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Patrocinador do futebol nos EUA adere à luta das mulheres pela igualdade de pagamento

Procter & Gamble também fez uma doação de R$ 1,9 milhão à associação das jogadoras da seleção

16 jul 2019 - 11h42
(atualizado às 12h09)
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Um dos patrocinadores oficiais de times de futebol dos Estados Unidos se alinhou ao time feminino que venceu a Copa do Mundo em sua luta contra a federação por igualdade de remuneração, pedindo que seu parceiro, o organismo regulamentador para o futebol nos Estados Unidos, "fique do lado certo da história". O patrocinador, Procter & Gamble, declarou seu apoio à igualdade de remuneração em um anúncio de página inteira na edição de domingo do The New York Times.

É o primeiro de mais de uma dezena de parceiros e patrocinadores da equipe a se aliar abertamente à equipe na disputa pela igualdade salarial, e seu apoio pode aumentar a pressão sobre os funcionários da federação às vésperas das discussões de mediação para tentar resolver o problema no processo federal sobre discriminação de gênero.

A Procter & Gamble, que apoia a U.S. Soccer através de sua marca de desodorantes Secret, também disse que estava fazendo uma doação de US$ 529 mil (R$ 1,9 milhão) à associação nacional das jogadoras da seleção feminina, que representa os interesses da equipe em suas transações com a US Soccer. O valor é simbólico, disse a empresa: US$ 23 mil (R$ 86,4 mil) para cada integrante da lista de 23 jogadoras da Copa do Mundo.

"A desigualdade é uma questão que vai além de salários e jogadoras", disse a Procter & Gamble no anúncio. "refere-se a valores."

Todos os patrocinadores do futebol americano apoiaram a equipe desde a vitória por 2 a 0 sobre a Holanda na final da Copa do Mundo. A Nike, por exemplo, lançou um anúncio de 60 segundos, assim que o título ficou garantido em 7 de julho; sua mensagem enfatizava a igualdade para os esportes das mulheres e o apoio ao fortalecimento das mulheres no esporte em geral, mas, ao contrário do Secret, não exigia explicitamente pagamento igual para a equipe feminina.

Megan Rapinoe, uma das capitãs da equipe, ressaltou o poder desse tipo de apoio corporativo em uma participação no domingo de manhã em Meet the Press, e pediu que outras empresas sigam o exemplo. "Essas são algumas das corporações mais poderosas, não apenas no esporte, mas no mundo, e têm tanto peso que podem exercer pressão", disse ela. "E eu acho que eles só precisam se sentir à vontade para fazer isso".

A equipe feminina e o futebol americano participam ativamente da defesa sobre igualdade de remuneração e suporte há anos. Em 2016, a equipe entrou com uma queixa de discriminação salarial na Comissão de Oportunidades Iguais de Trabalho (EEOC), citando dados que, segundo seus advogados, mostravam que as mulheres poderiam chegar a ganhar dezenas de milhares de dólares a menos do que seus colegas homens pelo mesmo trabalho. Um ano depois, após meses de negociações, a equipe e a federação concordaram em um novo acordo coletivo que incluísse melhores salários e condições de trabalho, mas até março deste ano as partes estavam publicamente em desacordo de novo.

Frustradas com a falta de progresso na queixa apresentada à EEOC, as jogadoras pediram para retirá-la, e 28 membros da equipe processaram a US Soccer em um tribunal federal, acusando a federação por "discriminação institucionalizada de gênero" há anos. A discriminação, disse a equipe, afeta não só os seus contracheques, mas também onde elas jogam e com que frequência, o tratamento médico e a qualidade do treinamento que recebem, e até mesmo como elas viajam para os jogos e os hotéis em que ficam.

Embora a Procter & Gamble seja o primeiro patrocinador do futebol americano a entrar diretamente na luta das jogadoras, não é a primeira corporação a assumir um compromisso financeiro com elas. Dias antes da Copa do Mundo, a Visa anunciou um patrocínio de cinco anos que exige que pelo menos metade de seu investimento seja direcionada para a equipe nacional feminina e outros programas para mulheres. E em abril, a fabricante de barras energéticas, Luna Bar, prometeu a cada jogadora que integra a seleção da Copa do Mundo Feminina um bônus de US$ 31,2 mil (R$ 116 mil). Os pagamentos, segundo a Luna Bar, representavam a diferença entre os bônus dos convocados para o Mundial, pagos às equipes de homens e mulheres dos Estados Unidos.

No entanto, mesmo esses bônus destacaram o debate complicado e com delicadas nuances quanto à igualdade de remuneração. Em uma das diferenças mais óbvias, os jogadores das seleções masculina e feminina competem em acordos coletivos separados com a US Soccer. Os homens, que se beneficiam de salários muito mais elevados dos clubes, deram prioridade aos bônus sobre partidas e vitórias junto à federação, enquanto as mulheres, que ainda ganham a maior parte de sua renda em campo pela US Soccer, há muito concordaram em diminuir os bônus da seleção, em troca da segurança de salários garantidos. A maior diferença na compensação pelo sucesso da Copa do Mundo continuam sendo os bônus oferecidos às equipes participantes pela Fifa, entidade que controla o futebol mundial. Esses bônus são mais de 10 vezes mais elevados para as equipes masculinas do que para os times femininos.

O debate sobre igualdade de tratamento para as mulheres no futebol não é novo. Em 2012, ele se impôs na escolha de assentos quando as americanas viajaram no mesmo avião que o time de futebol masculino do Japão para os Jogos Olímpicos de Londres: a equipe feminina, que venceu a Copa do Mundo um ano antes, viajou em classe econômica, os homens foram de executiva. Mas a dinâmica no debate sobre igualdade salarial, impulsionado por vozes poderosas da equipe das mulheres dos EUA, como Rapinoe, Alex Morgan e outros, vem crescendo entre as jogadoras americanas antes mesmo de sua vitória na França.

Na semana em que a equipe conquistou seu segundo título consecutivo na Copa do Mundo, fãs, empresas e políticos correram para apoiar a causa das jogadoras: após a vitória dos Estados Unidos sobre a Holanda, os torcedores entoaram "Equal Pay!" (Salário igual) Dentro do estádio e dias mais tarde a frase foi gritada repetidamente durante o desfile e celebração da vitória da equipe em Nova York.

Em entrevistas, até Rapinoe admitiu que o pagamento era apenas um tipo de igualdade em "uma discussão complexa". Na véspera das conversas de mediação com a US Soccer sobre o processo de discriminação sexual, comentários como o dela, de dar menos ênfase à questão do pagamento, pode ser um sinal de que a preocupação solitária da equipe pode ser um sinal para a federação de que as jogadores não estão apostando em uma posição do tipo "o vencedor leva tudo". No entanto, ter grandes corporações junto aos seus sindicatos só pode ajudar.

"Para as marcas, e especialmente uma marca que também é patrocinadora do futebol americano, apoiar financeiramente e publicamente nossas jogadoras é extremamente significativo e importante", disse Becca Roux, diretora executiva da associação de jogadoras da seleção, no domingo de manhã. "Equidade e paridade salarial são questões sistêmicas que precisam de soluções sistêmicas. Corporações são participantes poderosos e influentes dentro do sistema, que podem estimular uma mudança massiva para melhor." /Tradução de Claudia Bozzo

Estadão
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