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Campeonato Mexicano

Ofensas a Ronaldinho expõem racismo no futebol mexicano

Brasileiro foi chamado de macaco por um ex-funcionário público antes mesmo de estrear pelo Querétaro

4 nov 2014 - 18h00
(atualizado às 18h58)
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O futebol mexicano ganhou um impulso em setembro, quando a ex-estrela da Seleção Brasileira e do Barcelona, Ronaldinho - eleito duas vezes o melhor do mundo -, integrou o modesto clube local Querétaro. O alto astral não durou muito. Antes mesmo dele jogar a primeira partida, o brasileiro foi alvo de um ataque racista - do tipo que se tornou comum com atletas europeus por toda a Europa. O México tem um histórico de racismo em campo, mas era ignorado até a chegada de Ronaldinho.

<p>Ronaldinho posta montagem em seu Twitter oficial anunciando partida pelo Querétaro</p>
Ronaldinho posta montagem em seu Twitter oficial anunciando partida pelo Querétaro
Foto: Twitter / Reprodução

O racismo na Europa geralmente envolve brancos contra negros, mas no México e outras partes da América Latina, onde há miscigenação, pode englobar pessoas de pele mais escura insultando semelhantes.

Carlos Trevino, ex-agente do governo estadual de Querétaro, atacou Ronaldinho no Facebook antes do brasileiro ter jogado sequer uma partida. Ele só tinha chegado na cidade, causando um pequeno pandemônio, quando Trevino explodiu.

"Sério, eu tento ser tolerante, mas odeio futebol e o fenômeno idiota que ele produz", escreveu Travino. "Eu odeio ainda mais porque as pessoas enchem as ruas, o que me fez levar uma eternidade para chegar até a minha casa. E tudo isso para ver um macaco; um brasileiro, mas um macaco mesmo assim".

Após uma onda de críticas, Trevino pediu desculpas ao clube e ao jogador. Mas ele não recebeu nenhuma punição, o que tipifica como os dirigentes do futebol mexicano têm lidado com o problema crescente. Decio de Maria, presidente da Lixa MX - a primeira divisão mexicana - sugere que o racismo não é um problema, apenas um mal-entendido. 

"O México não é um país racista", disse. "Esse é um país onde usamos apelidos. Nas ruas, eles diferenciam as pessoas. Existem profanidades que, quando são ditas, não significam seus significados literais. Chamar alguém por um apelido não é discriminação. Aqueles que cruzam a linha devem ser levados à corte", afirmou de Maria. 

<p>Ronaldinho tem um começo difícil de carreira no Querétaro</p>
Ronaldinho tem um começo difícil de carreira no Querétaro
Foto: Refugio Ruiz/Latin Content / Getty Images

Valeria Berumen, uma funcionária de alto escalão do governo mexicano que trabalha para combater o racismo, diz: "há dois motores que levam a discriminação. Um é o futebol. O outro é a internet. Eles têm a habilidade de espalhar mensagens positivas, mas também podem disseminar discriminação, racismo e xenofobia".

Logo depois do incidente envolvendo Ronaldinho, o colombiano Dorlan Pabón, ex-São Paulo e atualmente do Monterrey, ouviu torcedores chamando-o de "macaco" em uma partida na cidade de Leon. O clube disse que investigaria. Até o fim de outubro, a equipe não anunciou os resultados da investigação.

Lista de incidentes racistas no México está crescendo

Em fevereiro, torcedores do Pumas, na Cidade do México, fizeram barulhos de macaco toda vez que os colombianos Eisner Loboa e Franco Arizala tocavam na bola. Em 2013, o equatoriano Christian Benítez reclamou ter sido alvo de gritos de macaco em uma partida na Cidade do México. Ele estava jogando na época pelo América, outro time grande. Benítez morreu após sofrer um ataque cardíaco meses depois de assinar com o El Jaish, do Catar.

Racismo no futebol também é um problema desagradável fora do México

O Grêmio foi expulso da Copa do Brasil neste anos após torcedores realizarem ofensas racistas ao goleiro Aranha, do Santos. Em uma partida neste ano com mando do Villarreal, o lateral direito brasileiro Daniel Alves, do Barcelona, teve uma banana jogada na sua direção. Ele, que é negro, pegou a fruta, mordeu um pedaço e jogou fora antes de retornar ao jogo.

No início de 2014, a liga mexicana adotou regras definidas pela Fifa. Elas permitem que o árbitro pare a partida se ocorrências racistas acontecerem. Se continuarem, ele pode retirar as equipes de campo por dez minutos. Se os torcedores persistirem nas ofensas, o juiz pode suspender o jogo. Até agora, nenhum árbitro mexicano respeitou estas regras.

Daniel Luduena, meio-campsita argentino do Pumas, disse que o problema era pior em alguns estádios. "Não há racismo em todos os campos do México", afirmou. "O problema é, talvez, em três ou quatro estádios. Mas não há motivo para esperar uma ação extrema antes de agir para acabar com ele", concluiu.

Fonte: AP AP - The Associated Press. Todos os direitos reservados. Este material não pode ser copiado, transmitido, reformado o redistribuido.
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