurança Nacional de Trump entrou em contato com seus aliados pelo mundo, na esperança de pressionar por votos. A campanha envolveu até mesmo Jared Kushner, casado com a filha do presidente, e que teve um papel em conseguir que a família real saudita abandonasse o apoio ao Marrocos, apesar das relações religiosas e culturais.

O Estado apurou que o assunto foi até mesmo colocado na agenda para um eventual debate entre os presidentes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte, em um encontro qualificado de histórico.

Pelas projeções da Fifa, a renda não vai parar de aumentar. Até a Copa de 2022, a receita deve chegar a US$ 6,6 bilhões, US$ 500 milhões a mais do que na Copa de 2018 e US$ 1 bilhão acima de 2014, no Brasil.

Estadão
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