Presidente da Conmebol diz que Libertadores sem brasileiros é 'Tarzan sem Chita'
Vídeo com fala de Alejandro Domínguez a jornalistas gera polêmica entre os brasileiros; dirigente pede desculpas, diz que fez uso de expressão 'popular', e reafirma compromisso da entidade na luta contra a discriminação
?? El 11 de marzo, hace exactamente una semana, Leila Pereira -presidenta de Palmeiras- sugirió que Brasil abandonara la Conmebol y se uniera a Concacaf. ¿La causa? Falta de medidas contra el racismo y exigencia de mayor reconocimiento para los clubes brasileños.
Ante esta… pic.twitter.com/rHryRAfSwB
— Bolavip Argentina (@BolavipAr) March 18, 2025
Uma fala de Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, gerou polêmica no Brasil nesta terça-feira. O dirigente afirmou que a ausência de brasileiros em na Libertadores é algo impossível, como "Tarzan sem Chita". A fala ocorreu após o sorteio dos grupos da competição continental, nesta segunda, na sede da entidade, em Luque, no Paraguai. O vídeo do momento viralizou nas redes sociais (veja acima). Após a repercussão negativa, o chefe da entidade se manifestou.
"Em relação a minhas recentes declarações, quero expressar minhas desculpas. A expressão que utilizei é uma frase popular e jamais tive a intenção de menosprezar nem desqualificar ninguém. A Conmebol Libertadores é impensável sem a participação de clubes dos dez países membros", disse Domínguez, em carta publicada nas redes sociais da Conmebol.
"Sempre promovi o respeito e a inclusão no futebol e na sociedade, valores fundamentais para a Conmebol. Reafirmo meu compromisso de seguir trabalhando por um futebol mais justo, unido e livre de descriminação", concluiu o dirigente
Domínguez usou a expressão ao questionado pelos repórteres na zona mista sobre a sugestão de Leila Pereira, presidente do Palmeiras, de os clubes brasileiros se filiarem à Concacaf em resposta às ações da Conmebol contra o racismo. "Isso seria como Tarzan sem Chita. Impossível", disse Domínguez, em tom descontraído.
O Cerro Porteño foi multado em US$ 50 mil (cerca de R$ 289 mil em conversão direta) e penalizado com portões fechados, medidas que, segundo o Palmeiras fazem a entidade ser "conivente" com as agressões. Além da nota contra a decisão da Conmebol, Leila Pereira se recusou a ir ao sorteio nesta segunda-feira. Paulo Buosi, vice-presidente, representou o clube no Paraguai.
O discurso de Domínguez se referiu à luta contra o racismo e ao caso de Luighi. "Não posso seguir sem falar de racismo. Um problema muito grande que o futebol enfrenta. Gostaria eu também de abordar uma questão que nos desafia. O racismo é um flagelo que não tem origem no futebol, na sociedade. Mas afeta o futebol. A Conmebol é sensível a essa realidade. Como pode não ser? À dor do Luighi", disse o mandatário antes do sorteio.
O discurso foi realizado em português. Esta foi uma forma que o presidente da Conmebol encontrou para se dirigir aos brasileiros, em especial após os movimentos contra a Conmebol e o racismo ao longo da última semana.
Posicionamento do clubes brasileiros
- Palmeiras - Leila Pereira
Quando vi a declaração do presidente Alejandro Domínguez, confesso que custei a acreditar que ela fosse verdadeira. Achei até que pudesse ser um vídeo manipulado por Inteligência Artificial. Aliás, pensando bem, acho que nem mesmo a Inteligência Artificial seria capaz de produzir uma declaração tão desastrosa quanto esta.
Não é possível que, mesmo após o caso de racismo do qual os atletas do Palmeiras foram vítimas no Paraguai, o presidente da Conmebol faça uma comparação abominável como a que ele fez. Parece até uma provocação ao Palmeiras e aos demais clubes brasileiros.
A declaração do presidente Alejandro demonstra, mais uma vez, a dificuldade da Conmebol em compreender o que é racismo. Se as pessoas que comandam o futebol sul-americano nem sequer sabem o que é racismo, como serão capazes de combatê-lo?
O Palmeiras, juntamente com a Libra e a LFU, enviou uma carta à Fifa pedindo providências e apontando a necessidade de penas mais rigorosas em episódios de racismo no futebol. Seguiremos fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance para combater este crime, mas precisamos da ajuda de todos! Os clubes brasileiros são responsáveis pela grande maioria das receitas geradas pela Conmebol e, juntos, têm de se impor para cobrar a aplicação de penas exemplares em casos de racismo. Repito: a impunidade é a semente do próximo crime.
- Grêmio - Alberto Guerra
"Achei lamentável. Depois do que aconteceu no caso Luigi, fazer uma brincadeira jocosa e discriminatória com um assunto tão sério é de uma grande falta de sensibilidade e diz muito do que a instituição pensa sobre este assunto."
- Bahia
O Esporte Clube Bahia SAF lamenta a recente declaração constrangedora do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, sobre uma possível saída dos clubes brasileiros da Conmebol Libertadores.
Enquanto representante da maior cidade negra fora da África, o clube se sente desconfortável com as palavras do dirigente.
Por fim, o Esporte Clube Bahia SAF se coloca à disposição para colaborar com políticas de combate a discriminações no mundo do futebol, a exemplo do que ocorreu recentemente com o atleta Luighi, do Palmeiras, na Libertadores Sub-20.
- Ministérios do Esporte, da Igualdade Racial e das Relações Exteriores
O governo brasileiro repudia, nos mais fortes termos, as declarações do Presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), Alejandro Dominguez, na noite de ontem, 17 de março, em entrevista à imprensa após cerimônia de sorteio da fase de grupos dos torneios promovidos por aquela entidade.
As declarações ocorrem em contexto em que as autoridades da Conmebol têm reiteradamente falhado em adotar providências efetivas para prevenir e evitar a repetição de atos de racismo em partidas por ela organizadas, incluindo medidas para combater a impunidade e promover a responsabilização dos responsáveis.
O governo brasileiro exorta a Conmebol e as Federações Nacionais de Futebol da América do Sul a atuarem decisivamente para coibir e reprimir atos de racismo, discriminação e intolerância, promover políticas de igualdade racial e compartilhar conhecimento e boas práticas para ampliar o acesso de pessoas afrodescendentes, imigrantes e outros grupos vulneráveis ao esporte.
O governo brasileiro reitera seu compromisso com iniciativas de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial, inclusive medidas contra qualquer tipo de discriminação nas diferentes modalidades de esportes.
